13 de agosto, de 2023 | 09:30

Desrespeitados: assim se sentem os profissionais da enfermagem, até hoje sem receber o piso da categoria

A reportagem entrevistou duas trabalhadoras que atuam no Vale do Aço e esperam, ansiosamente, pela concretização do sonho

Arquivo Pessoal
''Depois de tantas lutas, a enfermagem segue indignada com tamanha enrolação'', afirmou a técnica de enfermagem Queila Pessoa''Depois de tantas lutas, a enfermagem segue indignada com tamanha enrolação'', afirmou a técnica de enfermagem Queila Pessoa

Os trabalhadores da enfermagem contam os dias e as horas para que o tão desejado piso da categoria se torne uma realidade, ou seja, caia na conta bancária. A concretização desse sonho, que foi tão batalhado e almejado pelos profissionais, parecia próxima, mas o sentimento vivido pela categoria, com o rumo que o processo levou, é de decepção, descrença e desrespeito.

Na semana que passou, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, informou que o primeiro repasse complementar aos estados e municípios para o pagamento do piso da enfermagem será feito até o dia 21 deste mês. O que deveria ser um anúncio para encher de esperança os profissionais da enfermagem, na verdade, não gerou um efeito tão positivo. Parte da categoria parece descrente. Duas trabalhadoras, que atuam no Vale do Aço, descreveram o que estão vivendo.

Arquivo Pessoal
Rúbia participou de atos, em Brasília, que reivindicavam o piso para a enfermagem   Rúbia participou de atos, em Brasília, que reivindicavam o piso para a enfermagem
A enfermeira Rúbia Ferreira, moradora de Timóteo, que já participou de diversas manifestações pelo pagamento do piso, inclusive em Brasília-DF, falou sobre a luta. “A história do nosso piso virou uma série e nós já até perdemos o capítulo em que nós estamos. Não está dando mais para acreditar. Vamos esperar até o dia 21”.

A técnica de enfermagem, fonoaudióloga e conselheira efetiva do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG), Queila Pessoa, que trabalha em Ipatinga, relata o quão desgastante tem sido a jornada. “A sensação de desrespeito e descaso com a categoria é imensa. Depois de tanto enrolo, sabe aquela sensação de ter que ver para crer? Por mais que não vamos desistir dos nossos direitos, tem sido desgastante”, desabafou a profissional.

STF

A Lei 14.434/2022, que criou o piso salarial nacional do enfermeiro (R$ 4.750), do técnico de enfermagem (R$ 3.325), do auxiliar de enfermagem e da parteira (R$ 2.375) foi sancionada por Jair Bolsonaro (PL) em agosto do ano passado, mas não previa fonte dos recursos e acabou suspensa por decisão do STF.

Em 12 de maio deste ano, o presidente Lula (PT) sancionou projeto de lei para abrir crédito especial de R$ 7,3 bilhões para o pagamento do piso da enfermagem. Poucos dias depois, em 15 de maio, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, liberou o pagamento do piso nacional.

No dia 23 de junho, o STF retomou o julgamento sobre a constitucionalidade do Piso da Enfermagem. Pouco tempo depois, no dia 3 de julho, após julgamento no Plenário Virtual, o Supremo definiu, por oito votos a dois, que o piso nacional da enfermagem deve ser pago aos trabalhadores do setor público pelos estados e municípios na medida dos repasses federais. Em relação ao setor privado, definiu que prevalece a exigência de negociação sindical coletiva como requisito procedimental obrigatório, mas que, se não houver acordo, o piso deve ser pago conforme fixado em lei.

Além disso, ficou definido, que o pagamento do piso salarial é proporcional à carga horária de oito horas diárias e 44 horas semanais de trabalho, de modo que se a jornada for inferior o piso será reduzido.

Insatisfação

A decisão do STF gerou insatisfação aos profissionais e foi como um banho de água fria para os trabalhadores. “Nossa história virou história da Carochinha, ou de Papai Noel, ou de duende. Estão fazendo chacota com a categoria, com os profissionais da enfermagem. O STF tirou o que conquistamos em lei, mexeu na nossa lei prejudicando toda a categoria”, lamentou Rúbia Ferreira.

Quem também expõe o descontentamento é a técnica de enfermagem Queila Pessoa. “A sensação de desrespeito e descaso com a categoria é imensa. Após as artimanhas do setor privado para não pagamento do piso, que é lei e constitucional, e essas inúmeras manobras dos políticos que acabaram culminando nas decisões do STF, no qual infelizmente não respeitou a isonomia e independência dos Três Poderes, legislando, promovendo mudanças significativas e negativas na lei 14.434”, disse.

Esperança

No dia 1º de agosto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), informou que a Casa pretende recorrer da decisão do STF. “O que buscamos é a aplicação plena e imediata daquilo que foi decidido pelo Congresso Nacional em relação à enfermagem do Brasil”, afirmou Pacheco. Os trabalhadores têm esperança de que ainda será possível reverter o que foi proposto pelo STF. “Estamos esperando o presidente do Senado fazer o embargo da ‘aberração’ que o STF fez em cima da nossa lei”, afirmou Rúbia.
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Comentários

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Márcio Moreira

14 de agosto, 2023 | 14:35

“Gildázio isso é serio ?
OS PRESIDENTES DA REPÚBLICA 11 anos de PT/PMDB/PSB/ e 4 anos do PL e nenhum fizeram nada até hoje ?
E sem contar os prefeitos que passaram por Ipatinga nesses 15 anos
e os Governadores de MG também tem sua parcelas de culpa !!!
A EDUCAÇÃO MERECE RESPEITO SIM!!!
TODO NOSSO RESPEITO !!!!”

Rondinelly da Silva Alves

14 de agosto, 2023 | 09:26

“Além de desrespeitoso chega ser imoral, inversão de atribuições, o STF não tem competência de fazer leis, mais pelo que parece no Brasil se aproxima a ditadura e o falso socialismo, é bem assim que começou nos países que hj estão sobre esse maldito regime.”

Josias Castro

14 de agosto, 2023 | 05:21

“Pura enrolacao...estao nos fazendo de palhacos...esse povo nao tem compromisso com a vida!!!!”

Justo

13 de agosto, 2023 | 17:51

“Se ficar um dia parado rapidinho os políticos arrumam a solução”

Jota

13 de agosto, 2023 | 17:43

“? Queila e Rúbia e, todos os outros profissionais da Enfermagem. Minha solidariedade e meu respeito. Sem comparar com os médicos, vocês são os profissionais que mais estão ao lado dos pacientes. Sei disso na pele. É uma pena que essa novela esteja acontecendo.”

Bom

13 de agosto, 2023 | 16:00

“DESUMANO O TRATAMENTO A QUEM CUIDA DO SER HUMANO, EM SEU ESTADO DE SAÚDE DEBILITADO. E PIOR AINDA É DAR POMPAS E LUXO À UM POLICIAL.
VIATURAS DE LUXO CARÍSSIMAS, PRESÍDIOS, ARMAS CARÍSSIMAS.
MAS ENTENDO BEM, O CRIME GERA MUITA, MAS MUITA GRANA, PROPINAS.
E A SAÚDE E EDUCAÇÃO GERAM MENOS E SÃO MAIS FÁCEIS DE INVESTIGAR.”

Tinho Mortadela

13 de agosto, 2023 | 13:41

“Os mesmos trabalhadores da saúde que receberam homenagens no auge da Covid-19,hoje assistem à precarização das suas condições de trabalho. Quando temos uma população passiva como a população Brasileira,tudo é show, tudo é festa! Certamente estamos longe, muito longe de ?vivermos a democracia? em toda a sua plenitude. E ainda que vivamos mais cento e cinquenta anos, presenciaremos a força da cultura do ?Pão e Circo?!
Lembre-se de uma frase bastante usada pelos Africanos: O escravo que não capaz de assumir a sua revolta merece viver no seu lamento.
Chegou a hora desses senadores colocarem o STF em seu devido lugar,ou seja, pararem de falar besteira e agir de forma enérgica contra a ditadura da Toga que hoje impera no Brasil.”

Gildázio Garcia Vitor

13 de agosto, 2023 | 11:04

“Imagina os Professores, que já estamos há 15 anos esperando este tal "piso nacional", que o estado de Minas e a Prefeitura de Ipatinga não pagam.”

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