13 de dezembro, de 2023 | 12:00

Opinião: O aço da china e o silêncio de Zema

Antonio Nahas Junior *

Chama atenção neste jogo de pressões e contrapressões, envolvendo a luta pela sobrevivência da siderurgia brasileira e mineira, o silêncio do nosso governador. Afinal, Minas Gerais, além de Estado minerador, sedia a Usiminas; Aperam; Arcelor Mital; Gerdau e um grande parque produtor de ferro gusa, que representa quase 20% do PIB industrial do Estado.

Não estamos falando do posicionamento político do governador, mas na sua omissão na defesa dos interesses do Estado. O Instituto Aço Brasil divulga dados que demonstram o impacto negativo das importações de produtos semiacabados de aço na produção siderúrgica brasileira. Considera o baixo preço do aço chinês importado como uma oferta predatória, que não cobre o custo de produção deste insumo. Ou seja: os chineses estariam exportando aço a este preço para desestruturar nossa indústria e, posteriormente, impor suas próprias regras.

O setor reivindica do Governo Federal a elevação da alíquota dos atuais 9,6% para 25% (vinte e cinco por cento), mesmo patamar praticado pelos EUA, México, Reino Unido e União Europeia.

As siderúrgicas também fazem pressão: anunciam retração dos investimentos e a Usiminas anunciou a paralisação do alto-forno 1. E o Governo do Estado simplesmente silencia. Isto não é postura de um Estadista, mas daqueles políticos que só se preocupam com seus interesses.

No nível do Governo Federal, o assunto vem sendo tratado pelo vice-governador Alckmin, que também é Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Um grande homem. Mas, como não poderia deixar de ser, seu olhar é regional. É paulistano.

“O setor reivindica do Governo Federal a elevação
da alíquota dos atuais 9,6% para 25% (vinte e cinco por cento),
mesmo patamar praticado pelos EUA, México, Reino Unido e União Europeia”


A polêmica opõe então dois lados: num extremo, a siderurgia brasileira e, no outro, os setores industriais que se beneficiam do baixo preço do aço importado da China. Alegam que a elevação das alíquotas elevará o preço de diversos produtos, acarretando inflação e retração da demanda interna. Como arbitrar conflitos de interesse desta natureza? Quem tem razão?

Este é o papel do Estado e o que se espera do Governo Lula: que seja traçada uma política de desenvolvimento industrial sólida, de longo prazo, que reconstrua nossa indústria; que a fortaleça, que aumente nossa competitividade e que inclua a política fiscal; cambial; creditícia.

É o que necessita a indústria brasileira para que saia da sua agonia atual. E para que não vivamos correndo atrás do prejuízo, resolvendo problemas apenas quando estes se tornam crises, já tendo causado prejuízos sem conta ao país.
Industria verde - Certamente, uma vertente para o fortalecimento do setor indústria seria a sua progressiva transição tecnológica na busca de soluções que viabilizem a transição energética, para deter a elevação da temperatura global, como foi debatido na COP 28. O Brasil possui vantagens comparativas importantes - fontes de energia limpa; importantes reservas florestais - e pode se tornar líder desta nova vertente.

A siderurgia brasileira já está abrindo caminho nesta direção, como faz a Usiminas. No seu relatório enviado ao CDP (Carbon Disclousure Protocol), a empresa identifica oportunidades nesta área e relata que "Ao investir na produção de aço de baixo carbono, a empresa poderá acessar novos mercados e se posicionar como protagonista em uma nova ordem econômica voltada para a sustentabilidade. O aço é um produto nobre e versátil o suficiente para ser utilizado no desenvolvimento de produtos, tecnologias e equipamentos necessários para a descarbonização de outros setores da economia. Além disso, o Brasil possui uma matriz energética limpa com potencial de evolução no uso de energias renováveis nos próximos anos, o que é um fator diferenciador e benéfico para a produção de aço de baixo carbono no país."

E mais adiante: "a empresa já vem trabalhando no desenvolvimento de aços mais eficientes e de alto valor tecnológico, com potencial aplicação no mercado de usinas fotovoltaicas (aço Usi Solar) e aços com alta resistência mecânica e espessura reduzida voltados ao mercado automotivo, que trazem benefícios ambientais ao permitir a fabricação de veículos mais leves, com menor índice de emissão de gases de efeito estufa."

Trata-se de uma vertente importante, que poderá diferenciar e dar qualidade ao debate travado que analisamos. Seria prudente que a siderurgia conferisse celeridade à descarbonização da sua produção e abreviasse o prazo de previsto para seu término (2050) para datas mais realistas, e diminuir em ritmo mais acelerado as emissões de carbono no seu processo de produção e na sua cadeia de fornecedores e clientes.

Os números apresentados estão bem elevados. Desta forma suas reivindicações ganhariam força e poderiam sensibilizar tanto políticos à altura do seu cargo, quanto setores da sociedade interessados na defesa do nosso planeta. Quanto ao Zema, bem, melhor deixar os fatos falarem por si só....

* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria

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Comentários

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José Carlos Viana

15 de dezembro, 2023 | 11:38

“Não seria o "silêncio do governo federal" ?”

Marcos Ortega

14 de dezembro, 2023 | 14:32

“Temos que nos reinventar. Chorar pra que??. Vamos fazer de nossa indústria siderúrgica exemplo de sustentabilidade.”

Gildázio Garcia Vitor

13 de dezembro, 2023 | 12:43

“Em primeiro lugar, o que a China vem praticando no comércio internacional, não só com o aço e nem só com o Brasil, é dumping, por isso, os EUA, a UE e até o México taxam em 25% as importações desse produto. Em segundo, temos que ter muita diplomacia para negociar com a China qualquer elevação nas tarifas alfandegárias, afinal, o país está se tornando o nosso maior parceiro comercial, principalmente na aquisição de commodities. E em terceiro, o ZemaNé, que está preocupado com o pleito de 2026, gosta mesmo é de aumentar os impostos estaduais para a população e dar benefícios fiscais para a elite empresarial.”

Javé do Outro Lado do Mundo

13 de dezembro, 2023 | 10:22

“Produzir sem poluir. O gargalo tá na produção. Depois que o mandatário principal pegou pro lado dos líderes asiáticos, China e Rússia deu no que deu. Agora é só esperar mais quatro anos pra uma nova eleição. Até lá Zema já é presidente. Os ministros do Lula não falam com pobres. Rs.”

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