13 de outubro, de 2023 | 12:00
Opinião: HPV nos homens e mulheres
Daniel Xavier Lima (*)
O papiloma-vírus humano (HPV) é a infecção de transmissão sexual mais comum no mundo todo e afeta homens e mulheres. Existem mais de 200 subtipos de HPV que podem ser transmitidos sexualmente, sendo que ao menos 12 deles têm potencial de causar câncer (subtipos oncogênicos). A maioria das infecções não leva a sintomas, mas podem levar a sequelas importantes.Nos homens, a forma de apresentação mais comum é por verrugas anais ou genitais, podendo também aparecer na orofaringe. Nesses locais, o subtipo 16 do HPV é o mais comumente relacionado com o câncer. Nas mulheres, esse também é o subtipo que frequentemente leva ao câncer do colo do útero.
A prevalência da infecção na população masculina é frequentemente subestimada. De acordo com estudo de meta-análise internacional recente, cerca de um em cada três homens está infectado com pelo ao menos um tipo de HPV e ao menos em cada cinco homens é portador de um HPV com alto potencial oncogênico. A prevalência é maior em adultos jovens, atingindo um máximo na idade entre 25 e 29 anos de idade, com estabilização ou discreta redução após. Os dados indicam que homens sexualmente ativos, mesmo independentemente da idade, são um reservatório importante do vírus.
Diversas estratégias são propostas como tentativa de se enfrentar esse importante problema de saúde. Em primeiro lugar, a prática sexual segura deve ser um dos pilares dessa abordagem. O uso de preservativos pode adicionalmente reduzir o risco de infecção de outras doenças sexualmente transmissíveis (DST). Sabe-se que a transmissão do HPV pode ocorrer a partir de contatos sexuais mínimos, não havendo a necessidade de ter ocorrido penetração.
A prevalência do HPV em homens é um
problema de saúde pública que requer atenção e ações”
A população deve ser frequentemente alertada quanto aos riscos que as DST causam à saúde. Sem a conscientização adequada, os serviços de saúde precisarão lidar com situações mais graves e mais difíceis de serem resolvidas, com necessidade também de dispender recursos significativamente maiores.
A vacinação é outro pilar no combate contra a infecção pelo HPV. A vacina distribuída pelo Ministério da Saúde do Brasil é produzida pelo Instituto Butantan e protege contra o HPV de baixo risco, tipos 6 e 11, que causam verrugas anogenitais, e de alto risco, tipos 16 e 18, associados ao câncer de colo do útero, pênis, região anal e orofaringe.
É melhor que a aplicação da vacina ocorra antes do início da vida sexual. São três doses injetáveis, com intervalos de dois meses entre a primeira e a segunda dose, e seis meses, entre a primeira e a última dose. São elegíveis para a vacinação meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade e meninos de 9 a 14 anos. Pessoas com HIV positivo e transplantados até 45 anos de idade também devem ser vacinados. Embora a meta do governo seja vacinar 80% da população elegível, a vacinação nas meninas não passa de 57%, sendo inferior a 40% nos meninos, principalmente por desinformação, questionamentos infundados sobre a eficácia do imunizante e entraves religiosos.
Concluindo, a prevalência do HPV em homens é também um problema de saúde pública que requer atenção e ações.
Por meio de estratégias como vacinação, campanhas de conscientização, práticas sexuais seguras e consultas médicas periódicas, pode-se reduzir o impacto das doenças relacionadas ao HPV nos homens e promover um futuro com mais saúde para todos. É crucial reconhecer que a infecção pelo HPV no sexo masculino não é um problema de saúde individual e que deve haver um esforço coletivo para prevenir essa infecção comum e potencialmente séria.
(*) Coordenador do Serviço de Urologia do Biocor/Rede DOr, professor da Faculdade de Medicina da UFMG
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
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