25 de julho, de 2023 | 13:00
Opinião: Nossos pais também viveram uma revolução
Mário de Carvalho Neto *
Se a vida fosse um trem sobre uma estrada de ferro, estaríamos a 40 km por hora, avançando para a velocidade máxima de um trem bala. Há alguns anos atras, estávamos parados na estação, baldeando de um trem a vapor para outro, tracionado por uma locomotiva.
Com os motores ligados, o trem aguardava o sinaleiro autorizar a partida. Chegávamos na estação de uma longa viagem, que iniciou no século 18 e terminara no século 21.
Na plataforma da estação, embaçada pela fumaça cinza da fornalha, e branca do vapor, que exauria das válvulas de uma imensa locomotiva movida à lenha, toda fabricada em aço e bronze, onde sua operação era acionada por pesadas alavancas, passageiros de um mundo velho transitavam-se entre os passageiros de um mundo novo, que embarcariam em um trem movido à diesel ali estacionado, que mal sabiam onde este trem os levariam. Passageiros de chapéus, paletós e cabelos grisalhos que desembarcavam na estação deixavam para os passageiros que embarcavam, suas histórias, suas aventuras e suas descobertas, marcadas por um tempo em que tudo que era fabricado com as próprias mãos e passaram a ser fabricados por máquinas movidas do vapor.
Eles falavam de uma tal de revolução industrial, caracterizada como o processo que levou à substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico ou artesanal pelo sistema fabril.
Nossos pais que traziam recordações da era das maquinarias a vapor, que surgiram multiplicando a produção nas indústrias de bens de consumo e produção de alimentos nas áreas rurais, que substituiu a força dos cavalos pela força das caldeiras, bem como na ampliação da capacidade do transporte de cargas em seus longos trens, orgulhavam-se ter vivido na mais moderna era da transformação. Transformação essa que mudou a vida de milhões de povos ao redor do planeta. Nossos pais, sequer imaginavam que a revolução que fizeram, transitava para outra, que aos poucos se desconectava no modo de produção e nas relações entre empresa e trabalho.
Por aqui, no tempo do desbravamento do Vale do Rio Doce pelas locomotivas a vapor, a revolução que tanto orgulhava nossos pais já acionava os freios para a parada na próxima estação que se avistara no horizonte. Na plataforma da estação onde as conhecidas Maria Fumaça se desviariam para a linha da morte e o novo trem à diesel aguardava para seguir a viagem, uma nova revolução aguardava a partida do trem, a revolução tecnológica.
Na plataforma embarcavam junto aos passageiros, os computadores PCs, que trariam em seu hardware a internet conectada ao telefone, os telefones celulares, os smartphones e agora a tão falada inteligência artificial.
O trem parte da estação, deixando para traz o telégrafo, a emissão de passagens e licenças manuais, a fumaça do vapor e a própria revolução industrial, notabilizada também pela remota exploração humana e pela descontrolada poluição ambiental.
Hoje, na velocidade de 40 km/h, com a revolução tecnológica avançando sobre os trilhos em velocidade ascendente, seus passageiros mal sabem a velocidade que esse trem alcançará e para qual destino este o levará.
Desconectando a cada dia com os nossos pais, com seus costumes, seus prazeres, seus hábitos alimentares, suas formas de lazer e suas relações sociais expansivas e presenciais, os passageiros se conectam com outro universo, este impresso na tela de um aparelho celular, onde teias de informações constroem e descontroem novas escolhas, comportamentos, personalidades, paradigmas, ou mesmo, constroem novos seres vivos.
As revoluções transcendem de uma para outra, porém, a interface humana por meio de suas virtudes e desvirtudes permanecem”
Desde a evolução primaria do ser, quando este de hominídeo perpassa pelo Homo sapiens até os dias atuais, o progresso humano se estabeleceu na relação moral com as coisas. Não será a revolução tecnológica com suas ferramentas artificiais que determinará o novo ser humano. Este ainda velho, conectado com seus pais e com a natureza, preservará o que de mais belo permeia sobre toda a sua história, o prazer de compreender as suas vicissitudes. Essa escolha será válida para aquele que não queira se tornar no futuro um simples humanoide.
* Historiador e jornalista editor da revista Caminhos Gerais
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Tião Aranha
25 de julho, 2023 | 21:47Vivemos sob a têmpera da tirania e da enganação. É preciso corretivo, sim, para que restabeleça a ordem pública. Tudo depende dos atos do executivo. Vivemos numa sociedade mecanicista. Se Isaac Newton fosse vivo será que ele diria o mesmo? Só que o séc XVIII já se foi. Ou será que a História sempre volta ao seu ponto de origem? Risos.”
Babi Vaccari
25 de julho, 2023 | 14:03Muito boa colocação em relação à evolução das máquinas frente ao ser humano. Uma relação, na minha opinião, inversamente proporcional à música ( sei que você é um apaixonado por música boa), pois essa nasceu com altíssima qualidade e foi se deteriorando com o tempo.”