21 de maio, de 2024 | 13:00

De poetas, mancaditas e poesia...

Nena de Castro *


Bom dia, meus fiéis, pacientes e lindos leitores! Eu, Bugra Chachá Lauar de Castro fico roxa de vergonha quando falam que sou poeta. Poeta é Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Manoel de Barros, Affonso Romano de Sant’Anna, Cacaso, Leminski, Vinícius de Moraes, Ana Cristina César, Orides Fontella e muita gente boa mais incluindo as contemporâneas Líria Porto e Márcia Maranhão de Conti. Do charco onde me escondo, gia-cururu insignificante, espio pro céu dos poetas tentando captar sua luz... Hoje quero falar de um certo José Ribamar Ferreira, o maranhense falecido em 2016, mais conhecido como Ferreira Gullar, que foi escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e um dos fundadores do neoconcretismo brasileiro.

Estou certa de que você conhece um dos seus poemas, musicado por Fagner, o TRADUZIR-SE: “uma parte de mim/é todo mundo/ outra parte é ninguém/ fundo sem fundo”. Esse brasileiro, dotado de grande inteligência e vasta cultura tinha uma sensibilidade exacerbada ao tratar as causas sociais. E lutou bravamente contra a ditadura militar, foi preso, torturado, exilado.

Correu o mundo todo e gerou risos o episódio acontecido quando agentes da repressão invadiram sua casa em busca de material subversivo. Nada encontraram até ver o livro no qual Gullar trabalhava, cujo título era: Movimento da Arte Europeia – Do CUBISMO À ARTE NEOCONCRETA – e então ele foi acusado de fazer propaganda da revolução cubana, ignorando os bravos rapazes que Cubismo foi um movimento europeu surgido em 1907 que revolucionou as artes, tendo Picasso como seu maior artista plástico e Apollinaire na Literatura. ( Um poquito de leitura faz muita diferença, rs ajuda a gente a não confundir alhos com bugalhos, oxe!)

Bem, Ferreira Gullar foi um poeta e tanto. E usou a Poesia para expressar toda a sua sensibilidade e preocupação com a injusta situação do povo brasileiro. Veja no poema a seguir, como um fato corriqueiro leva a uma reflexão tão profunda e forte sobre o homem do campo!

O açúcar
O branco açúcar que adoçará meu café /nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim /nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro /e afável ao paladar /como beijo de moça, água na pele, flor
que se dissolve na boca/.Mas este açúcar/ não foi feito por mim.

Este açúcar veio /da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia./Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio/e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana/e veio dos canaviais extensos /que não nascem por acaso /
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital /nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome /aos 27 anos /plantaram e colheram a cana/que viraria açúcar.

Em usinas escuras, homens de vida amarga /e dura
produziram este açúcar /branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
(Ferreira Gullar)

E nada mais ouso dizer a não ser que AMO POESIA! Um abraço pros meus cinco leitores com votos de paz e cantos de crianças, sem enchentes, desastres de trânsito, violência... Au revoir.

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

21 de maio, 2024 | 14:51

“Excelente artigo! Parabéns!
Não dá para falar de Gullar, que muitos, inclusive professores de Literatura, chamam de Goulart, sem citar o "Poema Sujo", uma das grandes criações da Poesia brasileira.
Entre tantas criações, tenho um encanto juvenil, coisas do passado, mais de 50 anos, pelo "Cantiga para não morrer", também musicado pelo Fagner, com o titulo "Me leve"

"Quando você for se embora
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tantas coisas que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento".”

Tião Aranha

21 de maio, 2024 | 14:16

“Bom texto. Ferreira Gullar foi um grande intelectual e escritor, além de critico de artes, e mesmo assim tem muita gente famosa que não o reconhece até hoje seus méritos deste grande artista que foi. Descanse em paz grande poeta!”

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