26 de maio, de 2024 | 09:00

Infiltrações nacionais em verde-oliva

Marli Gonçalves *


Socorro! Atenção! Ocorrem infiltrações de assuntos importantíssimos enquanto estamos compenetrados de olho nas tragédias das enchentes que assolam o Rio Grande do Sul. Envolvem temas caros ao futuro da Nação que pode ser pega distraída e que quando for ver se surpreenderá com um tom verde-oliva. Há agora um assunto passando batido, e é sobre Educação, a base de qualquer desenvolvimento.

Estou chocada. Sentei, arrasada, pensando no horror e desconhecimento que acontece em muitas cabeças, ainda certamente fruto daqueles anos que passamos, na ditadura, e há pouco governado por gente que adora e busca uniformizar tudo, não com o verde das florestas, mas com o verde militar, o verde-oliva de fardas e ordens. Tinha acabado de ouvir a entrevista de uma mãe lá de Taubaté tecendo inacreditáveis loas à tal escola cívico-militar; aliás, tão “boa”, mas tão boa, que justamente ali onde funcionava já foi até cancelado há dez meses. Ela disse textualmente: “os militares ajudam na regra, na conduta, na disciplina”. Vi ali, além do despreparo, da fantasia militar, alguém delegando a educação das crianças. O mais engraçado é que ela avaliou algo de uma criança conhecida, não era seu filho, não ficou claro se os tinha e onde estudavam.

Não pensam em nada que preste para melhorar de verdade a combalida educação nas escolas estaduais, que só piora. Só ideias mirabolantes. Essa semana foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo, debaixo de uma confusão danada, com pancadaria e prisões, o projeto de escolas cívico-militares apresentado pelo governador Tarcísio de Freitas, que sempre tenta agradar ao seu meio político, bolsonaristas de carteirinha. Prevê a contratação de militares aposentados, que inclusive ganhariam mais do que os professores, para a “disciplina nas escolas”. O “bicho-papão”.

Traduzindo: a volta dos temidos bedéis que muitos de nós conhecemos bem e que encaramos em nossa formação no período terrível que passamos por longos anos no século passado. Significa, entre outras, a obrigação de cantar o Hino Nacional todos os dias, entrar e sair em fila. Sim, isso é disciplina para eles. Me arrepio em lembrar da minha adolescência, mesmo que em escola privada éramos obrigados a nos perfilar para cantar o Hino com mãozinha no peito, juntos no pátio. E ai de quem desse um pio!
“A Advocacia Geral da União já disse em parecer ao STF que o modelo das escolas cívico-militares é inconstitucional”


A Advocacia Geral da União, AGU, já disse em parecer ao Supremo Tribunal Federal, STF, que o modelo das escolas cívico-militares é inconstitucional, logo quando consultada sobre o Paraná, justamente de onde vem o atual secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder. Outros Estados, como Minas Gerais e Santa Catarina, aliás, as mantêm, também na desobediência, a qual São Paulo agora – vejam só - pretende aderir. Ano eleitoral realmente sempre nos traz surpresas. Infiltrações.

Esse programa será, acreditem, responsabilidade tanto da Secretaria de Educação, quanto da de Segurança Pública. Pretende atingir escolas públicas de regiões mais carentes onde, digamos, pretendem melhorar a “disciplina” e juram que isso pode aumentar a eficiência do ensino, indo contra o parecer dos mais conceituados estudiosos e especialistas da área, todos absolutamente contrários à sua aplicação seja onde for. Polêmica para mais de metro.

Ah, só para finalizar. O secretário da Educação garante que os militares estarão desarmados. UFA!!!

Estamos vivendo um momento muito difícil no país, ainda dividido, e com o atual governo batendo cabeça em várias direções e em algumas conseguindo o feito de ampliar mais essa maldita e burra divisão. Divisão incentivada com a presença nefasta de uma espécie de espírito do ex-presidente tomando cabeças e corpos, ameaçando a paz e a democracia. Além das constantes ameaças à nossa estabilidade, inteligência e ao futuro das gerações. Sempre tudo pode ficar muito pior quando estamos meio que distraídos, como agora.

* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo. [email protected] / [email protected]

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

26 de maio, 2024 | 14:23

“Após uma releitura mais atenta desse artigo, reli "Para dizer que não falei das flores" e "Noturno do Paraná do Ramos", do Thiago de Mello. Acho que seria bom reler, também, "1964: a Conquista do Estado", de Renê Armand Dreifuss, e "Brasil: Nunca Mais", de Dom Paulo Evaristo Arns.”

Gildázio Garcia Vitor

26 de maio, 2024 | 11:29

“Só para dizer que não falei do Leminski, "Distraídos Venceremos", ou não?!
No Brazilnistão, tudo que é ruim, só tende a piorar. Ainda se desmanchasse no ar, mas aqui, nada é sólido! Nem líquido! É fumaça.”

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