14 de julho, de 2023 | 12:00

Opinião: Do individual ao coletivo

Domingos Murta *

A busca pelo reconhecimento da vocação individual tem se tornado um propósito, especialmente entre as novas gerações. É uma maneira de utilizar talentos e habilidades em uma atividade que garanta retornos pessoais ou econômicos, e que possa ser constantemente aprimorada. Essa jornada de autoconhecimento, aparentemente individual, pode ganhar novas dimensões se expandirmos o conceito para o coletivo e fomentarmos as vocações das diferentes regiões do país.

No estado de Santa Catarina, o talento para a produção de peças de vestuário transformou Brusque, um município com cerca de 140 mil habitantes. Essa atividade industrial fez com que o município tivesse cerca de 88% do seu PIB gerado pelos setores industrial e de serviços, ocupando no cenário nacional as posições 100ª e 56ª em número de empresas e IDH, respectivamente. O desenvolvimento produtivo local também traz retorno para o setor do turismo e contribui para a retenção de talentos na região

O exemplo da cidade catarinense é apenas um entre muitos e ressalta como o estímulo econômico por meio das vocações de cada região ajuda a proteger as tradições, fortalecer o sentimento de orgulho da comunidade e promover um desenvolvimento mais sustentável nas localidades.

“Desenvolver programas que visem às vocações dos
municípios pode contribuir para a criação de um futuro mais próspero”


Uma vocação regional retém os talentos na comunidade e pode ser uma alternativa para reduzir o fluxo migratório, que resulta em cidades quase “fantasmas” nas regiões mais interioranas e no aumento populacional das grandes metrópoles e regiões metropolitanas. De acordo com dados divulgados pelo IBGE no Censo de 2022, 56,62% da população paranaense está concentrada em apenas 23 municípios, paradoxalmente 96 têm menos de 5 mil habitantes e 153 dos 399 perderam moradores nos últimos dez anos. Outro dado preocupante é o que mediu o crescimento populacional da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) de 10,4%, comparativamente com os 6,5% do Brasil, conforme o levantamento.

Esse dilema de fluxo migratório enfrentado há décadas no Brasil pode ser mitigado com políticas públicas voltadas para a retenção e o aperfeiçoamento dos talentos, incluindo as novas gerações. Investir na capacitação dos jovens em suas comunidades, preparando-os para atuarem nas atividades vocacionais de suas regiões, ajuda a estimular o desenvolvimento local.

Essas vocações regionais são latentes. Em Apucarana, no Norte do Paraná, uma escultura gigante na entrada da cidade relembra os moradores e informa os visitantes que aquela é a capital nacional do boné, título conquistado em 2010 pela Lei Federal 2.793/08.

Assim como Apucarana, que já descobriu e trabalha para fomentar sua vocação, tantas outras cidades do Paraná possuem características únicas, seja na produção industrial, na oferta de serviços ou nos recursos naturais, entre tantas outras capacidades ligadas à tradição de uma região, àquilo que elas “fazem bem”. Por esse motivo, desenvolver programas que visem às vocações dos municípios e que direcionam para ações práticas por meio de incentivos e capacitações, pode contribuir para a criação de um futuro mais próspero, especialmente nas áreas que têm enfrentado, ao longo das últimas décadas, o declínio populacional e econômico. Afinal, uma vocação é capaz de fortalecer o propósito de um indivíduo e fomentar o desenvolvimento do nosso estado e do país como um todo.

* Ex-presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR), vice-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), ex-presidente do Banco do Estado do Paraná (1996/1997).

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Comentários

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Tião Aranha

14 de julho, 2023 | 18:34

“Essa questão de desenvolver programas está mais é na vontade política. A região Sul foi muito favorecida pelo fluxo migratório, pelo clima e pelo solo. Deve ter herdado a mentalidade dos povos do primeiro mundo. Risos.”

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