18 de agosto, de 2023 | 13:00

Opinião: Previdência complementar: é urgente tratar do futuro do Brasil

Roberto Maia *

A redução da taxa de crescimento da população no Brasil, assim como nos países desenvolvidos em geral, acende uma luz amarela para o futuro no que tange à qualidade de vida dos idosos. O brasileiro está vivendo mais e, nos últimos 60 anos, somos o terceiro país, entre os dez maiores do mundo, com maior elevação da expectativa de vida, que aumentou para 76,2 anos em 2023.

Quão preparados estamos para que as pessoas possam se manter com qualidade naquela fase da vida? Isto está diretamente relacionado à aposentadoria e, por consequência, aos modelos de previdência disponíveis para a construção dos dias que virão.

Neste contexto, vem se desenhando no país e no mundo uma curva demográfica em que, em breve, muitos receberão aposentadoria por mais tempo e poucos trabalharão. Resultado? Vai começar a faltar dinheiro. A pesquisa Raio X do Investidor, divulgada este ano pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – Anbima, revelou que cerca de 16% dos entrevistados no país não sabem como vão viver ao se aposentar.

“É urgente a compreensão da importância da
previdência complementar para o país no âmbito
social, promovendo aposentadoria com dignidade”


Identificamos um dado semelhante na Pesquisa Anual de Satisfação da Previdência Usiminas realizada também em 2023: 61,7% daqueles que ainda não aderiram ao plano previdenciário oferecido pelas empresas patrocinadoras disseram não ter pensado ainda sobre a aposentadoria. Ou seja, até mesmo entre aquelas pessoas que têm a possibilidade de aderir a um plano previdenciário complementar, esta ideia de preparação para o futuro não entra na lista de prioridades.

As diversas reformas já implementadas pelos últimos governos ainda não foram suficientes para dar a necessária resposta a uma realidade que alia aumento da expectativa de vida com a alteração do perfil demográfico. Por isso, é esperada uma redução do teto de pagamento da Previdência Social, que é administrada pelo INSS, num futuro próximo.

É urgente a compreensão da importância da previdência complementar para o país no âmbito social, promovendo aposentadoria com dignidade, assim como no econômico, disponibilizando recursos, formando poupança interna e ajudando a girar a economia. Hoje, no Brasil, a previdência complementar fechada gerencia recursos da ordem de 13% do PIB – o equivalente a R$ 1,19 trilhão – destinados a cumprir compromissos futuros de benefícios de aposentadoria.

“É esperada uma redução do teto de pagamento da
Previdência Social, que é administrada pelo INSS”


No entanto, estamos ainda muito distantes de países como Holanda, Reino Unido e Estados Unidos. Neste último, em 2020, cerca de 68% da população economicamente ativa estava coberta pela previdência complementar. No Brasil, 7,14 milhões de pessoas – participantes em fase contribuição, aposentados e pensionistas – são cobertas por planos de aposentadoria, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar – Abrapp. Desse total, apenas 2,6 milhões são participantes na fase de acumulação de reserva para usufruir na aposentadoria, o que representa somente 2,4% da população economicamente ativa do Brasil.

Os dados são alarmantes, mas há soluções. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, há 5,4 milhões de empresas no Brasil, com 53 milhões de trabalhadores assalariados. Se apenas 10% delas oferecessem planos de previdência, proporcionariam proteção para algo em torno de 20 milhões de trabalhadores.

Além disso, a sensibilização e a construção de uma cultura de educação previdenciária e financeira desde a escola podem representar um grande salto para a mudança de atitude, pois muitas pessoas que possuem acesso à previdência privada optam por não tê-la por falta absoluta de conhecimento. Quando perguntado sobre o tema, o brasileiro, geralmente, só se lembra do INSS, não conhece outras alternativas como a previdência complementar.

Certamente, há um caminho árduo à frente, que demanda educação, conscientização e o envolvimento firme de todo o poder público para garantir à população um futuro com um mínimo de dignidade.

* Diretor-presidente da Previdência Usiminas

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