26 de novembro, de 2023 | 13:00
Os programas de inclusão digital da pessoa idosa ainda são insuficientes; é necessário investimento urgente
Meire Cachioni *
A revolução tecnológica transformou drasticamente a vida de todos. Alterou não apenas as formas de produção, como o modo de comunicação e convívio social, entre outros. Mesmo após o dramático episódio da Pandemia, o Brasil ainda não possui políticas públicas para incluir a população idosa que vive à margem da era digital.
Muitos são os documentos que mencionam a importância da inclusão da pessoa idosa, como o Estatuto do Idoso, que prevê no Art. 21. que o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados” ou Envelhecimento Ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade” (2015), que indica a promoção da inclusão digital por meio do acesso à Internet e do treinamento como uma forma de facilitar a participação de pessoas que foram excluídas da vida cívica”. No entanto, a inclusão digital da pessoa idosa ainda está limitada a pequenas ações pontuais como oficinas específicas em centros culturais ou espaços abertos para o público em geral, como os Telecentros.
De fato, essas estratégias estão longe de garantir o direito ao acesso às tecnologias de informação e comunicação, uma vez que não se dedicam especificamente ao processo de ensino-aprendizagem voltado à pessoa idosa e, nem tão pouco, à alfabetização e letramento digital. Atuam na resolução de problemas ou em situações específicas para o interessado, sem a preocupação em explicar como solucioná-lo, mas fazendo por ele.
O acesso à informação é uma das bases da democracia. Estar excluído digitalmente, em pleno no século XXI, é estar excluído da sociedade. Nesse contexto, torna-se imprescindível uma mudança e o governo sabe disso. É fundamental que políticas sejam criadas e se adaptem às necessidades das pessoas idosas, em constante mudança, com projetos que incluam a sociedade em geral.
Algumas iniciativas que desempenham um papel importante na promoção da inclusão digital da pessoa idosa, oferecendo capacitação, na tentativa de diminuir a lacuna digital, são as criadas a partir de parcerias entre instituições sem fins lucrativos, governo e empresas. Para superar muitos desafios nesta área é necessário um esforço conjunto. O Fundo Municipal do Idoso FMDI - possibilita o financiamento de projetos para assegurar os direitos da pessoa idosa, com recursos de empresas que podem ser deduzidos do Imposto de Renda.
O FMID tem ajudado nas iniciativas de inclusão digital dos 60+, que necessitam de investimentos em equipamentos e em profissionais qualificados e aptos ao trabalho com alunos mais velhos, que entendam que o processo de ensino-aprendizagem nessa faixa etária é diferente. Além disso, é necessário um ambiente adequado, iluminado, acessível, facilitador e amigável, de preferência, com oportunidades de convívio intergeracional.
Estar excluído digitalmente, em pleno no século XXI,
é estar excluído da sociedade”
São inúmeros os estudos dos resultados, impactos e os efeitos de Programas de Inclusão Digital na Performance Cognitiva de pessoas idosas, inclusive desenvolvidos pela USP Universidade de São Paulo, que observam o uso da tecnologia e seus benefícios à vida psíquica, física e social das pessoas idosas, a partir das interações sociais, praticidade em tarefas e atividades cotidianas. A literatura científica, nacional e internacional, têm publicado iniciativas com os resultados positivos na prevenção de possíveis doenças, como a depressão.
Esse tipo de iniciativa de fato, não beneficia apenas o aprendente, mas todo o seu entorno e contexto familiar. O letramento digital e a educação midiática promovem maior autonomia e independência, o que libera a família de muitos afazeres.
Outro aspecto importante também precisa ser observado. Conforme a Pesquisa Nacional Por Amostra em Domicílio - PNAD Contínua, quase 60% de pessoas idosas acessam a internet, um aumento de 12,7% de 2019 para 2021. No entanto, ter acesso ou possuir um equipamento/dispositivo não significa ser letrado ou usar a tecnologia de modo crítico. O PNAD mensura se houve acesso pelo participante da pesquisa e o que foi acessado, mas não indica como foi esse acesso ou se foi realizado de forma segura e consciente.
A evolução tem ocorrido em partes - tecnicamente existe mais oferta de acesso, porém vivemos em uma bolha tecnológica. As pessoas que mais têm acesso digital são ainda as mais estudadas e com melhor situação socioeconômica. Fora da bolha, mesmo aqui na cidade de São Paulo, nos territórios mais distantes do centro, encontramos pessoas idosas que não têm celular ou que não sabem utilizá-lo.
Por todos esses motivos, é importante que empresas fiquem atentas aos melhores projetos do FMID. E, até Dezembro deste ano (só até dezembro), quando acontece o período de direcionamento do Imposto de Renda para utilização em Fundos Públicos, elas poderão selecionar um desses projetos.
Investir em programas para pessoas idosas é uma necessidade crescente, e as empresas desempenham um papel significativo para ajudar a atender a essa demanda social, que promoverá um grande impacto na comunidade. Dessa forma, as empresas demonstram um compromisso com a Responsabilidade Social, o que fortalece a sua imagem, mostra sua preocupação com questões sociais e com o bem-estar da comunidade, além de alavancar a sua marca junto aos consumidores, funcionários e investidores.
* Professora Associada da Universidade de São Paulo (USP)
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