28 de julho, de 2024 | 08:00
Profissionais de TI respondem se uma falha na internet seria capaz de parar o mundo
Discussão tomou proporções maiores após um apagão cibernético neste mês paralisar centenas de empresas e serviços mundo afora
José Cruz/Agência Brasil
O apagão global atingiu diversos voos no Brasil no dia 19 de julho, além de interferir nos serviços bancários

A sociedade moderna vive em um estado quase de dependência total da tecnologia fornecida por meio da internet. O mercado financeiro, a comunicação global, aeroportos, sistemas de saúde e segurança são alguns dos exemplos de serviços que poderiam parar se a internet mundial tivesse uma interrupção total ou alguma vulnerabilidade na segurança de dados. Mas qual a possibilidade de o mundo entrar em colapso e quais seriam as precauções a serem tomadas?
No dia 19 de julho, um apagão cibernético global, causado pela empresa de segurança cibernética CrowdStrike, deixou milhares de empresas e pessoas em todo o mundo sem acesso a sistemas operacionais, especialmente o Windows, da Microsoft. Segundo divulgado pela Agência Brasil, uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers, foi a causa do ataque cibernético.
O evento, que ficou conhecido como "apagão cibernético de 2024", prejudicou serviços importantes em todo o mundo, principalmente transporte aéreo, serviços bancários, comércio, serviços de comunicação, dentre outros, impactando milhões de pessoas.
Para o professor Adilson Mendes Ricardo, dos cursos de Engenharia de Computação e Desenvolvimento de Sistemas do Cefet-MG, Campus Timóteo, o episódio expôs a dependência tecnológica da sociedade moderna. Se por um lado melhora a eficiência em diversos setores essenciais como indústria, serviços financeiros, comércio, lazer, educação e saúde, independentemente da localização geográfica, por outro lado essa dependência torna a sociedade subordinada às grandes corporações de Tecnologia da Informação e às vulnerabilidades que acompanham essa dependência tecnológica.
Arquivo pessoal
Professor Adilson Mendes considera que seria improvável uma paralisação dos serviços de forma global e indefinida

O professor do Cefet avalia que a possibilidade de novos eventos como esse acontecerem e atingirem a população mundial está ligada justamente à dependência tecnológica da sociedade moderna, principalmente em relação às chamadas Big Techs, grandes empresas de tecnologia como Google, Microsoft, Amazon, Apple e Facebook/Meta.
"Hoje, a dependência das empresas de tecnologia pode ser comparada à mesma que há em relação a prestadores de serviço de energia elétrica e água potável, por exemplo. As vulnerabilidades de segurança e falhas técnicas que podem ocorrer nessas empresas têm o potencial de causar impactos acentuados em caso de interrupções de serviço. No caso da CrowdStrike, mesmo não sendo considerada uma Big Tech, seu produto está presente em computadores no mundo inteiro, incluindo nos serviços usados pelas próprias Big Techs", detalha Adilson Mendes.
O mundo pode parar?
Adilson Mendes considera que um apagão cibernético global poderia causar interrupções significativas e paralisar temporariamente muitos setores críticos, mas seria improvável parar os serviços de forma global e indefinida. "Os impactos seriam, com certeza, substanciais e envolveriam desde o fornecimento de infraestrutura básica como energia elétrica, água e transporte público, aéreo e de trens, e até, em alguns casos, o rodoviário. A repercussão seria também sobre os serviços que envolvem o mercado financeiro, o comércio, os sistemas de comunicação de uma forma geral, os sistemas governamentais, a saúde, dentre outros", avalia.
Real
Para Talles Quintão Pessoa, professor do curso de Engenharia de Software do Unileste, a possibilidade de uma pane global é real e ocorre porque há uma concentração de soluções de tecnologias em poucos fornecedores globais. "Para exemplificar esse cenário, nos últimos anos, várias empresas migraram os seus serviços para soluções de computação em nuvem, ou seja, em vez de hospedar e manter servidores físicos e infraestrutura local, alocaram recursos de computação sob demanda de empresas como Amazon, com o Amazon Web Services (AWS); Microsoft, com o Azure; e Google, com o Google Cloud. As soluções oferecidas por essas empresas concentram a maioria do mercado, ou seja, uma falha em um desses provedores de computação teria um impacto global, devido à quantidade de usuários que essas empresas possuem", explica.
Arquivo pessoal
Professor Talles Quintão afirma que soluções de computação em nuvem oferecem alta taxa de disponibilidade e confiabilidade

Um alerta para avaliação
No entanto, mesmo com a ocorrência da pane no dia 19, as soluções de computação em nuvem oferecem alta taxa de disponibilidade e confiabilidade, aponta Talles Quintão. "Essas falhas geram alerta, principalmente para serviços e processos críticos que oferecem entregas essenciais à população, como serviços financeiros, de saúde e transporte. Nesse sentido, torna-se crucial avaliar a resiliência e redundância das tecnologias adotadas para esses serviços essenciais", avalia o educador.
Segurança do sistema global
O professor Adilson Mendes menciona que, de uma forma geral, as empresas mantêm serviços de proteção e redundância de dados, normalmente em uma abordagem proativa, visando minimizar os riscos e garantir a recuperação mais rápida. Porém, ressalta a inexistência de um sistema de proteção de dados totalmente seguro.
As principais ações para minimizar os impactos de futuros apagões cibernéticos podem estar em empresas e órgãos governamentais que prestam serviços essenciais à população, na opinião de Talles Quintão. "Esses serviços devem ser contratados de diferentes fornecedores de tecnologia e submetidos a rigorosas rotinas de testes para garantir sua operação em caso de falhas e catástrofes, mitigando assim os impactos negativos na população", argumenta.
Já publicado:
Criminosos usam apagão cibernético para aplicar golpes e coletar dados
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Lucas Araújo
28 de julho, 2024 | 08:37O Talles é um excelente professor. Parabéns.”