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23 de setembro, de 2023 | 13:00

Opinião: Por que os bancários estão adoecendo?

Maria Inês Vasconcelos *

Os fatos são indicações precisas de um sintoma; os bancos estão adoecendo seus funcionários. Há um novo mantra circulando pelas agências: “quanto mais eficiente, mais doente”.

Na verdade, a nova forma de organização de trabalho dos bancários é marcada por condições opressivas que tem provocado verdadeira desumanização. A trajetória das novas tecnologias tem sido um elemento disruptivo, transformando significativamente a forma como as instituições financeiras tradicionais operam. A tecnologia é uma nova catequese.

Quando utilizada para emancipação, a tecnologia é um bem; mas desviada de seus fins, a tecnologia é ferramenta para alienar e diminuir o valor do trabalho. Hoje os bancos estão monitorando seus funcionários. Tudo é medido, quantificado, estratificado. Os diversos radares captam tudo; número de produtos vendidos por dia, velocidade e até geolocalização.

As metas são sempre ascendentes e a cobrança para atingi-las é feita através de psicoterror. Quanto mais se vende, mais tem que se vender. O medo é a maior forma de adestramento. Com o medo se alavancam resultados e mantem-se em estado de cooptação. Como diz Leandro Karnal: “pessoas com medo são pessoas dóceis”, é a forma mais fácil de adestrar, por medo se faz mudanças no desempenho dos bancários para provocar maiores ou melhores resultados, além de aumentar a eficiência e rapidez na execução do serviço.

Dominados, os bancários ficam sem escape. A configuração da cena do trabalho torna-se unilateral, vem de cima para baixo e não há o menor espaço para mediação com a gestão. Alguns bancos são notoriamente conhecidos por serem campeões de assédio, e geralmente são os que dão maior lucro.


“A trajetória das novas tecnologias tem sido um
elemento disruptivo, transformando significativamente
a forma como as instituições financeiras tradicionais operam”


A plataforma Data Lawyer, por exemplo, revela que a judicialização em função do transtorno do esgotamento profissional cresceu em níveis expressivos, de 2020 a 2022, em 72%. No período, mais de 5 mil processos trabalhistas tramitaram na Justiça. É praticamente o dobro do registrado entre 2017 e 2019, quando foram 2,3 mil ações. Os trabalhadores postulam indenização por danos causados pela doença, reintegrações e realocações e indenizações pelo adoecimento e perda da capacidade laborativa.

Se antes de serem retrofitados pela tecnologia, os bancos provocavam cansaço físico, como na época da compensação manual e dos caixas não eletrônicos, hoje os bancos fazem a captura da mente de seus funcionários. Esse deslocamento vem ocorrendo com enorme velocidade, e o “acosso” mental vem se sofisticando. Por isso, costuma-se se dizer que o bancário é escravo digital.

Exaustos mentalmente, com a autoestima abaixada, salários baixos, jornadas elastecidas, os bancários vêm adoecendo. Os dados revelam que o número de afastamentos é exorbitante e que as condições ansiogênicas e inóspitas presentes no ambiente laborativo é a causa das doenças mentais que fulminam a categoria.

A incidência de depressão, TAG e sobretudo a Síndrome de Burnout, diga-se de passagem, são doenças altamente incapacitantes e revelam um sintoma: a perda de todo sentido do trabalho pela falta de paz.

* Advogada, pesquisadora e doutora em Educação

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Comentários

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Tião Aranha

23 de setembro, 2023 | 18:47

“Bom texto, o maior desafio é reverter a questão. Afinal, ninguém consegue estar nas alturas e no abismo ao mesmo tempo. Há de se convir que o mundo capitalista passa por uma reversão de crise ética e moral agravada pela epidemia do coronavirus. Todos os sistemas políticos estão sendo testados em sua plenitude. O capital através fas máquinas tem que geral lucro e dinheiro. Ao contrário de Marx que dizia que o trabalho tem que gerar capital. Risos.”

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