29 de maio, de 2024 | 11:00
A advocacia não pode ser calada com arma de fogo
Carlos Alberto da Costa *
É de espantar a ousadia dos criminosos, que à luz do dia executaram com 23 tiros o advogado criminalista Pedro Cassimiro Queiroz Mendonça, de 40 anos, nas imediações do Fórum da Comarca de Ibirité. Não foi coisa de amador.
Fica evidenciado que se trata de ação do crime organizado que, por alguma razão, sentiu-se incomodado com o trabalho do advogado. Toda vez que abro o Diário do Aço e vejo comentários de leitores louvando a morte de pessoas em eventuais disputas entre criminosos, logo penso comigo: Perdoe-os senhor, esses ignorantes não sabem o que dizem”. É isso que devemos ter a compreensão. Quando o crime se fortalece, um dia esse crime fortalecido pode chegar à sua porta, ao seu familiar, conhecido ou a quem quer que atravesse o seu caminho.
Não, senhores e senhoras, esse crime da manhã de 27/6 não pode ser considerado apenas mais um”. Por enquanto, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Subseção de Ibirité apenas lamentou a morte do defensor. A seccional também afirmou que acompanhará o caso junto aos familiares de Mendonça, prestando os auxílios que forem necessários. Mas não é só isso o que basta.
Mais absurdo ainda é que um crime seja cometido no centro de uma cidade, e não exista policiamento ostensivo capaz de prender os autores”
O ilustre presidente da OAB-MG disse repudiar "mais um ataque à advocacia", visto que na semana anterior, o ex-delegado e advogado Hudson Maldonado, de 86 anos, morreu após ser atingido por facadas e queimado vivo em Sete Lagoas. Neste caso, o acusado de matar o defensor foi preso e confessou que agiu para se vingar do idoso por um processo disciplinar movido contra ele em 2006.
Agora vem o caso em que um advogado foi literalmente executado à luz do dia, quase em frente a um Fórum e até a tarde de terça-feira (28), não havia informação sobre a prisão de qualquer suspeito. Apenas sabia-se que o veículo usava placa clonada de outro que foi localizado à venda dentro de uma concessionária. Seu sócio e a presidente da subseção da OAB em Ibirité afirmaram que desconhecem processos que tenham gerado embates entre Mendonça e clientes, mas ressalvam que ele vinha fazendo uma série de denúncias contra o sistema prisional.
O caso Maldonado e o caso Mendonça somam-se a vários outros em que advogados foram assassinados em razão de seu trabalho. A advocacia, assim como a imprensa, não pode ser calada nem com fogo, nem com arma de fogo. Esses casos que vitimaram os dois advogados atingem as raias do absurdo, como bem ressaltou o presidente da OAB. Mais absurdo ainda é que um crime desta natureza seja cometido no centro de uma cidade, à luz do dia, e não exista policiamento ostensivo capaz de se mobilizar e prender os autores.
* Professor aposentado
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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