
21 de outubro, de 2023 | 13:00
Opinião: Pensamento intrusivo e paradoxos
Viviane Ribeiro Gago (*)
Começo este artigo com um pensamento intrusivo, ou seja, aquele pensamento que surge sem a nossa vontade e simplesmente se intromete no meio dos outros pensamentos; e também com sentimento e até emoções muito bem retratados em uma música que ouvia na adolescência, Nada sei dessa vida” (grupo musical Kid Abelha), cujo refrão diz: Vivo sem saber / Nunca soube, nada saberei / Sigo sem saber...”Também cai bem a frase de Sócrates, só sei que nada sei”, uma resposta à mensagem do oráculo de Apolo dada a seu amigo Querofonte em Delfos, que afirmou que ele era o mais sábio entre os homens gregos.
Acontece tanta coisa no nosso entorno que nos leva a refletir sobre os paradoxos que nos envolvem. Lembremos que o paradoxo pressupõe contradição, incoerência, incongruência e outras coisas, mas o que quero ressaltar aqui são pontos importantes para refletirmos e quem sabe nos levar na direção das boas ações para nós e os outros.
Ontem falávamos, uma amiga e eu, que o homem é capaz de tanta coisa linda, maravilhosa em todos os campos da vida e, ao mesmo tempo, é capaz de coisas feias, horrorosas e cruéis. E, sabemos, existem ótimos exemplos a este respeito.
Pesquisa de Harvard mostra que, embora tenha
se dado à atenção à saúde mental adolescente,
um elo crucial tem sido ignorado: o bem-estar dos pais”
Hoje, com outro amigo, refletíamos do perigo de deixar as coisas se acomodarem, sem, de fato, a real estrutura das referidas coisas estarem arrumadas. Pensamos inclusive que é melhor estar inquieto, pensando sobre as coisas, do que deixar coisa importante acomodar.
Falando do futuro, falamos de jovens, e abro aqui um parêntese para dizer que já abordei em artigos anteriores sobre a geração yolo (You Only live once= Só se vive uma vez). Uma mentalidade do agir agora e pensar depois, das experiências da vida em vez de investimentos de vida, do ativismo e das vidas vivenciadas on-line”.
Daí, faço a ponte para pensarmos sobre que tipo de geração é esta que atualmente temos? Uma geração jovem mais isolada, com sentimentos de solidão, que pressupõe dor, sofrimento e até rejeição. Em Portugal, 940 mil pessoas, entre 15 e 65 ou mais anos, vivem sozinhos, sendo que 8% correspondem a jovens entre 15 e 34 anos.
O tempo dos pais, segundo o pedopsiquiatra Pedro Strecht, as crianças passam oito horas na escola, e em média, estão duas horas e trinta minutos em frente à televisão e os pais dedicam-lhes apenas trinta e sete minutos por dia.
Também há o efeito da pandemia nestes jovens, que lidaram com o distanciamento social, com o tema morte de maneira mais evidente, sendo que geralmente nesta fase de vida se pensa em imortalidade, na vida e muito pouco na morte.
Observa-se com clareza que os transtornos, como ansiedade, depressão e outros, estão presentes em toda a camada social, em qualquer gênero ou idade. Pesquisa de Harvard mostra que, embora tenha se dado à atenção à saúde mental adolescente, um elo crucial tem sido ignorado: o bem-estar dos pais.
As discussões relativas aos transtornos mentais e suicídios dos adolescentes no tocante às mudanças sociais e hormonais típicas desta fase, somadas ao distanciamento da pandemia e aos efeitos das redes sociais, foram ampliadas. Porém, os problemas de falta de saúde mental dos pais e mães desses jovens não estão tão fortemente no foco de atenção. Se os cuidadores estão doentes como podem desempenhar esta função tão importante?
Acredito que todos nós testemunhamos, durante e após a pandemia, muitos reencontros e, também, divórcios. Ou seja, famílias se mantendo pelo amor que fora testado e outras famílias desfazendo-se, tudo com os impactos decorrentes para ambos os lados.
Em dezembro de 2022, duas pesquisas feitas nos EUA pela Universidade de Harvard, uma com os jovens e outra com pais e cuidadores, identificaram que os pais e os adolescentes sofrem com índices parecidos de problemas de saúde mental.
A pesquisa estimou que um terço dos adolescentes americanos tenha ao menos um dos pais sofrendo de ansiedade ou depressão. E 40% desses jovens se diziam preocupados com o estado mental de seus pais. Os dados também indicam que adolescentes deprimidos têm cinco vezes mais chance de ter o pai ou a mãe deprimido. O fato é que estes jovens e pais depressivos e ansiosos podem ferir uns aos outros de muitas formas.
O fato é que estes jovens e pais depressivos
e ansiosos podem ferir uns aos outros de muitas formas”
O paradoxo aqui é que, muito geralmente, pessoas que colocam filhos no mundo, quiseram isso, empenharam-se para isso. Por outro lado, agora que estão todos aí, na sociedade, convivendo neste mundo, ao invés das pessoas estarem cercadas de amor, leveza e aprendizado mútuo, impactando em tudo e em todos de maneira benéfica, muitos estão doentes, sem leveza e com famílias desestruturadas e doentes.
Importante estar consciente para lutar pelos seres que amamos, observar o perigo das acomodações e ilusões de que tudo está bem/bom e certo, quando, em verdade, as coisas estão desorganizadas, desarrumadas e disfuncionais.
Muitos paradoxos ainda merecem ser mencionados, porém, por ora, ficaremos com esses para uma boa e oportuna reflexão. E, para aqueles que se divorciaram, deixo aqui uma breve mensagem que vi outro dia e que não é de minha autoria, mas entendo que muito adequada:
Divorciados? Mamãe, não me fale mal do papai. Papai, não me fale mal da mamãe. Não estraguem as imagens sagradas que tenho. O ódio entre vocês, para mim, é tristeza, dor e solidão. Juntos ou separados, vocês sempre serão meus pais”.
Que rumo tomaremos? Salvação ou destruição?
(*) Facilitadora em Desenvolvimento Humano, autora de livros, advogada e mestre em Direito das Relações Sociais.
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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Tião Aranha
21 de outubro, 2023 | 16:16O homem que busca o êxito traz consigo certa atmosfera otimista. Antigamente as pessoas eram mais felizes porque tinham muita dificuldade em adquirir os seus alimentos para a sobrevivência. Essa geração danoninho recebe tudo já pronto nas mãos e ainda reclama muito. Têm livros gratuitos e não estudam. Defendem o bem-estar deles em detrimento da dos pais. Não lutam por um objetivo na vida. A maioria vive nesse mundo que nem barata voadora: cai em qualquer lugar! Risos.”