02 de agosto, de 2023 | 07:00
Opinião: Siderurgia, carvão vegetal e carvão mineral
Antônio Nahas Júnior *
Atualmente no Brasil 90% do ferro gusa produzido utiliza carvão mineral para a transformação do minério de ferro. No Vale do Aço, a Usiminas utiliza carvão mineral e a Aperam, carvão vegetal.Estes dois processos produtivos têm resultados técnicos similares, mas consequências ambientais distintas: enquanto o carvão mineral é considerado o vilão da siderurgia, uma vez que sua utilização nos altos fornos leva à emissão de CO2 (gás carbônico) na atmosfera, o carvão vegetal - se produzido de forma correta - não gera este gás efeito estufa e contribui para a sustentabilidade da indústria siderúrgica.
Mais que isso: sendo originário de áreas de reflorestamento manejadas de forma correta - protegendo as nascentes, os cursos d'água; preservando reservas de vegetação natural, utilizando técnicas adequada de manejo florestal e combustão da madeira -pode tornar-se uma fonte de negócios de grande valor.
Isto porque o reflorestamento faz com que haja captura de carbono na atmosfera. São gerados desta forma os chamados créditos de carbono, que hoje já podem ser monetizados. As empresas que estejam em busca da sua neutralidade na emissão de carbono, mas que ainda sejam emissoras deste gás, podem atingir este objetivo adquirindo créditos de carbono de quem os tem para vender, ou seja, de empresas ou setores econômicos que capturam mais carbono do que geram.
Estudo recente da consultoria McKinsey (de grande prestígio internacional) revelou que esse mercado tem o potencial de movimentar impressionantes US$ 50 bilhões até 2030 em todo o mundo e o Brasil pode concentrar cerca de 15% desse montante, equivalentes a trinta e cinco bilhões de reais.
Existem opções para produção sustentável de aço,
como a utilização do hidrogênio verde para a redução
direta do minério de ferro”
Tudo isto veio em função do Acordo de Paris, firmado em 2015, assinado por 196 países, com o objetivo de reduzir as emissões de gases efeito estufa em todo o mundo. Neste acordo, o Brasil assumiu o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de florestas.
O reflorestamento já foi objeto de muitas críticas em tempos passados, pois contribuiria para concentrar a propriedade da terra; gerar desemprego no campo; transformar vastas áreas rurais em florestas homogêneas, com pouca ou nenhuma vida rupestre. No entanto, hoje mostra-se uma alternativa não apenas de sustentabilidade ambiental, mas de forte geração de renda:
Se antes o reflorestamento era considerado apenas como uma ação sustentável e responsável no planeta, hoje além de contribuir para a regeneração de florestas, impactando positivamente o clima, abre-se novas possibilidades de rentabilidade", explica a especialista Karin Neves.
A tendência do setor que utiliza carvão vegetal é expandir o reflorestamento para áreas degradadas ambientalmente. A Ministra Marina Silva já anunciou que o governo pretende encaminhar ao Congresso, em agosto, a sua proposta de regulamentação desse promissor mercado: quem pode comprar; quem pode vender; como aferir o cumprimento das metas ambientais pactuadas e valor base por tonelada de carbono capturada.
Segundo ela, tal regulamentação busca incentivar e fortalecer as atividades relacionadas ao reflorestamento, além de promover a transparência e a confiabilidade do mercado de crédito de carbono.
Existem outras opções para a produção sustentável de aço, como a utilização do hidrogênio verde para a redução direta do minério de ferro. Trata-se de outra oportunidade de substituir o uso do carvão fóssil. Combinado ao minério de alta qualidade do Brasil, a eficiência desse processo é muito alta.
Para a Usiminas, que sempre em toda sua trajetória utilizou carvão mineral, opção tecnológica feita desde sua fundação, a transição energética coloca novos desafios e oportunidades.
A empresa, certamente, já busca alternativas viáveis economicamente para a produção do chamado Aço Verde.
* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]