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02 de agosto, de 2024 | 12:00

O triste fim de uma canção de amor

Rodrigo Alves de Carvalho *

Antes de mais nada, permita me apresentar, sou, ou melhor, era uma singela e linda canção de amor. No dia em que nasci, a lua brilhante no céu alumiou o coração de um inspirado compositor romântico e de suas rimas e melodia, surgi numa euforia alucinante de versos apaixonados.

Logo aquela composição simples no violão e voz foi melhor estruturada e eu passei a ser tocada por um conjunto musical: bateria, guitarras, violões, teclado e o belo vocal de uma cantora sertaneja.

Fui gravada num CD de muito sucesso e passei a ser tocada à exaustão nas rádios do Brasil inteiro. O sucesso foi tanto que o primeiro lugar nas paradas chegou em menos de uma semana.

Em shows lotados, em cidades conhecidas e outras que nunca ouvi falar, meu refrão era entoado por milhares de vozes, e no fim das apresentações, coros insaciáveis de bis pediam-me de volta e eu era cantada novamente, para alegria e emoção do público delirante.

O reconhecimento foi tanto que milhões de discos vendidos me laurearam com disco de ouro, disco de platina e disco de diamante.

Uma versão castelhana de minha letra foi composta seguindo “ipsis litteris” o sentido das palavras e em pouco tempo, toda América Latina cantava meus versos harmônicos e românticos. Argentinos, chilenos, porto-riquenhos, mexicanos, enfim, todos se apaixonaram por mim.

Com tanta repercussão não demorou para que uma versão em inglês fosse composta e a partir daí, conquistei o mundo. Foram vários meses no primeiro lugar em dezenas de países e a mais tocada do ano.

Pois então... tudo estava maravilhosamente bem, até que chegaram as eleições municipais.

Essas malditas eleições e uns malditos aproveitadores que pegaram minha melodia e trocaram minha letra por versos desconexos, esdrúxulos e ridículos sobre candidatos tão ridículos e sem noção quanto.

Fui plagiada em vários municípios do Brasil. Agora sou tocada em alto falantes de automóveis e motocicletas sem dó nem piedade (dos ouvintes) pelas ruas das cidades.

É difícil... é muito difícil essa minha sina de canção de amor, pois sei que a partir de agora, muitos me conhecerão como música do candidato fulano ou sicrano, e toda beleza de outrora será esquecida para sempre no limbo de uma campanha eleitoral.

* Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários

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Comentários

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Tião Aranha

03 de agosto, 2024 | 21:11

“Já sei: deve ser música popular brasileira; só não pode ser cantada por esquerdista porque senão fica feia, e todos começamos a balançar, que nem no batuque da convenção dum candidato a prefeito hoje, de Timóteo, pois não tinha a presença do povão. Somente se via correligionários e chefes de legendas partidárias municipais. Mas o palco e a praça é nossa. Todos são nossos convidados! Rs.”

Gildázio Garcia Vitor

03 de agosto, 2024 | 12:46

“Qual é a Música? Quem compôs? Odeio charadas e palavras cruzadas quando não sei a resposta.”

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