06 de outubro, de 2023 | 18:00
Indígena Ailton Krenak é novo imortal da ABL
Eleição histórica na Academia Brasileira de Letras
Com 23 votos, o escritor indígena e ativista ambiental Ailton Krenak foi eleito, na quinta-feira (5), para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL, assumindo a cadeira número 5 que pertenceu a José Murilo de Carvalho, falecido em agosto deste ano. Disputaram com Krenak a historiadora Mary del Priore e o escritor também indígena Daniel Munduruku, que obtiveram, respectivamente, 12 e quatro votos.Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Krenak é um poeta com "visão de mundo muito própria e apropriada para este momento, em que o mundo está preocupado com o meio ambiente, em que os povos originários lutam por seus direitos. Tudo isso está embutido na vitória de Krenak na Academia. É um indígena que trabalha com a cultura indígena, com a valorização da oralidade”.
A acadêmica Rosiska Darcy classificou a eleição de Krenak como histórica. Não só para Academia como para o Brasil, não há melhor substituto para um grande historiador do que a história encarnada, que é o Krenak. Krenak encarna hoje uma parte importante da história do Brasil. Estou muito feliz com a eleição dele”, manifestou a escritora.
A data de posse ainda não foi definida pelo novo imortal da ABL. A escolha é um acerto dele com a ABL.
Ativismo
Divulgação/Rede Minas
Escritor e ativista indígena Ailton Krenak: ''Temos de parar de vender o amanhã''
Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu no município de Itabirinha, em 1953, na região do Vale do Rio Doce, território do povo Krenak, um local afetado pela atividade de extração de minérios. Krenak é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Escritor e ativista indígena Ailton Krenak: ''Temos de parar de vender o amanhã''Krenak organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI). É coautor da proposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que criou a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, em 2005, e é membro de seu comitê gestor.
Nas décadas de 1970 e 1980, foi determinante para a conquista do Capítulo dos índios”, o capítulo 8º na Constituição de 1988, que passou a garantir, no papel, os direitos indígenas à cultura e à terra. Naquela Assembleia Nacional Constituinte, protagonizou uma das cenas mais marcantes: em discurso na tribuna, pintou o rosto com a tinta preta de jenipapo, segundo o tradicional costume indígena brasileiro, para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos dos povos indígenas brasileiros.
Entre os livros mais recentes, estão: Ideias para adiar o fim do mundo” (2019), A vida não é útil” (2020), Futuro ancestral” (2022) e Lugares de Origem” (2021), escrito junto com Yussef Campos. Em A vida não é útil”, ele aborda a pandemia da covid-19 e diz: Se durante um tempo éramos nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa demanda”. Krenak valoriza a cultura indígena e mostra que a forma de lidar com a natureza e o mundo têm muito a ensinar a sociedades capitalistas. Já vi pessoas ridicularizando: ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o rio, contempla a montanha, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo atividades para depois. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã”, diz em outro trecho do mesmo livro. (Com Agência Brasil)
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