12 de maio, de 2024 | 07:00

Dupla jornada: a história de mãe solo que exerce os papéis de maternidade e paternidade

Arquivo pessoal
Ester Costa compartilha os desafios diários da maternidadeEster Costa compartilha os desafios diários da maternidade

Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha no ano passado aponta que 55% das mães brasileiras são solteiras, viúvas ou divorciadas. Um outro estudo, esse produzido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), apontou que até o fim de 2022 havia mais de 11 milhões de mães solo no país. Os dados também evidenciam o aumento de 1,7 milhão de mães que criam seus filhos de forma independente no período de 2012 a 2022, saltando de 9,6 milhões para 11,3 milhões.

Entre as mulheres que lidam com a “carreira de mãe solo” e exercem os papéis maternos e paternos está Ester Costa, de 39 anos, moradora do bairro Cidade Nobre, em Ipatinga. Ela é mãe de cinco filhos: João Victor, de 23 anos; Sofia, 14; Pilar, 10; Enzo, 9 e Pedro, 5.

A maternidade de Ester começou logo cedo, na adolescência, aos 15 anos, fruto de seu primeiro casamento. Ainda jovem, aos 22, ela se divorciou do então marido.

“Me casei com um homem muito exemplar, dedicado. Mas eu era ingênua, não tinha sabedoria nenhuma. Era uma criança quando fui mãe, quando peguei o compromisso como dona de casa. Mas eu consegui cumprir o meu propósito como mãe de início. Eu me separei de 22 para 23 anos. E ser mãe solo não foi uma opção, foi acontecendo devido às escolhas erradas que eu fiz. Eu escolhi relacionamentos que não eram para me edificar como mãe, como mulher, como família e assim Deus foi me dando esses presentes”, afirmou se referindo aos filhos como dádivas divinas.

Dos cinco filhos, três moram atualmente com Ester. Sofia, que tem figura paterna presente, Enzo e Pedro. João e Pilar moram com seus respectivos pais.

“Pilar sempre teve muita dificuldade de socializar, de mudar. Ela não gosta muito de mudança nenhuma, seja ela de escola ou pessoal. E eu tive um grande processo com a Pilar, até ela desenvolver a esse ponto que ela chegou. Eu tive vários problemas com a Pilar na escola de início. Ela tinha muita dificuldade de aprendizagem, tinha muito medo. Mas eu sabia que eu precisava focar nela naquele momento porque ia seguir com os outros filhos em um outro lar e ela ia ficar com o pai. Então naquele momento eu fortaleci a Pilar, que precisava disso para viver o que ela está vivendo agora. Inclusive ela sempre ganha como melhor aluna. Ela é um exemplo na classe, ela é muito elogiada pelas professoras. Então entendi que não podia tirar o que tinha edificado na vida dela, que era ter trago essa evolução dela. Ela quis ficar com o pai, mas estamos sempre juntas, conversamos todos os dias por telefone e videochamada”, explicou.

Lado financeiro
Ser mãe solo implica em responsabilidades financeiras, educacionais, além das diversas atividades culturalmente atribuídas à figura da mulher em uma residência e da necessidade de suprir a falta do pai. Ester por muito tempo teve que lidar com todo este processo.

“Ter meus filhos me tornou uma leoa, porque aprendi a trabalhar sozinha”, conta. Ester é design de unhas e trabalha como autônoma, função que exerce há mais de nove anos.

“Mas um dos maiores desafios da minha vida foi sustentar financeiramente o meu lar, porque os pais ajudam, mas a ajuda que dão infelizmente é muito pouca, então isso eu vejo como um desafio muito grande. O financeiro vem agregado ao medo de você não conseguir alimentar o seu filho, vestir o seu filho, dar pra ele as necessidades básicas. Para mim, o grande desafio é suprir as necessidades”, respondeu ao ser perguntada qual o maior desafio de ser mãe solo.

“É muito difícil ser mãe e trabalhar fora. Eu trabalho quase 12 horas por dia, porque como eu sou autônoma. Mas tenho que me dedicar aos filhos também. Eu tenho que fazer almoço, tenho que deixar tudo pronto, entregar o mais novo na topik, ir pro trabalho, voltar, servir almoço pro Enzo, e receber a Sofia, tem que limpar a casa, tem que ensinar fazer dever, tem que trabalhar pra trazer sustento para dentro de casa, tem que se preocupar com o que está acontecendo a volta dos filhos para estar orientando. Não é fácil, mas Deus tem me edificado”, completou.

Divulgação
Marcela Fernanda de Souza, professora de Psicologia do Unileste, fala sobre os desafios duplos de uma mãe soloMarcela Fernanda de Souza, professora de Psicologia do Unileste, fala sobre os desafios duplos de uma mãe solo

Desafios adicionais
Marcela Fernanda de Souza, professora de Psicologia do Unileste, aponta que as mães solo têm sobrecargas a mais.
“Essa pessoa, por concentrar todas as responsabilidades e desafios que é educar, que é criar um outro ser, vai ter aí desafios adicionais. Os próprios desafios relacionados à garantia do pleno desenvolvimento dessa criança. A criança, o adolescente, ele tem direito de se desenvolver plenamente, ter acesso à saúde, educação, esporte, lazer, cultura, isso são direitos constitucionais que são ali fundamentados no Estatuto da Criança e Adolescente. Para uma pessoa só garantir todos esses direitos já implica desafios. Então, uma mãe solo vai ser marcada por uma sobrecarga tanto física quanto uma sobrecarga emocional e psíquica, por estar ali como a principal referência dessa criança”, argumentou a profissional.

Falta paterna
Em relação à falta paterna na vida da criança e adolescente, Marcela destaca que há mais de cinco milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento.

“A função paterna é de transmitir para um filho, para uma criança, para um adolescente, a dimensão da lei. A dimensão, vou dizer assim, desses códigos, desse simbolismo, que é o viver em sociedade. Então começo marcando isso para a gente separar um pouco e pensar que o que pode fazer falta, o que pode afetar, é muito mais a falta dessa função do que necessariamente da figura ali. Porque a função pode ser exercida por outras pessoas”, explicou a psicóloga.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Francisco

12 de maio, 2024 | 08:33

“Minha opinião é que por toda bravura e parabenizar mães que criam seus filhos sem pais, pelo término relacionamento, ou própria opção, e muito triste e LAMENTÁVEL, mas é a sociedade que estamos gerando. O CONCEITO FAMILIA, está mudando, todos perdem, nada substitui o PROVEDOR, na essência da palavra, entendendo que não é só o financeiro, provedor de segurança, emocional, companhia, mas existe um resto que sobrevive e vai formando sua família, com MAE, PAI, FILHOS, equilibrados e felizes.”

Gildázio Garcia Vitor

12 de maio, 2024 | 08:31

“Estando Professor há mais de 41 anos, em Escolas públicas, principalmente em bairros carentes de Coronel Fabriciano e de Ipatinga, tenho muitos exemplos de mães "solos" com o pai dos filhos residindo na mesma moradia. Tem também as vovozinhas "solos", que assumem a maternidade das filhas e filhos.
Um Feliz Dia das Mães para todas as pessoas, inclusive pais e avôs, que cuidam do outro como a gente espera que uma Mãe deveria cuidar.

"Fosse eu Rei do mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
igual grão de milho".
(Drummond)”

Envie seu Comentário