10 de fevereiro, de 2024 | 16:00

Samba mineiro começa a virar patrimônio imaterial

Cristiano Machado/Imprensa MG
Governo cria ações pelo reconhecimento do samba mineiroGoverno cria ações pelo reconhecimento do samba mineiro
Em iniciativa inédita, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) formalizaram a assinatura do termo de abertura do processo de registro do samba mineiro como gênero musical. Na mesma ocasião, em Belo Horizonte, na sexta-feira (2/2), foi lançado o “Palácio do Samba”, que funciona neste carnaval no espaço do Palácio da Liberdade, para celebrar o samba mineiro, com apresentações de quatro velhas guardas e rodas de samba, integrando a programação do Carnaval da Liberdade 2024.

Na mesma cerimônia, foi feita uma homenagem a José Luiz Lourenço, o Mestre Conga, de 97 anos, fundador da Escola de Samba Surpresa em 1945, com apenas 18 anos, se tornando uma das principais figuras do carnaval de Belo Horizonte. O pedido de patrimonialização do samba mineiro, inclusive, foi encaminhado pelo Coletivo de Sambistas Mestre Conga, que exalta o legado do homenageado.

“A velha guarda é a guardiã do samba, é o sustentáculo dessa cultura popular de matriz africana. Ter o samba registrado como patrimônio cultural significa a valorização dessa cultura tão rica, é o reconhecimento dessa arte”, declarou Nonato do Samba, um dos coordenadores do Coletivo de Sambistas Mestre Conga, que realizou o pedido de registro do samba como Patrimônio Cultural Imaterial mineiro.

Grupo Simpatia / Divulgação
A velha guarda é guardiã do samba: frutos da comunidadeA velha guarda é guardiã do samba: frutos da comunidade
Nascido Raimundo Nonato da Silva, o sambista de 61 anos tem 43 deles dedicados ao gênero e acredita que o registro vai trazer muitos frutos à comunidade. “Tudo isso vai servir também como salvaguarda para os nossos velhos sambistas. É um reconhecimento da nossa população mineira e brasileira”, complementa Nonato, que também é líder da Velha Guarda Baluarte do Samba, intérprete da Escola de Samba Canto da Alvorada, integrante do Bloco Caricato Por Acaso e mestre da cultura popular pela Secretaria de Cultura de Belo Horizonte.

O presidente da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte, Carlos Roberto da Silva, o Carlinhos Visual, defende que a patrimonialização do samba em Minas Gerais trará benefícios não apenas aos sambistas, mas ao próprio estado. “Isso é muito bom. Vai trazer visibilidade para Minas Gerais no Brasil e no mundo, porque aqui a cultura é muito rica”, comenta o baluarte, de 64 anos, que tomou gosto pelo samba ouvindo as serestas organizadas pelo pai no quintal de casa, na Favela da Serra. “Cada semana era na casa de um amigo. Ele montava uma roda de samba, e eu ficava ali por perto ouvindo. Fui crescendo nesse meio e tomando aquele gosto pelo samba”, lembra.


Importância para a história de Minas

Embora frequentemente associado aos estados da Bahia e do Rio de Janeiro, o samba tem profunda importância para Minas Gerais e o estado tem influência no que se entende como o samba nacional. É o que apontam pesquisas e inventários já realizados até o momento, de acordo com o analista de identificação e pesquisa do Iepha, Bruno Vinicius Leite de Morais.

Arquivo pessoal
Ataulfo Alves, mineiro de Miraí: cânone do sambaAtaulfo Alves, mineiro de Miraí: cânone do samba
“Três dos compositores que são cânones do samba consolidado nos anos 1930 são nascidos em Minas. É o caso do Ari Barroso, natural de Ubá, Geraldo Pereira, nascido em Juiz de Fora, e Ataulfo Alves, que é de Miraí, os três da Zona da Mata mineira”, elenca Bruno Morais, explicando que Ari Barroso e Ataulfo Alves foram para o Rio de Janeiro aos 18 anos, já tendo, portanto, bagagem com o samba antes de chegarem à então capital nacional.

“Pela perspectiva mineira, Ataulfo Alves é o nome mais emblemático. A bibliografia sobre ele aponta que o compositor e intérprete traz uma sonoridade diferente, com caminhos distintivos dentro do samba. E esses caminhos incluem, por exemplo, o uso do canto em resposta pelas pastorinhas, com similaridades na forma de executar, que lembra a Folia de Reis em Minas Gerais”, argumenta.

Esta não é a única singularidade de Minas no fazer do samba, conforme explica a gerente de Patrimônio Cultural Imaterial do Iepha, Nicole Faria Batista. “Quando fomos fazer o inventário cultural das referências do rio São Francisco (que nasce em Minas Gerais), foi encontrado o ‘batuque’, que é um tipo de dança em roda com tambor. É uma dança circular, que lembra uma matriz mais tradicional do samba, e a gente percebe essa relevância dentro de Minas Gerais”, exemplifica.

Ela esclarece que Minas não pleiteia o título de ter criado o samba, mas sim o reconhecimento da importância do ritmo no território. “É o samba aqui, ele ocorre aqui também. É interessante notar que, entre Bahia e Rio, está Minas Gerais. É um lugar de trânsito e de fixação, e os corpos que tradicionalmente fizeram e fazem os congados também fazem o samba”, conclui Nicole Batista.

Processo de registro já em andamento

O pedido de registro do samba como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais já está em andamento no Iepha. Neste primeiro momento, a instituição está se reunindo com detentores e pesquisadores para construir, em conjunto, um formulário de cadastro para que os diversos fazedores de samba em Minas Gerais possam registrar suas expressões culturais.

O formulário será lançado ainda neste semestre e, feito isso, haverá prazo de seis meses a um ano para que os detentores possam realizar os cadastros. “Nossa principal estratégia de divulgação é pelo programa ICMS Patrimônio Cultural, porque os municípios pontuam quando eles cadastram os bens culturais e, depois, têm repasses financeiros. Também divulgamos nas nossas redes sociais, pelas redes e site da Secult, nas Jornadas Técnicas do Patrimônio. São diversas frentes para divulgar esses cadastros, há uma ampla adesão em todo o estado”, conta Nicole Batista.

A pesquisa dura, em média, 18 meses, envolvendo caracterização histórica e antropológica. O Iepha orienta a instituição pesquisadora durante todo o processo e, no ano final, o dossiê será entregue ao Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), para que então seja feito o registro do samba como Patrimônio Cultural Imaterial.
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