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21 de agosto, de 2024 | 14:35

Estudo realizado pela UFMG mostra aumento do uso de cigarro eletrônico e narguilé entre adolescentes

Divulgação Ministério da Saúde
Aumento foi de 14,8% entre adolescentes de 13 a 17 anos de escolas públicas e privadas do Brasil Aumento foi de 14,8% entre adolescentes de 13 a 17 anos de escolas públicas e privadas do Brasil

Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Enfermagem da UFMG com dados das edições mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), com adolescentes de 13 a 17 anos de escolas públicas e privadas do Brasil, mostrou aumento de 14,8% no uso de qualquer produto do tabaco, com destaque para os cigarros eletrônicos e narguilé. A novidade foi a estabilidade do consumo do cigarro, ficando em torno de 6,6% em ambas as edições da pesquisa. Isto sugere que o aumento do consumo do tabaco ocorreu devido ao uso do cigarro eletrônico e narguilé entre adolescentes, apontou a universidade.

As maiores prevalências de usar cigarro eletrônico foram entre aqueles que faltaram as aulas sem autorização dos pais (26,8%), que sentiam que ninguém se importava com ele (17,71%), que não tinham amigos (18,61%), que consumiam bebidas alcoólicas (37,7%) , usavam outras drogas (78,89%), que eram fumantes passivos (22,96%) e que tinham pais ou responsáveis fumantes (22,84%). Em contrapartida, as menores prevalências do uso ocorreram entre os adolescentes que tinham supervisão familiar.

A PeNSE é um estudo transversal, realizado em diferentes anos, em que as informações são coletadas mediante um questionário estruturado, autoaplicável respondido pelos escolares por meio de smarthphone sob a supervisão de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Foi realizado um comparativo a partir de perguntas sobre: uso de cigarro nos últimos 30 dias (uso atual), uso de outros produtos do tabaco (com exceção do cigarro) e uso de qualquer dos produtos do tabaco (cigarros de palha ou enrolados a mão, charuto, cachimbo, cigarrilha, cigarro indiano ou bali, narguilé, rapé, fumo de mascar, cigarro eletrônico).

A coordenadora do estudo, professora Deborah Carvalho Malta, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, alerta para o risco do uso do cigarro eletrônico, também conhecido como vape, que tem se popularizado entre os adolescentes e representa sérios riscos à saúde. "O aumento do consumo do tabaco identificado na pesquisa, aponta que a entrada de produtos como o cigarro eletrônico pode comprometer os avanços da política anti-tabaco. O cigarro eletrônico tem sido vendido pela indústria como um produto inofensivo, que pode ajudar a reduzir o uso do tabaco, mas o que temos visto é exatamente o oposto- aumenta o uso do tabaco, e se associa a inúmeros riscos à saúde. Este dispositivo apresenta um perfil tóxico similar ao cigarro convencional, com evidências de que seu uso pode causar doenças pulmonares, como a Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarros Eletrônicos (EVALI), caracterizada por falência respiratória e outros sintomas respiratórios e gastrointestinais. O uso entre pares em festas, tem popularizado este produto, que envolve diversos atrativos como cores, sabores e aromas.

Além disso, há registros de que este dispositivo seja usado não só com nicotina, principal causadora da dependência do tabaco, mas concomitantemente a outras substâncias, como drogas ilícitas”.

A professora também alerta para o uso do narguilé, uma sessão de uso, que em geral dura 60 minutos, pode equivaler ao uso de 100 ou mais cigarros. “O narguilé tem sido um fator para iniciação de jovens ao fumo, dado o seu uso coletivo, além de também utilizar substâncias com sabores que melhoram a aceitação entre os adolescentes. Produtos como narguilé e cigarro eletrônico podem ser o início para fixar o hábito e a dependência do tabagismo”.

Deborah Malta enfatiza, ainda, que a exposição aos fatores de risco para saúde pode ser influenciada por diversas questões que envolvem características individuais e principalmente contextuais e ambientais. A comercialização do cigarro eletrônico, foi proibida em 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e reiterada em 2022, entretanto, são inúmeras as ameaças a estas medidas e tentativas da indústria de mudar o marco regulatório, tornando-se fundamental o posicionamento da sociedade civil. Exemplo disso é que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, que retirou de pauta nesta terça (20), o projeto de lei 5.008/2023 que regulamenta a comercialização dos cigarros eletrônicos. O projeto, que teve a votação adiada outras vezes, propõe regras similares às da comercialização dos cigarros comuns — obrigando que empresas incluam nas embalagens informações sobre os riscos do uso.

“Os novos produtos do tabaco devem ser a grande preocupação atual, e a introdução de novas medidas de regulação desses produtos e a utilização de mensagens claras sobre o seu malefício devem ser uma prioridade dos gestores e dos profissionais de saúde. É necessário avançar nas políticas públicas de proteção social, de fiscalização e de regulação dos produtos do tabaco, além da implementação de políticas intersetoriais para promover a melhoria das condições de vida e de saúde, especialmente entre os adolescentes mais vulneráveis e seus familiares”, conclui Deborah.

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