24 de janeiro, de 2024 | 12:00
Polarização: luta do bem contra o mal
Gaudêncio Torquato *
A polarização tende a acirrar os ânimos eleitorais nos próximos meses. Desde a chegada de Jair Bolsonaro ao assento presidencial no Planalto, em 1º de janeiro de 2019, o radicalismo de posições ganhou volume na esteira das bandas que, há tempos, dividem o país. O lulopetismo, desde a criação do PT em 1980, tem ocupado a parte esquerda do arco ideológico, tendo desfraldado, ao longo de anos, a bandeira vermelha com a estrela que emoldura sua imagem.A ponta direita, por falta de líderes comprometidos com as temáticas em defesa de valores conservadores, principalmente aqueles identificados com a família, permaneceu desocupada. Até começar a abrigar contingentes esparsos, que enrustiam um discurso em favor do golpe militar de 1964. Poucos davam as caras, com pouca disposição de elevar a voz, temerosos de enfrentar a crítica social. Já o meio do traçado ideológico, ao receber e despachar partidos políticos, carimbava o espaço com a grafia de ônibus”, veículo onde viajantes” ingressam em uma estação e pulam fora em outra.
O que faz mal ao espírito democrático é a destruição
visceral de perfis, o ataque pessoal, o radicalismo que produz o ódio”
Tal conformação ficou gravada na consciência nacional. O fato é que a matriz do discurso político em nossos trópicos passou anos a fio sem colar em doutrinas, com exceção de periódicas manifestações do petismo em favor do socialismo, e o recorrente refrão NÓS E ELES”, a dar ideia de que o país possui uma linha divisória entre o Bem e o Mal. Ao contrário do que imaginavam as lideranças do PT, a repartição tão proclamada acabou gerando uma onda antipetista que se espraiou pelo território, obrigando o partido a puxar seu discurso para o centro.
E assim, nos últimos tempos, começamos a ver um PT social-democrata, ao estilo PSDB, buscando apoio dos núcleos centrais, sob a desconfiança da poderosa classe média de que o lulopetismo, encarnado na figura de Luiz Inácio Lula da Silva, manuseia todas as cartas do baralho, dando uma no cravo” e outra na ferradura”. Ou seja, Lula não perde a oportunidade de execrar os grupos que, em sua visão, são responsáveis pelas mazelas nacionais. Mas cultiva o apoio desses setores.
Dentro dessa paisagem, nasceu e se desenvolveu um partido de indignados e revoltados contra a pregação messiânica do pai dos pobres”. Um agregado que reúne antilulistas, antissocialistas, anticomunistas e, de certa forma, polos revoltados contra o status quo. O campo para atração dessa massa à procura de um líder fez florescer o bolsonarismo. O capitão reformado do exército tinha uma das piores imagens da galeria política, eis que espargia ódio contra qualquer perfil identificado com a esquerda”. Chegou a um ponto que, ultrapassando os limites da ética, agrediu uma deputada petista, Maria do Rosário (RS), com a declaração estapafúrdia: não estupro porque você não merece”. Nessa época, era a voz que defendia os anos de chumbo no Parlamento.
Saiu do fundão do plenário na Câmara para a cadeira principal do poder, o assento presidencial no Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro, um militar quase expulso das Forças Armadas, é, pois, fruto da árvore antipetista que floresceu no país. E o que aconteceu no arco ideológico? Os contingentes de direita, ainda com feições meio encobertas, se juntaram aos revoltosos, aos núcleos antipetistas, e passaram a se fazer presentes no cenário institucional. O território das ideias foi ocupado por um discurso conservador. A temática do aborto, a ideologia de gêneros, a educação sexual nas escolas, o armamento da população, a privatização de empresas estatais, entre outras polêmicas, entraram na fogueira do debate.
Queira Deus que o bom senso respingue sobre a
consciência dos cidadãos, aplainando as paixões
e elevando a racionalidade”
Agora, a defesa e o ataque radical de posições de esquerda e direita começam a esquentar o ânimo social. A polarização no plano das ideias até poderia fazer bem por representar o ideal democrático de enfrentamento dos contrários. O que faz mal ao espírito democrático é a destruição visceral de perfis, o ataque pessoal, o radicalismo que produz o ódio, abrindo espaços para a devastação de imagens e identidades. Esse será o escopo do discurso que nos espera.
Ao fundo da paisagem, as correntes eleitorais se atacarão, cada qual vestindo as cores do Bem contra o Mal. Queira Deus que o bom senso respingue sobre a consciência dos cidadãos, aplainando as paixões e elevando a racionalidade.
* Escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Javé do Outro Lado do Mundo
24 de janeiro, 2024 | 20:34Bom texto, está havendo muito cunho político e ideológico nos debates. As pessoas estão misturando muito as coisas. Mas nos diálogos de Platão sobre Socrates a Moral da história da Grécia antiga versava sobre a Política; essa tendência que a pessoa ignorante tem de só fazer o mal. O Dr Enéas tb já dizia isso. Pondé tb. A Política deveria ser tratada com mais respeito pelo povo e pelos políticos. Rs.”