12 de julho, de 2023 | 13:00

Opinião: A cada dia sua agonia, os desafios da Luta Antimanicomial

Edivaldo Farias *

Ao longo do tempo e, principalmente, após a pandemia de covid-19 a saúde mental alcançou novo patamar de importância devido ao desencadeamento de transtornos mentais em todo o mundo. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde (MS) anunciou o aumento de mais de R$200 milhões no orçamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para 2023, quase o triplo destinado atualmente.

Com 6% dos brasileiros sofrendo com transtornos mentais severos e persistentes e 12% necessitando de algum atendimento em saúde mental, o investimento da pasta vem ao encontro do fortalecimento das políticas de saúde mental de modo a promover o atendimento humanizado, ampliar o acesso da população aos serviços de atenção psicossocial ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e fomentar a Luta Antimanicomial, nascida em 1987, sob o preceito de que a liberdade é terapêutica e deve andar de braços dados à saúde e à cidadania.

O movimento foi fundamental para a reforma psiquiátrica, por meio da Lei 10.216/2001, com o fechamento gradual de manicômios e hospícios Brasil afora, bem como dez leis estaduais sobre o tema, mais de três mil Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), projetos de economia solidária e geração de renda, consultórios de ruas dentre outras atividades em prol da ressocialização de pessoas com transtornos mentais.

É preciso estudar o passado para construir um futuro diferente, com base nas experiências vividas. Neste sentido, a história da saúde mental no Brasil é, ao mesmo tempo, triste e complexa já que o país tinha o maior parque manicomial da América Latina, com mais de 100 mil pessoas internadas. Barbacena, inclusive, foi palco de uma das piores atrocidades brasileiras com o Hospital Colônia que, entre 1930 e 1980, contabilizou 60 mil mortes e era descrito como um verdadeiro campo de concentração.

Fato curioso, mais de 70% dos pacientes não sofriam nenhuma doença, eram crianças rejeitadas por mau comportamento ou por alguma deficiência, filhos nascidos fora do casamento, mulheres violentadas, epilépticos, alcoólatras, integrantes da comunidade LGBTQIAPN+. Ou seja, pessoas marginalizadas à época que apresentavam alguma característica diversa à ordem social e ameaçadora à civilização dos espaços.

“É preciso estudar o passado para construir um futuro diferente,
com base nas experiências vividas”


Para além de resgatar a história dos manicômios no país, o Movimento Antimanicomial é norteador ao cotidiano dos profissionais de saúde, pautados pelos princípios basilares do SUS de cidadania, equidade e integralidade. Modelo esse que ganhou reconhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS) em função de uma rede estruturada, com a oferta de serviços terapêuticos, o engajamento de diversos setores políticos e sociais e uma política de saúde mental exemplar.

O avanço ao contexto de saúde mental no Brasil começa com um adequado investimento em políticas públicas de saúde mental, focadas na garantia da dignidade, reinserção psicossocial e cuidado integral e humanizado em liberdade, perpassa a reorganização do modelo de atenção em saúde no qual troca-se a lógica da internação compulsória e exclusão social por serviços abertos, comunitários e territorializados e termina com o combate aos diversos estigmas e paradigmas da saúde mental enquanto lugar da loucura e periculosidade em um intenso trabalho de conscientização dentro e fora das unidades de saúde.

* Presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems/MG) e gestor de Saúde de Berizal

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Comentários

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Tião Aranha

13 de julho, 2023 | 20:24

“Bem lembrado, Gildazio, o maior legado do Machado foi a sua grande preocupação lá atrás com os conflitos sociais deste país. Questionamentos inteligentes. O fato é que quando estamos questionando sobre um determinado assunto, estamos, outrossim, da mesma forma ensinando para as pessoas. A humanidade está toda fora do equilíbrio. Lúcifer faz tempo vive por aqui fazendo confusão entre as pessoas e rindo até as orelhas. A única saída é aumentar nossas orações. O desamor entre as pessoas está muito grande. Assim, com orações, estaremos fortalecendo nosso espírito com Deus. Não temos outra saída. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

13 de julho, 2023 | 12:18

“Meu amigo leitor deste Portal Diário do Aço, Sr. Tião Aranha, arrasou mais uma vez, pois o seu brilhante comentário, apesar das imperdíveis ironias, me fez lembrar do Dr. Simão Bacamarte e a sua "Casa Verde". Puro Machado de Assis! Parabéns!”

Tião Aranha

12 de julho, 2023 | 22:15

“E quem falou que existe alguma pessoa totalmente normal está mentindo! A diferença é que existe alguns que consegue controlar melhor o seu eu. "Fica o tempo todo o meu (eu) interior brigando com o meu eu exterior; e eu no meio, tentando apartar os dois". A gente tá brincando mas a coisa é séria. Dois colegas meus suicidaram esta semana. Um queria levar consigo a família toda. Particularmente, acho que tem que ter acompanhamento médico. Depois da pandemia, muitos, principalmente jovens, ficaram com graves sequelas mentais que pode durar até vinte anos. Aí é que entra a Sabedoria. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

12 de julho, 2023 | 17:24

“Tem, também, um Documentário sobre o "Holocausto Brasileiro", com duração de uns 90 minutos, com direção da autora do livro.”

Gildázio Garcia Vitor

12 de julho, 2023 | 16:01

“Muito interessante! Mas a politica Antimanicomial, da qual sou totalmente a favor, é complicada para quem algum ente querido com problemas mentais graves em casa e não tem capacidade de cuidar dele. Ferreira Gullar, que tinha dois filhos com problemas mentais, era contra e ainda culpava as esquerdas por essa politica.
Também enfrentámos, especialmente uma irmã que reside na zona rural de Orizânia, alguns perrengue com o nosso pai.
Sobre Barbacena e seu Hospício, tem um excelente livro da Daniela Arbex, "Holocausto Brasileiro".”

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