17 de julho, de 2024 | 11:00
No Parque Ipanema tinha uma Maria Fumaça...
Antônio Nahas Junior *
O Parque Ipanema, seus recantos, com seu lago, com sua avifauna, com a variedade da sua flora cuidadosamente distribuída em toda sua extensão por Burle Max, que o projetou, é, certamente, um dos lugares mais bonitos e agradáveis que conheço.E por lá ainda há uma parada da Maria Fumaça, que, infelizmente, não está mais ali. Ela chegava apitando - piuiiii piuiiii piuiiii - e fazendo aquele gostoso barulho ritmado das locomotivas antigas, a vapor. Vinha da Estação Pouso de Água Limpa, situada 2,6 quilômetros abaixo, no Novo Centro da cidade.
A estação era chique: possuía bilheteria; plataforma de acesso e até um relógio, para ser bem parecida com as estações de trem antigas. A Maria Fumaça tinha dois vagões de passageiros, cada um transportando 34 pessoas. No parque, ia à "Parada Horto", seguia até o viradouro e voltava para a estação, deixando os passageiros e levando outros, neste charmoso circuito turístico.
A ferrovia tinha planos de expansão: seguir o Ribeirão Ipanema até o distrito de Barra Alegre, encantando toda a cidade com este presente. E o cantor Elomar (2), que veio aqui conhece-la, batizou-a Estrada de Ferro Caminho das Águas, pois iria acompanhar o traçado do Ipanema, injustamente chamado de ribeirão.
Sua instalação tem uma linda história: O engenheiro aposentado da Usiminas, José Mauro Cardoso de Oliveira comprou a locomotiva a vapor 0-6-0, que foi fabricada na Alemanha pouco antes do início da segunda guerra mundial, em 1937, e a emprestou para a Prefeitura de Ipatinga, com um objetivo: Construir um ramal ferroviário urbano, para uso turístico.
O projeto foi encampado pela administração municipal, ainda no século passado (1999), que tratou de construir o ramal ferroviário, adquirindo trilhos da Ferrovia Centro Atlântica e ainda montou dois vagões de passageiros. Rodas e eixos dos vagões foram doados pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que tem inclusive um núcleo estruturado em Ipatinga, cujo diretor administrativo é o engenheiro José Mauro.
E seus números não são modestos: Nos três anos em que funcionou (1999,2000 e 2001), transportou cerca de 37.000 passageiros, apenas nos fins de semana. Compunha atividades lúdicas e educacionais divulgando a história da nossa cidade, que se liga à atividade da Ferrovia Vitória a Minas, construída para transportar minério de ferro. Afinal, somos Ipatinga - Pouso de Água Limpa -.
A ferrovia tinha planos de expansão: seguir o Ribeirão Ipanema até o distrito de Barra Alegre, encantando toda a cidade com este presente”
A ferrovia foi desativada por diversas razões. Houve enchentes, que prejudicaram seus trilhos. E sua manutenção era difícil. Mas a estação, os trilhos e a locomotiva continuam por lá. A estação está bem conservada, embora tenha perdido seu relógio e a Maria Fumaça, soberba, continua na oficina, à espera do momento de voltar à ativa.
Muitas tentativas já foram feitas para reativa-la ao longo dos anos mas, infelizmente, malograram. Seu retorno não deverá ser fácil e sua operação, pelo menos no início será deficitária.
Uma hipótese para sua viabilização seria o envolvimento da iniciativa privada, que poderia opera-la como contrapartida na viabilização de projetos de PPP (Parceria Público Privada) ou Operação Urbana Consorciada, que permitiria requalificar áreas da cidade; implantar infraestrutura urbana, beneficiando-se da flexibilização da Lei de Uso e Ocupação do Solo e executando um Plano Urbanístico flexível.
Enfim, existem diversas alternativas para atrair investimentos da iniciativa privada para projetos multidisciplinares lucrativos que podem viabilizar empreendimentos como este, que encantam a nossa cidade, atraem turistas e melhoram nossa qualidade de vida.
Além do Parque Ipanema ficar mais chique, o empreendimento poderia ajudar na requalificação do centro da cidade, que possui áreas extensas sem uso, equipamentos públicos sem utilização ou manutenção, além de prédios públicos também sem ocupação. Ipatinga merece tê-la de volta.
* Economista, empresário, morador de Ipatinga. Frequentador habitual do Parque Ipanema. (2) Elomar Figueira: compositor, escritor e violonista brasileiro. Amigo do ex-prefeito Chico Ferramenta.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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