02 de fevereiro, de 2024 | 12:00

Opinião: A Fantasia na literatura em tempos de pseudofelicidade programada

Carolina Magaldi *

O primeiro universo ficcional que me forneceu abrigo, coragem e inspiração foi A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga. Ainda hoje reluto em nomeá-lo como um de meus livros preferidos, porque ele representa muito mais do que leitura, fazendo parte da minha história. Aquela narrativa, tão estranhamente familiar, me ajudou a processar conflitos internos, fornecendo um motivo para observar meus próprios passos com mais segurança e alegria.

Essa é a magia da convivência com leituras, principalmente do campo da fantasia. Em seus diversos gêneros e temáticas, a fantasia tem sido, desde sua criação, um espaço para a imaginação, para o escapismo e para possibilidades infinitas. Mas, como essa característica maravilhosa se sustenta quando já vivemos em um mundo de mentirinha?

Entre avatares, filtros, ângulos de selfies, diversão que precisa ser documentada e distração digital, ainda conhecemos o caminho da imaginação? Esse é um desafio global, mas no Brasil, infelizmente, enfrentamos um problema particularmente cruel nessa área.

A formação de leitores no nosso país recebe alguma atenção na fase de alfabetização, chegando ao ápice no volume de leitores entre 11 e 13 anos de idade. Após essa fase, os números se encontram em queda livre, sendo que na meia-idade o volume de não-leitores já supera aquele de leitores, mesmo ocasionais.

“Entre avatares, filtros, ângulos de selfies,
diversão que precisa ser documentada e distração
digital, ainda conhecemos o caminho da imaginação?”


A distração, então, é delegada para as telas, para os mundos de competição por felicidade irreal, por corpos surreais, por relacionamentos que cobrem com glitter as lacunas de silêncio. Com isso, perdemos a chance de sonhar juntos, de torcer pelo sucesso de uma heroína ou de sentirmos a emoção de uma amizade que muda o destino do mundo.

Por isso, é preciso conversar sobre fantasia, levar Aslan, Katniss Everdeen, Leran, Sirius Black, Feyre Archeron, Allania e Aragorn, aaos espaços de bibliotecas públicas, cafés e conversas com colegas e amigos, para salpicarmos de fantástico inspirador um cotidiano de castelos de vidro.

Livros de fantasia não solucionam os problemas do mundo, mas fazem um trabalho extraordinário em nos lembrar que heróis improváveis existem e que eles, como nós, podem fazer toda a diferença.

* Professora de tradução literária (inglês/português) na Universidade Federal de Juiz de Fora, lecionando e orientando no âmbito da graduação, mestrado e doutorado

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Comentários

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Javé do Outro Lado do Mundo

02 de fevereiro, 2024 | 08:56

“A sinceridade dum escritor deve ser pautada na verdade pra só depois ele dar o seu parecer pessoal. Ao passo que o filósofo se baseia nas convenções sociais. Ensina o mestre Olavo de Carvalho. Bom mesmo é gostar de jornalismo e de literatura. Rs.”

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