26 de abril, de 2024 | 12:50

Plenitude pessoal e qualidade do entorno

LucianaLayla *


Nesse momento, milhares de adultos saudáveis estão numa posição de subvalorização pessoal, e outros, estão em vias de entrarem nesse estado. Essa limitação dos potenciais próprios e/ou sua ausência, especialmente em adultos, é um estado de vida antinatural. Eu vou adotar o viés da Visão Sistêmica da Vida, considerando a biologia como meu ponto de partida. Para isso, recorro às ideias do neurobiólogo Humberto Maturana que, junto com o biólogo e filósofo Francisco Varela, criou o conceito de autopoiese.

Autopoiese ou autopoiesis, do grego “auto” que significa próprio, a si mesmo, e “poiesis” que é poesia, criação, ou seja, estamos falando da capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Nasceu da observação do funcionamento da célula, que teria dentro de si mesma todos os elementos necessários para que pudesse se reproduzir e se multiplicar, característica exclusiva dos seres vivos. Mas, somente quando surgem condições externas para a emersão à vida, a célula se multiplica, se autoconstrói. Ou seja, através de um fluxo, as matérias primas chegam à célula sendo aproveitadas para manter sua estrutura celular, havendo dependência do meio externo, mas uma dependência da qualidade desse meio.
“Só foi possível nos constituirmos como seres humanos, porque nossa natureza humana veio de uma convivência longínqua de colaboração”


Nesse olhar, toda uma máquina de auto continuação está dentro do ser vivo, necessitando interagir com um ambiente amigável, pegando do ambiente o que lhe falta e transformando-se de dentro para fora. Quando um organismo não exerce a dinâmica da autopoiese, ele morre, não se renova. Quando um organismo não se refaz, ele para, e quando para, não há regeneração, não há vida. Portanto, a autopoiese é um sistema para conservação, auto regulação, estabilização, buscando ordem e resultando em manutenção da vida. Ela está ligada a autocriação a partir de uma interação com o entorno e aqui chegamos à importância do seu entorno social na construção da sua plenitude pessoal.

Considerando esse olhar e fazendo uma retrospectiva, só foi possível nos constituirmos como seres humanos, porque nossa natureza humana veio de uma relação de uma convivência longínqua de colaboração, havendo uma intimidade libidinal que aparece em nosso corpo quentinho, sinuoso, aconchegante e com pelos, um corpo capaz de abraçar um outro ser humano sem machucá-lo, biologicamente constituído de intimidade e colaboração, algo natural em todos nós e necessário para nosso desenvolvimento. E a psicologia humana - nossa constituição psicológica, se interrelaciona com nossa constituição física. Nosso sistema neurológico tem sido construído da afirmação de uma convivência de sucesso, de colaboração, de conexão com o outro. Então, do ponto de vista biológico, a cooperação gera vida, e transpondo essa ideia ao comportamento humano, a colaboração determina a deriva da sua vida, do seu crescimento, e inclusive da sua prosperidade. Isso significa que a qualidade do seu ambiente familiar, da sua rua, da sua vizinhança, do seu bairro, da sua cidade vai, sim, interferir no seu progresso pessoal.
“A colaboração determina a deriva da sua vida, do seu crescimento, e inclusive, da sua prosperidade”


A autopoiese e o fluxo de troca envolvendo materiais saudáveis para o auto crescimento de uma célula viva sugere que ao conviver com pessoas de troca rasa, você estará numa condição de subvalorização de si mesmo, portanto subvalorização da sua vida. Tenderá a não alimentar saudavelmente seus potenciais naturais, suas qualidades e virtudes natas - no aguardo de estímulo externo para você experimentar a autopoiese em sua máxima atividade.

Quando a qualidade do que vem de fora é mediana, ruim ou péssima, você pode morrer jovem - aos 20, 30 ou 40 anos, e ser enterrado somente aos 90, o que significaria trilhar um minguado percurso de vida. No entanto, você pode se refazer a qualquer hora a partir do momento em que mude de ambiente, reveja relações íntimas e sociais, estabeleça limites, defina distanciamentos e aproximações. 40 anos mal vividos podem ser corrigidos em meses, pois você é um ser vivo, um ser da natureza. Revisar o entorno é uma característica natural a favor de todos nós, seres vivos. Viva a consciência autopoiese.

* Psicóloga pela UFMG, pós-graduada em Psicologia Clínica de adultos pela PUC-PR. Utiliza o Design Thinking e a Visão Sistêmica da Natureza para trabalhar a Ecologia Pessoal de seus clientes. Atende 100% on-line, individualmente e em Grupos de Estudo sobre o tema. www.avisaosistemicadavida.com.br

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