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11 de agosto, de 2024 | 06:00

C'est la fin

Fernando Rocha

A Olimpíada de Paris/2024 termina, neste domingo, deixando um legado de conquistas épicas, exemplos de atletas a serem seguidos por sua perseverança, dedicação e coragem, além de decepções e fracassos que fazem parte do contexto e serão lembrados eternamente.

Para nós, brasileiros, que estamos progredindo, mas não temos tradição de grandes feitos na maioria dos esportes olímpicos, as medalhas conquistadas por Rebeca Andrade na ginástica e Bia Santos no judô são motivos de orgulho, delírio e prato feito para a histeria ufanista trombeteada por locutores e comentaristas esportivos.

O tricampeão mundial de futebol Tostão, que continua sendo craque hoje como colunista esportivo de alguns dos principais órgãos de imprensa do país, escreveu em sua coluna esta semana que “as olimpíadas estimulam também nas pessoas e crianças sensações de que elas só serão felizes se forem vencedoras”.

Tostão foi ainda mais certeiro quando disse que “nesta busca pelo ouro e pelo sucesso, algumas (pessoas) passam dos limites e perder seria um grande fracasso”.

Aos perdedores
Confesso que não interesso pela maioria dos esportes que fazem parte das Olimpíadas, sobretudo aqueles cujos regulamentos me soam estranhos ou pouco conhecidos no nosso dia a dia.

Admiro muito todos os ganhadores, pois sei e reconheço que não é fácil a preparação, abdicar de tantas coisas que uma pessoa normal poderia ou gosta de fazer, durante quatro anos, para conquistar uma medalha e desfrutar de um momento único de glória, algo fantástico para ficar marcado definitivamente em suas vidas.

Mas tenho admiração ainda maior pelos perdedores, pelos que fizeram o mesmo árduo caminho de preparação sonhando com uma medalha, um lugar no podium, mas por um detalhe ou outro acabaram fracassando em seus objetivos.

FIM DE PAPO

Na história do esporte nacional temos muitos exemplos de perdedores que protagonizaram derrotas retumbantes. Mais recentemente, em 2014, na Copa do Mundo disputada aqui no Brasil, a seleção de futebol comandada por Luiz Felipe Scolari foi goleada por 7 a 1 pela Alemanha, na semifinal, no Mineirão. Este é o pior resultado e o maior vexame da nossa seleção, em se tratando de uma partida de futebol, ainda mais em uma Copa do Mundo, competição mais importante desse esporte e da qual detemos o maior número de títulos.

Mas não há dúvida que a maior tragédia, em se tratando de expectativa e resultado, foi o chamado “Maracanazo”, em 1950, quando a seleção brasileira perdeu a decisão da Copa do Mundo para o Uruguai. A decisão final que virou trauma, passados mais de sete décadas, sempre é lembrada. O time canarinho que a memória nacional tratou de execrar. Onze condenados por uma derrota, sendo um dos mais injustiçados, senão o maior, o goleiro do Vasco da Gama, Barbosa, que nos deixou em 2000 e, até o último momento, carregou esse estigma da derrota, por ter falhado no segundo gol marcado por Gigghia, que deu o título aos uruguaios.

Outro que ficou estigmatizado por essa derrota na Copa de 1950 foi o técnico Flávio Costa, que faleceu em 1999. Costa, em vários sentidos, foi muito mais que técnico daquela seleção de 50, era uma espécie de dono do futebol brasileiro daquela época. Tinha mais força do que qualquer membro do alto comando da CBD (futura CBF). Ele não só escalava o time, mas cuidava também do preparo físico, decidia onde os jogadores deveriam se concentrar, controlava pessoalmente seus horários, o que vestir, onde e o que comer. Tirando o médico, ninguém sabia mais do que ele, fosse qual fosse o assunto. Para defender seus pontos de vista, não hesitava, inclusive, em apelar para a força física, e por isso tinha fama de disciplinador.

Em 1985, trinta e cinco anos depois do fatídico 16 de julho, em que, sob o seu comando, a seleção brasileira perdeu de 2 a 1 a final para o Uruguai, diante de 200 mil pessoas presentes no Maracanã, Flávio Costa compareceu, no Rio de Janeiro, à noite de autógrafos do livro “Anatomia de uma derrota”, escrito pelo jornalista Paulo Perdigão, que era seu amigo. Já havia se passado tempo suficiente para que ele olhasse com humor o maior fracasso na história da nossa seleção e de sua carreira de técnico. Ao chegar ao local do evento, foi abordado por uma desinformada repórter de TV: — O senhor é o autor?, perguntou ela. Flávio Costa foi direto na resposta: — Não, eu sou a derrota. (Fecha o pano!)


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