18 de dezembro, de 2023 | 14:53

De dores, compoteira cor-de-rosa e ternas lembranças...

Nena de Castro *


Meio bombardeada, relepada e espandongada pela dengue, aliás, dona chykungunha, preparo-me para escrever minha crônica de Natal. Essa dona Chyka deixa a gente admirada, não pelo berro do gato, mas com todas as desgraceiras que um mosquito, digo, mosquita, injeta na gente! Afeeeeeeeeeeeeeee! A praguinha deixa o corpo “passado” na máquina de moer carne ou socado no pilão, como queiram e tome febre, dores e dores, eitaaa!

Contudo, não vim falar de dores e perdas e sim do Nascimento de um Menino lá pelas bandas do Oriente Médio, num lugar deserto e pobre. Ainda bem que foi outrora, causa de quê se ELE chegasse hoje, morreria cravado de balas de metralhadora ou sucumbiria debaixo dos destroços causados por explosões de bombas e mísseis. Merda, sô, isso lá é crônica natalina, lembrando corpos destruídos, gritos de dor e sangue pra todo lado? Tomo água, abro minha cristaleira e retiro uma compoteira de vidro cor de rosa, que mamãe ganhou ao se casar aos 16 anos. Tanto tempo...

Cuidadosamente, coloco-a sobre a mesa, tiro a tampa rosa e ela brilha, evocando as mais ternas lembranças e tudo volta-me à mente: é Natal e vejo Dona Inês ajudada por minhas irmãs, recheando e fritando frangos com farofa, muita pimenta e cheiro verde, sinto o odor da carne de porco tirada da lata cheia de gordura, das linguiças apanhadas no arame sobre o fogão de lenha, defumadíssimas, arroz branco com cebolinha e tutu bem molinho.

(Suspiro). No café da manhã, a gente já tinha traçado com gosto as rosquinhas, a maravilhosa “Fatia” (um tipo de pão adocicado com gosto de erva-doce), biscoito de polvilho e cavacas portuguesas que ela mesma amassava e assava no forno à lenha no fundo do quintal. Ah, e os doces? O estupendo doce de figo, a geleia de pé de boi, os docinhos de leite em pedaços, sem contar o inigualável “Doce Espuma do Mar”, ensinado pelos padres italianos com os quais convivemos por certo tempo. A gente montava na pequena igreja um presépio de papelão pintado com carvão, pó de mica e grude, e colocava amorosamente os pés de arroz semeados em latinhas, à guisa de mato, o pasto para os boizinhos, vaquinhas e burrinhos. Havia anjos, pastores humildes, e na Manjedoura, ladeado por Maria e José, o MENINO-DEUS nos sorria tão lindamente e a gente chorava de emoção! Éramos pessoas simples de lugarejos mineiros lá no fim do mundo, no entanto nas nossas rezas e festejos havia o verdadeiro AMOR!

Tudo contemplo através do compoteira cor- de- rosa que foi da minha mãe que hoje prepara banquetes no céu, para alegria dos anjos. Ah, quer saber? Nosso Senhor vai nascer na gruta e nenhum filho da mãe terrorista, ditadores, seres (des) humanos desprezíveis conseguirão apagar o milagre do “Verbo que se fez carne e habitou entre nós”. E como escreveu Isaías, 9:6, “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado e o governo está sobre seus ombros. E Ele será chamado Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai eterno, Principe da paz”. Ele é tudo isso e muito mais, quem fez o mundo virar essa bagunça, fomos nós! É nisso que acredito! Pois a luz mais brilhante da estrela ainda brilha menos que o MENINO-DEUS em seu amor infinito! FELIZ NATAL, meus amados cinco leitores! Au revoir.

* Historiadora e contadora de histórias
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Comentários

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Javé do Outro Lado do Mundo

18 de dezembro, 2023 | 22:00

“Bom texto da velha Bugra - faz a gente viajar no tempo - mas o apaziguamento total do espírito, o Sartre estava certo-, só mesmo na outra vida. Aproveitar tudo de bom que a vida oferece sempre foi um grande desafio. Felizes os não diabéticos. Rs”

Javé do Outro Lado do Mundo

18 de dezembro, 2023 | 21:48

“Quem gosta de doces, certamente não é diabético. Quem é, tem que compensar tal desejo com algum outro tipo de guloseima. Mas foi muito bom o texto reflexivo da velha Bugra sobre a agitação do ano que ora finda. Só que tá demorando muito pra terminar.Temos que valorizar tudo de bom que a vida oferece agora segundo o existencialismo de Sartre. Depois que formos, é só esperar o afinal para o apaziguamento definitivo do espírito. Cada filósofo tem um significado especial para a morte. Mas viemos ao mundo sem saber de nada, e vamos voltar sem nada saber. Tem gente que pensa que sabe tudo. (Não sabe nada). Rs.”

Gildázio Garcia Vitor

18 de dezembro, 2023 | 16:40

“Nunca tive uma compoteira para me trazer doces lembranças. Pego a sua emprestada para lembrar, também, dos doces de cascas de laranjas, de mamão com rapadura, de leite cremoso e de cidras, que a minha Vó Nega fazia, lá nas roças de Orizânia, e guardava em brilhantes latas de querosene Jacaré.
Obrigado Bugra Velha! Feliz Natal!”

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