25 de fevereiro, de 2024 | 09:00

Saúde da mulher: como os pais podem amparar melhor as adolescentes em processo de crescimento?

Joana Viana *

Todas sabemos que a adolescência é uma fase de mudanças intensas. Somos capazes de nos lembrar de nós mesmas com carinho pela dose de autoconfiança que tivemos que desenvolver e o tanto de desconhecimento que tínhamos sobre a vida pela frente. É possível reconhecer que o que acontece durante a adolescência, seja dor ou alegria, nos marca de uma forma profunda.

Enquanto a adolescente tende a estar insatisfeita com algum aspecto do desconhecimento de quem ela está se tornando, mães e pais se sentem desorientados com as mudanças da filha e também podem se sentir sem recursos para ajudá-la a lidar com possíveis sofrimentos desta fase.

Em geral, a adolescente tem uma relação ambígua com o tempo: ela quer crescer e não quer crescer. Ela está muito ocupada com os assuntos sobre ela mesma, que parecem urgentes e mais importantes do que qualquer outra coisa. Assumir responsabilidades pode ser assustador porque ela não se sente pronta. E, em vários sentidos, ela não está pronta. Por isso, assumir mais responsabilidades na escola e em casa é um processo gradual.

Todas nós sentimos a necessidade de sermos aceitas. Na adolescência, essa necessidade é ainda maior, porque a jovem está se transformando, e a “nova pessoa” requer uma validação. É possível afirmar que é uma fase de grande vulnerabilidade porque uma adolescente tende a se sentir sozinha e, quando está em grupo, é muito influenciada por tudo o que o grupo faz e pensa.

Em comparação com o adolescente, o corpo da adolescente muda de forma mais rápida e ela percebe o quanto que isto muda as relações com os adultos. É muito natural que a adolescente se sinta desconfortável por chamar atenção e olhares e que fique arredia e agressiva por não se reconhecer mais no novo corpo. Ou seja, são muitas emoções e novas conexões que ainda são difíceis de identificar, nomear e expressar.

Hoje, com a informação sobre casos de violência sexual durante a infância e adolescência, é preciso que os cuidadores estejam atentos às emoções das adolescentes sem que os seus medos e anseios impeçam o crescimento saudável da adolescente.

O crescimento saudável é aquele onde há respeito com o ritmo das descobertas da pessoa. A adolescente deve ser incentivada a olhar para si mesma com amorosidade — a mesma amorosidade com que ela cuida de um animal de estimação ou a quem ela possa estimar. Que ela consiga, por alguns momentos preciosos, estimar a si mesma.

Os pais e as mães podem incentivar esse olhar amoroso ao deixar o julgamento de lado. Não se trata de forçosamente elogiar a adolescente, se esta não é a atitude usual. As pessoas devem conviver de forma honesta, mas atentas à situação sensível pela qual a adolescente passa.

Os adultos em geral são muito rápidos no julgamento porque assumem que sabem o que é passar pela adolescência, mas nós não sabemos o que é passar pela adolescência nos dias atuais. Se assumirmos que a comunicação se dê por via dupla, é possível se aproximar um pouco do tempo de hoje, escutar, com curiosidade, o que as adolescentes nos mostram.

É importante trazer atenção para o que a adolescente está querendo comunicar. Repare que as palavras comunicam, o silêncio comunica e o comportamento agressivo também comunica. Comportamentos comunicam algo que quer ser dito, mas pode não encontrar a expressão clara a quem escuta. Antes de reagir, é preciso entender o que está sendo “dito”. Ao reconhecer que um comportamento agressivo pode comunicar alguma insegurança, é válido perguntar à adolescente, com calma e de forma objetiva, nos moldes da Comunicação Não Violenta (CNV), o que a deixa insegura. E aproveitar a chance para afirmar que é possível se sentir segura na sua presença e ter confiança na relação de vocês. Mesmo que ela já saiba, lembretes desse tipo confortam as suas emoções e fortalecem o vínculo na relação e a confiança de que ela pode continuar as suas tentativas, certa de que terá amparo.

“É possível reconhecer que o que acontece durante a
adolescência, seja dor ou alegria, nos marca de uma
forma profunda”


A nossa principal dificuldade com mudanças é a aversão à perda. Porém, toda e qualquer mudança envolve, necessariamente, a perda de algo. A despedida da infância pode ser dolorosa, e todas sabemos disso, principalmente porque essa despedida envolve a forma como as relações foram estabelecidas durante a infância, as transformações do corpo e um olhar para o futuro ainda incerto e inseguro.

As relações sempre nos ensinam um pouco sobre nós mesmas. A nossa dificuldade em nos relacionar com a adolescente pode significar coisas diferentes, mas pode ser que seja o receio de que aquela relação, por tanto tempo cultivada, esteja em risco. Que o carinho e o diálogo serão perdidos.

É difícil e delicado o momento de entender quais são as reais necessidades de quem nós amamos e que vivem em constante transformação. É preciso cuidado e paciência para que as pessoas não se percam, de si mesmas ou do vínculo construído. O que os pais podem oferecer é a escuta e a segurança de que estarão sempre disponíveis para a adolescente, que acolherão a pessoa que ela está se tornando e que se sentem felizes em poder assisti-la.

* Bióloga e pedagoga, autora do livro "Em paz com os ciclos - Uma jornada de autocuidado da menina à mulher", com orientações essenciais para que pais e cuidadores deem um melhor amparo para jovens mulheres

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