18 de fevereiro, de 2024 | 07:30

Psicóloga explica motivo de idosos serem mais vulneráveis a golpes financeiros

Isabelly Quintão - Repórter Diário do Aço
Entre os perigos da terceira idade está a maior possibilidade de uma pessoa ser vítima de crimes de estelionato. Embora essa fase da vida seja sinônimo de maturidade para alguns, ela também pode ser uma armadilha para aqueles que desconhecem alguns aspectos tecnológicos ou até mesmo se sentem sozinhos.

Os golpistas observam na vulnerabilidade emocional dos idosos um gatilho para conseguirem o que querem. É o que explica a psicóloga e neuropsicóloga Solange Alves, que atua na clínica EscutAtiva, em Timóteo.

“Hoje em dia, nós percebemos até mesmo no dia a dia, caminhando pela cidade, que a população está envelhecida, as pessoas estão vivendo mais. Só que nem todo mundo tem qualidade de vida, as pessoas mais velhas estão tendo que ficar sozinhas porque os filhos, poucos ou muitos, cada um tem sua vida para cuidar. Então, acabam não tendo tempo para dar atenção, para estar por perto da pessoa idosa. Logo, elas ficam mais sozinhas, e quando aparece alguém dando atenção e carinho, elas vão se dedicar a essa pessoa”, alega.

Solange também ressalta que os criminosos conseguem analisar o ponto fraco das vítimas. “Atualmente, há muitos idosos que moram sozinhos. Logo, quando a pessoa percebe essa dificuldade e chega para ajudar, o idoso acaba se sentindo acolhido, e também acolhe quem oferece ajuda. A solidão ajuda a ficar mais carente. Portanto, quando aparece alguém para estar próximo e dar atenção, é lógico que a pessoa vai aceitar. Quando um idoso passa o dia inteiro sozinho e não encontra acolhimento na própria família, adota gente de fora”.

Ela ainda enfatiza que os idosos tendem a apresentar uma maior inocência, em especial, quando se trata de mulheres. “Geralmente, a mulher é mais emocional. E a inocência do idoso é por achar que todo mundo é igual a ele, e que não tem maldade. Eles podem achar que todos que se aproximam é para ajudar, e nem sempre é”, aponta a psicóloga.

Um exemplo
A professora aposentada Rita Maria, de 67 anos, conta que já foi vítima de um golpe por estar em uma fase de vulnerabilidade emocional.

“Há alguns anos, conheci um homem pela internet, que se dizia ser estrangeiro e prometia vir para o Brasil para ficar comigo, para casar comigo. Sendo que sou de Timóteo. Disse que estava apaixonado e encantado, e com o passar dos dias, disse que já estava no país e precisava de R$ 5 mil, porque estava na alfândega e precisava passar com joias, brincos, coisas muito caras que daria para mim e que eu iria amar”.

Rita também afirma que quando enviou o dinheiro recebeu elogios e afirmações de amor, e que acabou acreditando em tudo o que o golpista dizia. “Depois disso, ele me pediu mais R$ 3 mil, e eu disse que não tinha. Ele disse que precisava da quantia e me incentivou a pegar emprestado no banco, alegando que iria me pagar quando chegasse no país”, lembra.

Ela ainda conta que se sentiu receosa em tomar essa atitude e afirmou que não poderia fazer isso, o que levou o criminoso a partir para chantagens emocionais. “Ele falou que dessa forma eu iria perder tudo o que ele estava levando para mim, e que iria me fazer feliz, que estava levando coisas caríssimas para mim. E eu apaixonada, fui no banco e peguei os R$ 3 mil. Mostrei a um funcionário do banco o número da conta e o nome da pessoa para que depositasse para mim, e ele me perguntou desconfiado se eu o conhecia. Constrangida, disse que sim, que era um amigo que havia pedido emprestado”, detalha.

Ao todo, foram R$ 8 mil de prejuízo, que foram suficientes para que o criminoso conseguisse o que pretendia, conforme explica Rita. “Assim que enviei o dinheiro, ele saiu de cena e me bloqueou. Quando contei a situação para minha dentista, ela disse que se tratava de uma turma que estava aplicando golpes, e que uma amiga dela já havia até perdido apartamento, casa e carro por conta disso. Me senti muito decepcionada”, conclui.

Apoio
A psicóloga Solange Alves enfatiza que a família pode e deve ajudar nesses casos, de maneira a avisar, resguardar, e proporcionar atenção e carinho.

“A gente percebe que, obviamente, todo mundo tem a sua vida e não é possível destinar toda a atenção somente para o idoso. Mas se ele está sozinho, não tem um cuidador, um companheiro, é importante estar ligando todo dia, visitando para saber se está tudo bem. Até porque as pessoas da terceira idade não têm a mesma maldade que os jovens, bem como não têm as mesmas habilidades e expertises”, finaliza.