13 de junho, de 2024 | 07:00

B, X, Y, Z e A

Ana Rosa Vidigal *


Essa foi a enquete que criei recentemente para um grupo interessado em pensar questões de comunicação, educação e desenvolvimento humano. Entre as alternativas, havia opções de resposta relativas à diferença nas gerações, ao treinamento e desenvolvimento de equipes, ao imediatismo, ao acesso a dispositivos móveis, e mesmo ao acaso, ou seja, a uma situação isolada, que o respondente imaginasse não se repetir em outras ocasiões.

Das opções mais escolhidas na enquete, e que apontam para um resultado incialmente intuitivo, me chamam a atenção tanto de forma quantitativa quanto qualitativa: os possíveis desencontros na comunicação do dia a dia giram em torno de três aspectos – o descompasso de gerações, a falta de formação de equipes que lidam com pessoas, e os novos tempos, em que os processos interacionais de referência são novidade para todos, e condicionam profundamente a forma de nos comunicar, de aprender, de conviver e de ser.

Sobre esses processos – que dizem respeito à maneira como consumimos informação, como nos inserimos no espaço social, como nos relacionamos uns com os outros, como nos divertimos, como resolvemos problemas e como nos vemos, enfim – não temos ainda muito entendimento ou conhecimento colecionado, que nos faz lidar de forma mais sábia com suas consequências.

Claro, recebemos divulgação de pesquisas, estatísticas, percepções, discussões e saberes em circulação, que nos fazem atentar para tantas modificações nos jeitos humanos de ser em sociedades digitalizadas. Mas não temos a extensão exata das mudanças reais que essas modificações nos causam.
“Sugiro tirar os valores universais do bolso, gente, da gaveta, da estante e praticá-los constantemente”


Mudança em cima de mudança, e o fato é: como (sobre)viver desse jeito, se a vida é socialização – é estar com os outros – e os outros, cada vez mais, se tornam tão diferentes da gente?

Não sei, gente. Só sei que li algo muito didático e bastante intrigante sobre tudo isso. E, a meu ver, diz respeito às três opções mais votadas na minha enquete: as gerações, os treinamentos e os novos tempos.

Na leitura, me deparei com o seguinte: a geração da minha mãe (batizada de babyboomers), é diferente da minha, chamada X; que é diferente da minha primogênita, denominada Y, millenials; por sua vez diferente da minha caçula, Z ou centenials. Já pensou?

Imagine agora como um braço da família, predominantemente feminina, se comunicando entre si para tudo: resolver problemas, criar laços, se divertir, compartilhar suas crenças, seus temores, suas alegrias, seus sonhos, suas expectativas – que muito provavelmente não são convergentes.

E mais: em uma perspectiva mundial, 30% da população mundial é composta hoje pelas gerações Y e Z (entre vinte e trinta anos). Isso significa um percentual importante na rede de relacionamentos interpessoais sociais e profissionais que temos. Portanto, é preciso saber lidar com todos.
“Imagine uma situação vivida por você em que a troca comunicativa não atendeu sua expectativa. A que se deve, na sua opinião, o desconforto nessa interlocução?”


Nomear gerações assim pode parecer um modismo, mas vai muito além disso: grandes empresas mapeiam B, X, Y, Z entre seus colaboradores para aprimorar processos, conhecendo-os melhor e adaptando as ações de liderança organizacionais às características de seu público interno. E funciona.

Você vai dizer: mas isso sempre existiu, essa diferença nas gerações, e isso também é um trunfo! Concordo com você: eu mesma já defendi nesta coluna a riqueza e a necessidade da intergeracionalidade. Sim, continuo concordando com você. Mas, cá entre nós, não estaria muito mais diferente hoje em dia, não? Mais trabalhoso, mais desafiador de interagir?

Se observarmos atentamente, veremos isso com evidência. Em uma reunião de família, em grupos no trabalho, na comunicação de todo dia, que foi alvo de minha pergunta inicial. A resposta é sim, estamos lidando com mais complexidade nesse manejo social. Realmente as gerações estão sob efeitos muito divergentes nestes nossos novos tempos. O que fazer?
“Sugiro tirar os valores universais do bolso, gente, da gaveta, da estante e praticá-los constantemente”


Sugiro tirar os valores universais do bolso, gente, da gaveta, da estante e praticá-los constantemente. Ouvir para dizer; atentar para escolher – já tratei sobre isso aqui também. Mais do que nunca, o sucesso nas interações humanas vai depender disto: abraçarmos, com intensidade, adaptabilidade e coração, o ‘alfabeto’ conhecido e hoje revisitado das gerações, seja de B a Z, e reiniciando agora no A (geração Alpha), na idade de 14 anos, que já estão ‘chegando’ para somar.

* Professora, consultora pedagógica, psicopedagoga e jornalista. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC Minas e Université Grenoble III, França. Atua na formação de gestores, professores, famílias, líderes e equipes, ministrando palestras e cursos nos domínios da Educação, da Comunicação e do Socioemocional, suas interfaces nas relações humanas e na construção do vínculo. Publica às quintas-feiras, na Editoria Opinião do Jornal Diário do Aço, temáticas relacionadas ao desenvolvimento humano na vida cotidiana. Instagram: @saberescirculares, email: [email protected]

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Comentários

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Tião Aranha

13 de junho, 2024 | 14:43

“O ser humano é sempre uma possibilidade a mais. Tenho um pé atrás com os que se dizem perfeccionistas, pois ninguém é o dono absoluto da verdade. E lutar com palavras é o artifício mais inócuo.”

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