22 de agosto, de 2023 | 16:00
Fotógrafo revela o esporte se transformando em obra de arte
Registros do veterano Miguel Costa Jr. têm virtuosismo por trás de uma paixão
Arte e Velocidade, Miguel Costa Jr.
Busca do inusitado: detalhe do efeito das luzes na fibra de carbono

Miguel Costa Junior é um caso raro de fotógrafo do mundo esportivo que cruzou o portal” para o universo das artes. Talvez seja o único. Prestes a completar 67 anos em setembro, sendo 43 de carreira, este paulistano nascido no então simplório bairro de Moema é homenageado com uma exposição inédita pela tradicional Galeria Arte 57, em São Paulo. A mostra Arte e Velocidade” reúne 55 registros inéditos e de edição limitada do artista visual, colhidos ao longo de décadas de trabalho como foto-repórter de automobilismo - sua paixão desde a infância. Miguel tornou-se o principal nome da fotografia no universo automobilístico brasileiro e maior referência para a atual geração de fotógrafos.
Com curadoria da especialista Rosana De Conti, a mostra foi aberta no sábado (19), Dia Mundial da Fotografia, e poderá ser vista pelo público até o dia 21 de setembro. Arte e Velocidade” é a primeira apresentação formal de Miguel Costa Junior como artista da fotografia, embora ele venha produzindo conteúdo autoral e experimental há algumas décadas, abordando também diversos outros temas, como arquitetura, cotidiano, moda e aspectos culturais.
Optamos por focar no tema velocidade justamente por ele estar na origem do trabalho e do raciocínio contestador e exploratório do Miguel sobre as técnicas e as possibilidades da fotografia como expressão. É um tema que mostra um pouco do caminho das descobertas de Miguel, do que o faz um artista único e um profissional importante nos dois universos, o esportivo e o artístico”, define o marchand Renato Magalhães Gouvêa Junior, que dirige a Galeria Arte 57 ao lado de Guilherme de Magalhães Gouvêa.
O visto e o imaginado
Miguel possui um acervo com mais de 50 mil registros, entre fotos analógicas e digitais. É uma coleção bastante rica que remete o espectador não só às corridas de automóveis, mas também a cenários inéditos, transpondo os limites entre o que se vê e o que se pode imaginar”, detalha Rosana De Conti.
Em algumas ocasiões, Miguel parece brincar com os elementos, deixando borrões ao fundo e total nitidez sobre o carro que passa a mais de 300 km/h. Em outras, pequenos detalhes do carro, em contextos totalmente abstratos, ultrapassam o limite do registro fotográfico para construir uma composição artística e inimaginável”, reforça.
Arte e Velocidade, Miguel Costa Jr.
Daytona, 1998: efeitos simultâneos clicados com ajustes especiais

Costa Junior construiu seu acervo cobrindo as principais competições mundiais, da Fórmula 1 ao Rally Dakar, passando pela Fórmula Indy, pela Stock Car e pelo Mundial de Endurance. Apaixonado pelo esporte, ele nunca teve condições de praticá-lo, e a fotografia foi um caminho para se aproximar de seus ídolos e da emoção que sentia ao estar em uma pista de corridas.
Em 1970, aos 13 anos, meu pai me levou pela primeira vez a Interlagos. Estavam lá meus heróis da época, os irmãos Fittipaldi e o também ex-piloto de Fórmula 1, Luiz Pereira Bueno. Saí de lá com a certeza de que queria viver perto daquele universo maravilhoso. Mas só dez anos depois um amigo me emprestou uma máquina para eu fazer meus primeiros registros”, recorda.
Eu já tinha um olhar diferente. Desde bem pequeno, eu colecionava recortes de fotos”, continua Costa Junior. Adorava analisar os ângulos, as nuances, a forma como o fotógrafo tinha escolhido fazer o registro. Quando essas duas paixões se uniram em Interlagos naqueles dias, eu nunca mais consegui ficar sem fotografar. E nesse tempo todo, a curiosidade pelo diferente, pela experimentação, andou em paralelo com a profissão de foto-repórter. Posso dizer que foi o meu ganha-pão diário que sustentou também esse lado mais criativo, porque eu estava sempre com uma máquina na mão”, lembra ele.
Situações incomuns
Entre as 55 imagens expostas estão registros que envolvem ídolos do esporte brasileiro, como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Há também composições que exploram detalhes e situações incomuns. É o caso da foto tirada em 1998 no circuito americano de Daytona, retratando um carro da Panoz na freada, a mais de 300 km/h, com máquina analógica.
No mesmo clique, Costa Junior foi capaz de registrar o brilho dos freios de carbono incandescentes durante várias voltas do pneu, os reflexos das luzes do autódromo na carenagem, ao mesmo tempo em que usava um flash para destacar a silhueta do veículo, em um malabarismo fotográfico genial. Minha fotografia sempre foi raciocinada assim, buscando um resultado diferente ou inesperado. Eu sempre busquei mostrar esse espírito que combina luz, design inusitado e movimento, com a ousadia e a paixão que eu sinceramente sinto, desde sempre, pelo automobilismo”, resume o artista.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]