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07 de agosto, de 2024 | 12:00

A Petrobras e os investimentos em combustíveis fósseis: o Brasil é mesmo um País sustentável?

Paulo Feldmann *

Em 2015, quando da assinatura do Acordo de Paris, estabeleceu-se que a meta mais importante seria a de impedir que a temperatura média da Terra aumentasse acima de 1,5ºC até o ano de 2050. Hoje sabemos que esta meta se tornou inviável. O fato positivo é que não mais se questiona o aquecimento do planeta, e há hoje um consenso de que as emissões de CO2 são as principais responsáveis pelas catástrofes climáticas.

O aquecimento global está trazendo impactos à atividade econômica. E, infelizmente, a devastação trazida pelas fortes chuvas ao Rio Grande Sul mostra que o Brasil não está imune. Nos países mais avançados, é cada vez maior a utilização de novas fontes de energia baseadas em recursos renováveis, como solar e eólica, e a eliminação do uso de combustíveis fósseis como petróleo. O Brasil também avançou muito no uso das fontes renováveis. Mas ainda praticamente não usamos veículos elétricos, enquanto na Europa eles já fazem parte do cenário. O carvão é outro vilão que vem sendo abandonado inclusive na China, seu maior usuário.

Mas, evidentemente, há países que não querem enfrentar a mudança e avisam que vão continuar produzindo petróleo. É o caso dos grandes produtores, principalmente Rússia e alguns países árabes. Por razões várias, estes países não se preocupam com o planeta.

A verdade é que as metas de redução das emissões estão cada vez mais difíceis de serem atingidas. Basta verificar que, em 2023, a produção de eletricidade gerada pelos combustíveis fósseis foi a maior da história mundial. No ano do Acordo de Paris, em 2015, a participação da energia elétrica produzida via combustíveis fósseis era de 67% do total. Ela caiu para 61% no ano passado, mas nesse período de oito anos a produção mundial de eletricidade cresceu 23%, muito mais do que era esperado. Ou seja, a velocidade da descarbonização também precisa crescer.

Apesar de muito discurso, premiação de empresas ESG, mercado voluntário de carbono, estímulo aos veículos elétricos etc., o fato concreto é que as emissões de CO2 não estão diminuindo. Isso acarreta o aumento dos estoques de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, o que provoca o aumento da temperatura mundial e as frequentes catástrofes.
“As metas de redução das emissões de CO2 estão cada vez mais difíceis de serem atingidas”


Outra constatação recente é a de que as catástrofes vão acontecer principalmente no Hemisfério Sul e menos no Norte. Esse fato deveria ser suficiente para motivar lideranças brasileiras a exigirem que as nações do Norte sejam mais vigorosas na adoção de medidas contra as emissões de CO2. Inclusive porque o Brasil é um dos países mais bem-dotados do mundo em termos de fontes renováveis e deveria ser um líder brigando pela redução das emissões de CO2.

Mas, infelizmente, não vemos a Petrobras empenhada nessa questão. Pelo contrário, pois agora pretende pesquisar e explorar a Margem Equatorial, o que pode levar a empresa a ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo. É provável que venha a ser uma vitória de Pirro, pois a maioria dos especialistas acha que, em torno de 2035, a oferta de petróleo será muito maior que a demanda e, com isso, os preços do petróleo começarão a despencar de forma irreversível.

Além disso, os argumentos a favor da continuidade dessa exploração também são falsos, pois a alegação de que haverá geração de empregos, exportação e arrecadação de impostos não sobrevive ao fato de que se investirmos em tecnologia e produção de energia renovável nosso êxito nas mesmas variáveis será ainda maior. Simplesmente porque energias renováveis serão a base da economia mundial em algum momento deste século 21, enquanto o petróleo, como dissemos, está com seus dias contados.

O Brasil é um País deveras peculiar: nos fóruns e simpósios internacionais estamos entre os que mais defendem as reduções das emissões de CO2, mas dentro de casa dificultamos o uso do carro elétrico e investimos cada vez mais em petróleo. Será que somos mesmo o País sustentável que apregoamos pelo mundo afora?

* Professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

07 de agosto, 2024 | 13:29

“Apesar de ser um defensor nao praticante da Natureza, para um país com tantas carências sociais, não explorar as nossas riquezas naturais, caso do petróleo da Margem Equatorial e do Pré-Sal, mesmo que seja "uma vitória de Pirro," para mim é um contrassenso, para dizer o mínimo.
Concordo com o meu amigo leitor, o Sr. Tião Aranha: "Nossa esperança está na margem equatorial da Amazônia."”

Tião Aranha

07 de agosto, 2024 | 12:26

“Nossa esperança está na margem equatorial da Amazônia, mas tem que ter cuidado com a poluição ao explorar; mas, trata-se de exploração do petróleo que é um combustível fóssil. Quanto ao carro elétrico, a maioria dos brasileiros rodam no máximo 100 km por dia e esse é 6 vezes mais barato que o carro de motor a combustão. Pra viajar, tem a questão do carregamento das baterias além do fato das cidades serem muito longe umas das outras. Sem falar que as peças do motor elétrico e as peças das baterias são importadas. O motor a hidrogênio será a melhor saída.Rs.”

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