28 de maio, de 2024 | 12:00

Relembrando umas coisinhas...

Nena de Castro *


Não é por causa das guerras, fome e tudo que nós humanos fazemos de errado que tô hoje arretada, incrisiada, zangada, revoltada e tudo quanto é “ada” que não posso escrever aqui, em respeito aos meus cinco preciosos leitores! Minha revolta hoje, legítima e alicerçada nas minhas lembranças foi provocada por um vídeo que vi! Cês acreditam que um cara descobriu um prosaico bicho-de-pé e foi incontinenti a um podólogo? No consultório, tudo esterilizado, algodãozinho, gaze, pozinho, o cara com luvas de borracha, pega um bisturi e começa a raspar a pele, raspa aqui, ali e, ao fim, tira um pedaço de pele com o distinto inteiro, faz um curativo e o sujeito vai embora, todo feliz! Não, essa geração fraca não sabe o que é emoção, medo, pavor, horror! E são tão protegidos que qualquer resfriadinho é um abalo, ara! A gente, que andava mais descalço do que tudo, pisava na terra, chapinhava nas poças formadas pela chuva, amassava lama no “tempo das águas”, dava frieira, pisava em bosta de vaca, cocô de galinha, espinho, pedra afiada, pegava grilo, capturava vaga-lume, fazia arapuca no quintal pra pegar juruti e rolinha (hoje, nem pensar um trem desses, mas na época era “normal”, assim como caçar com seta (estilingue)! E mais um monte de coisas que fazíamos e éramos felizes!

Se a gente pegava bicho de pé, geralmente à noitinha, papai ou dona Inês pegava um espinho de laranja ou a agulha, desinfetavam na chama da lamparina e começavam a esgravatar o miserento. Quando ele estava velho fazia xixi, o desenvergonhado. E lá ia a intrépida agulha e desencavava o bicho que saía inteiro e era queimado ante nossos olhos, ali na “luiz” bruxoleante que nos iluminava. Aí vinha a desinfecção: o senhor João Vieira pegava um torresmim na lata, chegava na chama e quando frigia, encostava no local onde o bicho estivera. A gente, firmemente segura, berrava de dor. Mas no dia seguinte o trem tinha sarado, o buraco fechava lindamente! Antes que Loló Magalhães ou Brunão Salvador perguntem, esclareço que o ‘torremo” usado era dado pro cachorro, visse? Humpf! Para sarar difruço, chá de alho frito na concha sobre a chama do fogão a lenha, ao qual se acrescia café coado. Querer, a gente não queria. Mas o chinelo estava ali pertim, então era melhor engolir, “eles” olhavam se nada sobrara na boca.

Enfrentamos o gosto de pustema de tamanduá com carniça que tinha o ilustre e miserento Emulsão Scott! Tomamos e sobrevivemoS; hoje, o trem vem em sabores ai, que graça tem?

E na época de matar as bichas? (Atenção, assim eram chamadas as lombrigas, nem vem com patrulha, AFE! A filharada reunida, num jejum forçado desde a noite anterior, era obrigada a tomar um trem oleoso com gosto de erva -de santa-maria e depois uma ankilostomina, um comprimido vermelho, ruim pra dedéu que enfiavam numa pedaço de banana pra agente engolir! Não sei causa de quê a gente só ia comer lá pras duas da tarde, talvez pra ajudar as matar as bichinhas e quase desmaiava! Mas as lombrigas saíam! Cobreiro, mamãe “cortava” com galhos de assa-peixe que eram atirados ao fogo!

Então sobrevivemos e tivemos uma infância linda brincando de roda, chicotim queimado, boca de forno, casinha, cozinhadinha, finquim, birosca, futebol de meia, pique- esconde e tanta coisa mais! Por termos passado por tanta coisa, pelo fato de mamãe ter perdido Jeson, Marli e Marília que nasceram antes de mim e se foram por causa doenças infantis, fico extremamente triste quando conheço uma mãe que não vacina a prole, seja por qual causa for! E a minha geração está aí, firme, lutadora, olhando de frente para as dificuldades! E eu, Bugra Chacha Lauár de Castro, sou muito corajosa. Exceto se aparecer uma pererequinha. Rs. E nada mais digo!

* Escritora e encantadora de histórias

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