08 de fevereiro, de 2024 | 11:00
Opinião: Planejar é mapear indícios
Ana Rosa Vidigal *
Plantas, mapas e cartas. A simbologia desses termos em proximidade de definição me chama a atenção. Qual a real importância de um mapa na vida de todo dia, quando se associa a um planejamento de um feito?
Planejar é mapear indícios. Planificar, em forma de estrutura, os elementos" que vão sendo reunidos e, de algum modo, relacionados. Desde que o mundo é esse mundão nosso conhecido ocidente, oriente, pólos, norte, sul, e meio no equador mapeia-se. Tudo parte de uma construção: registra-se o que se sabe, o que se tem, e, ao longo da trajetória, coleta-se mais dados para compor um quadro cada vez mais amplo, recheado. A visão se estende até onde a vista (não) alcança.
A gestão de informações é algo que nos acompanha pela vida afora na complexidade de ser humano. Pensamento, sentimento, corpo e espírito se amalgamam em um todo arquitetado de memórias, desejos, sonhos, limites, resistências, necessidades e, sobretudo, projeções. Projetamos sobre o que vem adiante, porque a vida é para frente, indubitavelmente.
Projetos, ainda que ínfimos, invadem nosso cotidiano mental, emocional, corporal. Em um constante movimento, nossa dinâmica humana se funda em angariar conhecimentos permanentemente. Precisamos de elementos, que podem ser, a princípio, indícios, hipóteses ou inferências. Ao transformar em dados, esses elementos podem se concretizar ou não como informação; podem ser validados ou não, em alguma situação; e mesmo podem ser úteis ou não, por um momento específico.
Uma baita concatenação, na forma originária de sinapses, por meio dos sentidos, pode ser estimulada e potencializada para esse propósito de viver, fundamentado em dados, de todos nós. Para isso, é necessária uma organização. Daí o mapeamento do planejamento.
E como seria isso? Dito (e feito) de um modo simples, coloca-se tudo à vista, aquilo que já se tem em mãos: elementos, dados, conhecimento. Das ideias todas em exposição, estampa-se uma sequência, um 'alinhamento', uma ordem para um conjunto, uma conexão. O que já fazemos sem nos darmos muito conta disso.
Planejar onde se pisa, como e por que são premissas básicas que compõem a tela, a tessitura, desse nosso mapa”
Planejamos uma viagem de férias, planejamos um dia de rotina, planejamos uma semana e um ano letivo. Arrumadas as gavetas, que é a bagagem que segue conosco, o próximo passo é planejar, justamente, os próximos passos da jornada. E esta é a época propícia para isto: mapear um caminho, um percurso, é um dos movimentos principais que podemos fazer para não projetar em vão. Planejar onde se pisa, como e por que são premissas básicas que compõem a tela, a tessitura, desse nosso mapa.
Todo mundo já viu um filme ou leu um livro de suspense policial. Qual a grande motivação desse tipo de história? Está, justamente, em seguir a narrativa pela sequência de indícios, que vão sendo levantados, apresentados e, pouco a pouco, vão estampando um todo, interconectado. O movimento de moldar-se na produção de sentido, com a finalidade de desvendar um mistério.
Algo desconhecido, encoberto, passos que foram executados e que vão sendo esclarecidos. Tudo é construção de sentido. E, exatamente por isso, planejar já é realizar.
Nesse quesito, vou partilhar aqui um ideal de mapear: fico imaginando se, em uma família, fosse instaurado um mural em algum lugar da casa, em que, partindo de uma intenção o planejamento da viagem das próximas férias, de uma festa ou um projeto pessoal de um de seus membros , todos contribuíssem nesse mapeamento?
E se fosse em uma empresa, um mural colaborativo, com uma finalidade definida, as ideias fossem compartilhadas, interconectadas, enriquecidas, cotidianamente, durante um certo período, para que o conjunto do grupo estivesse genuinamente representado no conjunto do produto?
E na escola? Um planejamento docente pode ser um grande mapeamento de objetivos de aprendizagem, evidências e atividades, alinhados em uma perspectiva didática com intencionalidade pedagógica. Dos próprios professores, ou da instituição, seja em um movimento de percurso individual ou de um segmento, em que colegas possam cooperar concretamente para o mapa uns dos outros, do grupo e da comunidade escolar.
Como em um filme de ação, são múltiplas as possibilidades de construção de mapeamentos. Em diferentes ambientes, domínios do conhecimento e da esfera da atividade humana, mapas apontam pistas, marcos, conquistas. Mapas são cartas. E nada melhor do que imaginar que, ao final de uma planificação, seja possível vislumbrar, em seu desfecho, a cartografia de uma celebração.
* Professora, psicopedagoga e jornalista. Doutora em Língua Portuguesa pela PUC Minas e Université Grenoble III, França. Atua na formação de professores da Educação Básica e do Ensino Superior, e de gestores, líderes e equipes, ministrando palestras e cursos nos domínios da Educação, da Comunicação e do Socioemocional, suas interfaces nas relações humanas e na construção do vínculo.
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Javé do Outro Lado do Mundo
08 de fevereiro, 2024 | 15:43O caminho é por aí: tempestade de ideias seguida de uma planificação. É preciso mudar os paradigmas educacionais. Resta saber se os profissionais da Educação estão mesmo engajados nesse processo de mudança. Temos muita dificuldade em aceitar o novo. Existe o professor e existe tb o mestre. O mestre é aquele que ensina pro professor. Rs.”