06 de junho, de 2024 | 11:00

Quando a chikungunya me pegou

Antonio Nahas Junior *


Certa noite, há tres meses, abri uma latinha de cerveja para ver TV antes de dormir. Mas a cerveja não desceu bem...."Engraçado", pensei.. "Cerveja não descer?? O que será que está acontecendo?". A resposta não tardou a vir. No meio da noite acordei meio tonto, com dores no corpo. Tentei andar mas uma dor pungente me impediu de apoiar os pés no chão. Fui de quatro até o banheiro, voltei pra cama e, pelos sintomas, achei que estava com chikungunya.

Com febre, dor no corpo, enjoo, fiquei mais de uma semana de cama, dormindo e me alimentando muito mal até que resolvi ir a um médico. "Repouso. Beba muita água. Se tiver febre, Tilenol", foi a orientação que recebi. Como se isto me adiantasse alguma coisa. A resposta dele revelou o que pude perceber nos meses seguintes: a Medicina ainda tem muito a avançar nas pesquisas sobre chikungunya. E olha, ela foi diagnosticada em 1952 na Tanzânia, país africano que fica na costa oriental daquele continente. Por lá, fez um belo de um estrago, chegando à Índia e outros países.

Seu vírus foi isolado e batizado de CHIKV. O agente infeccioso - Ae. Aegypti e outro mosquito - localizados. O ciclo da doença, seus sintomas e fases - Poliartralgia, Cefaleia, Mialgia, dor nas costas, náusea, vômito, poliartrite, conjuntivite - bem descritos. E até mesmo as manifestações atípicas - sintomas neurológicos, oculares, cardiovasculares, renais, - foram também localizadas. Mas sobre desenvolvimento de vacina e tratamento após a infecção, nada eficaz foi feito.

O CHIKV, que tem até família, Togaviridae, chegou ao Brasil em 2004, quando já se sabia o ciclo da doença e suas consequências sobre o organismo humano. Mesmo assim, aos poucos, fui percebendo o completo desconhecimento da maior parte dos médicos sobre os efeitos desta doença sobre nosso organismo.
“Posso dizer que o vírus chikungunya ainda é um estranho para a ciência. Seus efeitos são imprevisíveis e pouco conhecidos”


De repouso fiquei até que me apareceu uma dorzinha chata do lado direito da barriga. Sem saber o que era, mas preocupado, fui ao Hospital Márcio Cunha, para ser muito bem atendido. Após alguns exames, perguntei à medica que me atendeu: "Doutora, a senhora já me avaliou. Posso ir embora?". E ela respondeu, com carinho e humor: "Seu bobo...hoje você não sai daqui não... vai ser operado. Está com apendicite. Muita gente que teve chikungunya teve isto", disse ela, para minha surpresa. Até então nunca tinha ouvido falar nisso.

Após a operação e tres dias internado, voltei para casa, sentindo dormência no polegar e indicador das duas mãos.
Como estava também com uma dor aguda na região cervical da coluna, fui a um especialista, que me recomendou fazer ressonância da Coluna vertebral. Acreditava também que a dormência nas mãos deveria ser decorrente da dor que sentia.

Exames feitos, tudo ok. Mas a dormência piorava a cada dia e já não conseguia dormir à noite e nem trabalhar. Um amigo médico me recomendou um neurologista. Este sim solicitou exame das mãos e veio o diagnóstico: Síndrome do Túnel Carpo bilateral. Em português: o terminal nervoso que atende as mãos passa por um túnel, o qual se estreita nesta doença, pressionando e lesando a enervação, causando dores e dormência.
“Quem contraiu esta doença nunca pode ter certeza se ela realmente foi embora”


A conselho médico, fui à fisioterapeuta. Ela, amiga, após algumas sessões, honesta e solidária disse que a fisioterapia não estava adiantando nada...... Teria que procurar outra solução. E lá fui eu atrás de um Ortopedista. Resultado: Tive que operar as duas mãos, uma de cada vez, voltando à rotina dos exames pré cirúrgicos; anestesia; internação; medicação pesada, dores e seis meses para recuperação da força e sensibilidade, que ainda estão passando.

Hoje, passados três meses, posso dizer que o vírus causador da chikungunya ainda é um estranho para a ciência. Seus efeitos sobre o nosso organismo são imprevisíveis e pouco conhecidos. Quem contraiu esta doença nunca pode ter certeza se ela realmente foi embora. Os sintomas - dor no corpo, inchaço dos pés -, continuam. E volta e meia, as dores tornam-se mais agudas, como se o vírus estivesse nos avisando que ainda está por aí. Eu mesmo tive que voltar ao hospital várias vezes com dores na lombar. Recentemente, a gota que me perseguia há alguns anos, (inflamação nas articulações decorrente de excesso de ácido úrico no organismo) voltou a me atacar. E, fora o mal-estar, tontura, indisposição e indiferença para o trabalho e para a vida.

O resultado é que os doentes sofrem sem ter orientação sobre o que fazer, ocasionando idas contínuas e muitas vezes inúteis aos postos de saúde. E pior: segundo o Ministério da Saúde, "Indivíduos maiores de 65 anos (infectados com CHIKV) tiveram uma taxa de mortalidade 50 vezes superior quando comparados ao adulto jovem".

Fica aqui minha solidariedade aos "chicungunhados", e também aos "dengados", "zicados" e demais "ados" como eu, que sofreram numa doença desconhecida. E a esperança que a Ciência desenvolva rapidamente vacina e terapias eficazes contra estes males.
“Doentes sofrem sem ter orientação sobre o que fazer, ocasionando idas contínuas e muitas vezes inúteis aos postos de saúde”


Por fim, gostaria de parabenizar o Diário do Aço pela excelente cobertura que vem sendo feita sobre a incidência da dengue, chikungunya, covid, zica e agora a febre oropouche, que estão assolando nossa região. O Jornal tem cumprido seu papel de informar, alertar e ajudar a mobilizar o Vale do Aço na defesa da saúde dos nossos habitantes.

Para quem quiser se informar sobre o CHIKV, sugiro acessar o site: Vírus chikungunya.
Vale a pena.

* Economista, morador de Ipatinga, Diretor-Presidente da NMC Integrativa.

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Comentários

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Maria das Graças Batista Lima

06 de junho, 2024 | 17:22

“Pensei que com a partir do momento que essas doenças de arbovirose , se tornaram tão intensa em nossas cidades e região do Vale do aço, a população se iria se conscientizar, e parar de jogar lixos em locais públicos e indevidos, mas vejo que não aprenderam nada.Nossa cidade parece um lixão a céu aberto, imaginem que, fomos uma primeiros municípios do Brasil , a trabalhar com o aterro sanitário, desde 1990, governo Chico Ferramenta.Temos coleta coletas diárias do lixo em avenidas , e dia sim e dia não em ruas paralelas,porém temos uma população pouco cidadã , porque cidadão não joga lixo em locais públicos.Moramos numa cidade saneada , onde temos quase todo esgoto tratado.Mas infelizmente sua população ainda não aprendeu sobre Meio ambiente e respeito ao próximo.”

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