16 de julho, de 2023 | 13:00
Opinião: Bang bang urbano
Marli Gonçalves *
Não era bom, mas tem ficado pior a cada dia flanar pela cidade. O bang bang instalado em São Paulo não tem só armas ou balas, mas pedras, facas, velas de ignição, cotovelos, rasteiras, emboscadas e, sempre, muita violência, com ataques de gangues claramente comandadas por grupos organizados, influentes, bem poderosos. E impunes. Desassossego total.De manhã à noite as pessoas e os seus celulares vêm sendo caçadas sem dó nas ruas da cidade. Você anda por aí e ouve os telefones tocando dentro das bolsas, bolsos, mochilas de quem é mais cuidadoso. Ninguém atende. Até disfarçam para não chamar a atenção para o aparelhinho muitas vezes comprado em dolorosas prestações e onde hoje depositam praticamente suas vidas; hoje tudo que se precisa depende dele, do celular, do digital, dos aplicativos. Por outro lado, muito mais comum, pedestres distraídos, abduzidos pelo aparelhinho, pescoço curvado. Tropeçar é o melhor que lhes pode acontecer, fora serem atropelados, por carros ou ladrões. Em um segundo, um esbarrão; o ciclista que o toma e ainda sai rindo. Quando não é o ameaçador motoqueiro disfarçado de entregador que ainda espanca quem não lembra a senha. Os novos bicho-papão? Eles grunhem: perdeu”.
Seja na consagrada esquina de Sampa, nas ruas do Centro novo e antigo, nos bairros, praças de toda a cidade, pontos de ônibus, qualquer horário, não há mais sossego. Ninguém consegue caminhar tranquilo, sem olhar para trás, para os lados. Aliás, nem de carro, nem de ônibus, agora cercados por grupos. Não se respira mais quando se é obrigado a enfrentar o congestionamento, o trânsito lento. Surgem do nada, levam o que conseguem carregar e somem nos meandros pior, todos pontos bastante conhecidos.
Não são os outrora trombadinhas, meninos trapiche que por muito tempo arrancaram correntinhas de pescoços para vender aqui e ali; não são a antiga turma das cortadeiras, que decepavam as alças das bolsas na muvuca dos centros comerciais. Não são mais os lendários sim, eles existiram ladrões de outrora, alguns que passaram ao folclore da cidade. O que corria pelos telhados, o que escalava prédios na madrugada, o galã sedutor.
São exércitos de jovens violentos que só podem estar sendo controlados e protegidos por grandes organizações criminosas, tudo sob as barbas da polícia, que apenas aparenta estar por aí enxugando gelo, tomando providências”. Apontam a triste e agora móvel, andante e circulante Cracolândia, aqueles maltrapilhos dependentes que mal conseguem se manter em pé. Ora, a coisa é muito maior.
Só começa no roubo. Dali em diante funciona uma verdadeira e sofisticada linha de produção. O celular pula para outro, e outro que invade o banco, faz transferências, contrata empréstimos para contas laranja de mais outros. Os bancos, seus sofisticados sistemas de senhas, tokens, controles, que param as nossas transações reais quando mais precisamos? Silêncio. Para os bandidos os dinheiros são liberados em poucos minutos.
São exércitos de jovens violentos que só podem estar
sendo controlados e protegidos por grandes organizações criminosas”
Como pode? É ou não é de se estranhar, e muito? Cadê que devolvem, aliás, isso e o que é perdido nesses e muitos outros golpes, como os boletos falsos que chovem diariamente nas caixas de e-mails? Nos telefonemas para idosos. Nos tais golpes do amor”. Há mortes em todos esses casos. Como essas organizações criminosas podem não ser identificadas?
Assistimos a tudo nos noticiários, nas câmeras que registram em detalhes as fuças e o medo dos atacados, quando não mortos. Em grandes concentrações vemos grupos circulando e crimes ocorrendo ao nosso lado. Só nós vemos? Amanhã tem mais. É o depois que nunca termina. Conselhos que expelem: ande com carros blindados, circule com vidros fechados, buzine para espantar o ladrão e outras pérolas.
Tudo fora de controle, assim como a violência em temas sensíveis, como o feminicídio que se alastra e não há medida protetiva que seja eficiente e resolva as ameaças denunciadas pelas mulheres. Vá a uma delegacia prestar queixa. Talvez, com sorte, lhe deem alguma atenção. Mas o comum agora é lhe darem, com muxoxo - sabe como é, né? muito trabalho, não temos equipes” ...- um papel que você mesmo preenche como se fosse o escrivão e entrega ali no balcão. Talvez vire um número na estatística. O BO é todo seu, como dizem. Resolva-se com ele.
* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo. [email protected] / [email protected]
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Jadenilto Cacio da Silva
16 de julho, 2023 | 20:18A cara das grandes cidades. O noticiário se repete, a cada dia. Prendam os ladrões. Quem mata não deveria ter pena leve. Falta efetivo policial nas ruas, sobra dinheiro público em bolsos indevidos. As escolas viraram sucata, sem segurança, nem na portaria. Que Deus nos proteja, pois quem recebe nosso dinheiro para nos dar segurança, está preocupado com outras coisas....”
Tião Aranha
16 de julho, 2023 | 13:29Bom texto. A barbárie anda solta. A saída seria fazer uma avaliação das falhas/acertos dentro do Sistema. Mas, pra quem está dentro da Política tá ficando cada vez mais difícil ganhar. Pra quem tá fora - pior ainda. Me respondeu outro dia um político influente. Logo, não tem como participar. (A não ser como faz o Tião, e outros jornalistas corajosos). Se está difícil de entrar: pior é acertar, - quando cada pessoa só age segundo a sua emoção e/ou só segue a opinião do grupo onde ela já está inserida. "Da-lhes Olavo". Risos.”