22 de outubro, de 2023 | 00:01

100 anos de Fernando Sabino

Legado de escritor inspira exposições e roteiro de viagens

Arquivo pessoal Bernardo Sabino
Autor é celebrado no ''Ano Fernando Sabino''Autor é celebrado no ''Ano Fernando Sabino''
No ano em que se comemora o centenário de nascimento do autor belo-horizontino, celebrado no dia 12 de outubro, o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, e o Instituto Fernando Sabino conceberam o “Ano Fernando Sabino”, com programação iniciada neste mês e que se estenderá até outubro de 2024.

O objetivo é promover o legado do escritor, o qual inspira exposições, em cartaz até dezembro na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, entre outras ações, como oficinas, bate-papos e espetáculos, e também uma nova rota cultural de viagem, desenhada pelos jornalistas Gloria Cavaggioni e Wanderley Garcia, com 11 cidades mineiras relacionadas à vida e à obra de Sabino.

O Ano Fernando Sabino é um desdobramento do “Minas Literária”, programa estadual que busca incentivar a leitura e fortalecer a cadeia produtiva do livro, gerando emprego e renda nos segmentos da economia da criatividade.
Em seus escritos, Fernando Sabino (1923-2004) incorporou diversas memórias de juventude e infância, todas elas relacionadas a Minas Gerais, sua terra natal. Revisitar seus contos e romances, suas novelas e crônicas, portanto, é reconhecer as paisagens, os costumes e a cozinha típica do estado que reverberam nos textos e atraem leitores de várias gerações.

Arquivo pessoal Bernardo Sabino
Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Murilo Rubião e Hélio Pellegrino em BH: ''cavalheiros do apocalipse''Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Murilo Rubião e Hélio Pellegrino em BH: ''cavalheiros do apocalipse''
Mostras especiais
Uma das exposições é “O Encontro Marcado na Hemeroteca Histórica: 100 anos de Fernando Sabino”, montada no terceiro andar da Biblioteca Pública Estadual, localizada na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Nessa mostra, são apresentados jornais e revistas históricos que trazem reportagens sobre o escritor.

A segunda exposição, “Encontro Marcado com Fernando Sabino”, pode ser visitada no Hall das Coleções Especiais, localizado no segundo andar do edifício da Biblioteca Estadual. A coleção traz livros autografados pelo artista multifacetado, que também foi diretor de cinema, jornalista, baterista de jazz e até nadador. As duas mostras ficam até 29 de dezembro, coroando as atividades de 2023.

O diretor do Livro Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secult, Lucas Amorim, destaca a importância de inaugurar o “Ano Fernando Sabino” na Praça da Liberdade, local onde o escritor morou por muitos anos e que tem forte presença em seus textos. Era nos bancos de lá que Sabino e os amigos - Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, os “quatro cavalheiros do apocalipse” - conversavam sobre angústias e questões existenciais, hábito retratado no clássico “O Encontro Marcado”.

Filho do homenageado e presidente do Instituto Fernando Sabino, Bernardo Sabino se diz feliz com as celebrações. “É muito bom ver meu pai sendo homenageado pelo trabalho literário que desenvolveu. Fico muito feliz de o Governo de Minas dar esse reconhecimento, que dá continuidade ao seu legado e incentiva o gosto pela literatura nas novas gerações”, declara Bernardo, quem defende a literatura como forma de desenvolvimento do país.

Da Janela/Divulgação
O casal de jornalistas visitou 11 cidades na expediçãoO casal de jornalistas visitou 11 cidades na expedição
Expedição literária
A importância de incentivar e difundir o legado literário do mineiro Sabino é inestimável. E o casal de jornalistas Glória Cavaggioni e Wanderley Garcia sabe muito bem disso. Seguindo a trilha do próprio Sabino e do personagem Geraldo Viramundo, protagonista de “O Grande Mentecapto”, a dupla percorreu 11 cidades mineiras na expedição literária “Caminhos Fernando Sabino”, em um roteiro que funde vida e obra do escritor.

Entre este mês e novembro, a dupla vai compartilhar no blog “Da Janela” (dajanela.com.br) e nas redes sociais fotos, vídeos e relatos dessa expedição literária. Além disso, ambos estão confirmados para participar da 4ª Feira Literária de Tiradentes (FLITI), que vai homenagear Fernando Sabino, de 25 a 29 de outubro.

“A expedição teve início em Belo Horizonte, que é onde tudo começa, porque é onde Sabino nasceu. Em Belo Horizonte, encontramos muitos lugares que têm a ver tanto com a vida do autor quanto com seus escritos. A Praça da Liberdade, por exemplo, é o lugar onde ficava a casa de Fernando Sabino (onde hoje é o prédio da Universidade Estadual de Minas Gerais). Lá também está o Palácio da Liberdade, onde ele se casou, pois seu primeiro casamento foi com a filha do governador à época. Ele passou a noite de núpcias no palácio”, conta Glória.

Da capital mineira, o casal seguiu os passos do personagem Geraldo Viramundo e foi parar em Rio Acima, onde “nasceu” o protagonista de “O Grande Mentecapto”. “É muito bacana ir até essas cidades e encontrar os elementos que estão descritos no romance do Fernando Sabino”, declara Wanderley, que, juntamente com sua companheira de viagem, passou também pelas cidades de Leopoldina, Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Tiradentes, São João del-Rei, Santa Bárbara, Catas Altas e Barbacena, onde se encontrou com Bernardo Sabino para trocar figurinhas sobre a vida do escritor.

Da Janela/Divulgação
Casa do avô Nicola Sabino ainda resiste em LeopoldinaCasa do avô Nicola Sabino ainda resiste em Leopoldina
“Nós fazíamos a relação do que Fernando Sabino viveu com o que ele contou em sua obra. Em Leopoldina, isso fica muito fácil de ver. É a cidade onde nasceram os pais dele, e ainda tem a casa de seu avô italiano, Nicola Sabino. A história da cidade tem muita relação com os imigrantes italianos, e isso repercute em sua obra. O famoso doce de manga de Leopoldina aparece no ‘O Grande Mentecapto’. E uma tia do Fernando Sabino era doceira. Então a gente começa a ligar vida, obra e história da cidade”, relata Glória. “A gente foi conhecendo a riqueza e a variedade da cultura mineira. O ser mineiro, os sotaques, que variam de um lugar para o outro, as comidas, os costumes. É um passeio não só pelo personagem e pelo Fernando Sabino, mas pelas histórias das cidades em si”, complementa.

Paulista de Piracicaba, a jornalista não esconde seu amor por Minas Gerais, terra de Wanderley. “Geraldo Viramundo passeia e apronta em Minas todinha. É interessante que ele passa por inúmeras cidades, mas ele nunca sai de Minas Gerais. A gente adoraria conhecer todas, mas, infelizmente, não tivemos perna para isso”, lamenta Gloria, para quem as referências presentes nos livros de Sabino não esgotam o interesse pelos lugares, mas sofisticam. “Existem o valor histórico, o valor arquitetônico, o cultural, que não deixamos de observar nas cidades. Mas elas ganham novas nuances como se estivéssemos olhando através das lentes de Sabino”, explica.

Nascido em Itamogi, no Sul de Minas Gerais, Wanderley Garcia concorda com a companheira. Para ele, a expedição serviu para aumentar ainda mais o amor pela literatura e pelo estado. “É interessante ler um livro, imaginar o lugar que está sendo descrito, e depois ir visitá-lo. Dá vontade de reler aquele livro e de ler outras histórias”, conta Wanderley, que considera Minas Gerais um lugar privilegiado para esse tipo de expedição.

“Minas é um estado extremamente rico em escritores. Em cada lugar que a gente vai, acabamos encontrando outros autores”, resume, adiantando que o casal fará nova expedição inspirada em outro mineiro. “Teremos mais uma viagem literária por Minas logo, logo. No final de outubro, vamos para Itabira conhecer a terra onde nasceu Carlos Drummond de Andrade”, finaliza. (Com Agência Minas)
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Comentários

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Tião Aranha

20 de outubro, 2023 | 16:34

“Fernando Sabino era um eterno contador de histórias. Falava de vários assuntos diferentes durante quatro horas, sem repetir uma única palavra. Faltou falar que ele foi amigo pessoal tb de Drummond e Neruda. Tinha muita humildade e uma mente brilhante. Algo incomum. Tínhamos algo em comum: eu tb frequentava diariamente a praça da Liberdade; só que eu ia somente na Biblioteca pública. Risos.”

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