11 de agosto, de 2024 | 10:30
Canto: um exercício que previne o envelhecimento da voz
Beth Amin *
O professor de canto alemão Alfred Wolfson, falecido em 1962, incansável pesquisador do fenômeno vocal, dizia que ao escutar um aluno, não deveríamos nos ater à voz que sai”, mas às muitas que estão escondidas". É uma declaração muito sábia.O aparelho fonador é extremamente plástico e capaz de um sem número de configurações musculares que se combinam em diferentes resultados sonoros. Se assim não o fosse, não existiriam os imitadores. A voz é o som que nos define e é resultado de uma construção histórica complexa que nasce no nosso primeiro choro e vai se constituindo através da vida, influenciada pelas vozes daqueles com os quais convivemos na mais tenra idade, pela língua que falamos e suas diferentes manifestações nas diferentes regiões do país, pela época em que vivemos etc. até nosso último suspiro. Como fenômeno humano complexo, é estudada em várias áreas do conhecimento: da Filosofia à Medicina, da Música à Linguística e até Matemática e Física. Para o filósofo francês Roland Barthes, a voz antecede e sucede a palavra, dando contornos melódicos que adicionam intenções e emoções àquilo que se articula. A fala, sem a voz, é despida de sentido. A voz, como fenômeno fisiológico envelhece, assim como o resto do corpo.
Músculos ficam mais fracos, articulações mais rígidas, ligamentos menos elásticos, fazendo com que não tenhamos mais a plasticidade vocal de outrora. O processo de envelhecimento pode culminar em voz fraca, de qualidade rouca e soprosa, articulação pobre, lenta e sem energia resultando muitas vezes numa fala ininteligível que dificulta a comunicação. A mesma necessidade que temos de atividades físicas para mantermos qualidade de vida e independência na velhice, é necessária para a manutenção de uma voz que nos represente no mundo.Nos dias de hoje, a solidão é comum entre idosos e traz consigo menos momentos de uso da voz no dia a dia. Essa voz fraca causa impacto negativo no ouvinte, que atribuindo inconscientemente fragilidade ao falante, se desinteressa da comunicação, o que resulta em ainda mais isolamento do idoso.Por outro lado, ouvir a própria voz débil é também impactante para o falante, que muitas vezes, mesmo estando saudável, tem a impressão de fraqueza física, de falta de energia, ou de incapacidade. Esse processo é triste, porque envolve falantes e ouvintes, sendo uma perda para os dois, uma vez que idosos têm rica experiência de vida para compartilhar com os mais jovens e a convivência com estes, por sua vez, torna a vida do idoso mais feliz, mais estimulante e mais saudável.Sabemos que o mundo está envelhecendo e em poucas décadas seremos milhões de idosos habitando o planeta. Políticas públicas se fazem extremamente necessárias, uma vez que teremos muito mais anos da nossa vida como trabalhadores. A voz plena será ainda mais importante!
Um excelente exercício para a manutenção da voz mais clara e mais potente é o canto. É exercício cardiorrespiratório e é também considerado uma musculação” da voz, além de ajudar nas fases iniciais de processos de disfagia (dificuldade na deglutição) que acompanha o envelhecimento.Ter voz física é ter voz política no mundo. Ter voz, é existir e resistir. Voz é vida! Vamos cantar?
* Fonoaudióloga, cantora, compositora e orientadora vocal do Coralusp
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Tião Aranha
11 de agosto, 2024 | 19:55Que dia que povo oprimido tem voz? Nunca! Rs.”