30 de julho, de 2023 | 00:01

A luz que apaga o céu

Artista visual Rodrigo Zeferino expõe novos trabalhos na mostra argentina Bienalsur

Fotos: Divulgação
As obras ocupam uma sala exclusiva no Museo Emilio Caraffa, em CórdobaAs obras ocupam uma sala exclusiva no Museo Emilio Caraffa, em Córdoba

O artista visual ipatinguense Rodrigo Zeferino passou os últimos três anos produzindo seu mais recente trabalho intitulado “Performances entomológicas”. Nesta série de fotografias, ele mostra imagens aparentemente abstratas obtidas a partir da captura do voo de mariposas que perambulam por zonas urbanas durante a noite. “A obra é mais uma derivação de sua longa pesquisa acerca dos efeitos da chamada poluição luminosa, fenômeno típico de áreas urbanizadas que, entre várias outras consequências - como o encobrimento dos astros no céu noturno, por exemplo - exerce forte influência sobre a vida animal”, informa a assessoria do artista.

Pela primeira vez, as imagens em conjunto são exibidas em grande estilo. Premiado e reconhecido nas artes visuais, Zeferino é um dos artistas que participam da exposição “Naturocultura”, que é parte da programação da Bienalsur, evento realizado na Argentina desde 2017. Apesar de estar apenas em sua 4ª edição, a mostra argentina se diferencia de outras grandes bienais, como a de São Paulo ou a de Veneza, na Itália, por ser organizada de forma itinerante e simultaneamente em vários lugares.

''Performances entomológicas'' são construídas a partir do registro das mariposas em pleno voo''Performances entomológicas'' são construídas a partir do registro das mariposas em pleno voo

A mostra Naturocultura, com curadoria do argentino Pablo La Padula, trata das conturbadas relações entre a humanidade e o meio ambiente nos dias atuais, reunindo trabalhos de artistas da Colômbia, França e Espanha, além das obras do ipatinguense. Em sua primeira fase, a bienal argentina, iniciativa que surgiu da Universidad Nacional Tres de Febrero (Untref), na província de Buenos Aires, inaugura exposições em diferentes cidades do país vizinho. Em cada uma delas, museus e instituições dedicadas à arte são ocupados por exposições que abrigam obras de artistas de várias partes do mundo. Na segunda fase, as exposições irão viajar pelo mundo e ser exibidas em 29 países em todos os continentes.

O apagamento dos astros
A série criada por Zeferino está em exposição no Museo Provincial de Bellas Artes Emilio Caraffa, em Córdoba. São 14 obras, entre fotografias e vídeos, que ocupam uma sala exclusiva do museu.

Ao longo dos últimos 12 anos, o artista mineiro produziu diferentes trabalhos que abordam a temática da poluição luminosa. As imagens de “Performances entomológicas” são construídas a partir do registro das mariposas em pleno voo, ao serem atraídas pela forte luminosidade emitida pelas cidades.

“A poluição luminosa é um problema que permanece ironicamente às sombras das grandes questões sociais da contemporaneidade. Apesar de várias entidades ao redor do globo, como a Dark Sky Association, com sede nos Estados Unidos, por exemplo, estudarem o fenômeno com a seriedade que ele merece, a sociedade de modo geral ainda não despertou para existência deste problema”, ressalta a produção.

O excesso de luz emitido em áreas urbanizadas é responsável por criar uma aura brilhante no espaço aéreo, sobre si mesmas, bloqueando a visibilidade do céu noturno. De acordo com o jornal britânico The Guardian, astrônomos alertam que, dentro dos próximos 20 anos, a maior parte das estrelas e as principais constelações serão ofuscadas pela poluição luminosa. A causa central são os equipamentos de LED - do inglês Light Emitting Diode, que significa Diodo Emissor de Luz. Atualmente, eles iluminam o céu noturno a uma taxa que aumenta 10% a cada ano. Isso significa que em local onde hoje 250 estrelas são visíveis, daqui menos de duas décadas serão apenas 100. “Há algumas gerações, as pessoas tinham um contato costumeiro com a visão do cosmos, mesmo em cidades iluminadas. Hoje em dia, precisamos de nos afastar, nos deslocar para a zona rural, para conseguir ver um céu estrelado e podermos nos maravilhar com a beleza e a suntuosidade com que ele nos arrebata”, diz o artista.

A poluição luminosa permanece ironicamente às sombras das questões contemporâneasA poluição luminosa permanece ironicamente às sombras das questões contemporâneas
Rodrigo Zeferino atenta para o fato de que muitas pessoas “passam toda a vida sem ter a oportunidade de desfrutar do privilégio de apreciar uma abóbada celeste limpa durante a noite”. “Todos deveriam ter acesso a essa experiência que foi tão importante para a humanidade ao longo da história. Os astros guiaram navegadores e inspiraram poetas. Hoje somos privados disso, devido à ampliação desregrada das zonas iluminadas e à falta de reflexão sobre o assunto”, comenta.

Programação
A exposição Naturocultura fica em cartaz no Museu Caraffa até o dia 3 de setembro. Em outubro próximo, a série “Performances Entomológicas”, de Rodrigo Zeferino, será exibida durante o MedPhotofest, festival de fotografia realizado às margens do Mar Mediterrâneo, na cidade de Catânia, na Itália.

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