11 de julho, de 2023 | 13:00
Doidices reflexivas da bugra...
Nena de Castro *
Ivo não viu a uva. Nem a Eva, que descia a rua de vestido florido e sandália de saltos altos. Ivo continuou trabalhando no jardim, furando o buraco onde plantaria um pé de cajá, presente de compadre Marcinho. Desejo de sua mãe dona Bastianinha. Que ele queria cumprir antes que a mãe batesse com as 10”! Eva caminhou até o ponto de ônibus e embarcou. Ia ao dentista no centro. Ivo parou o trabalho e foi tomar café, pitar um cigarrinho, coçar o respectivo e pegar o jornal. Eva desceu do busão ali perto da prefeitura e caminhou resoluta para a rua Diamantina.Olhou uma blusa numa vitrine e seguiu seu caminho até o consultório do dr. Adamastor. Ivo espiou rapidamente o jornal e voltou ao trabalho. Voltou a tirar a terra, caprichando no que fazia.
O sol começou a incomodar e ele passou protetor no rosto. Depois aplicou repelente, caprichando no pescoço e nos braços. Não queria pegar dengue ou chikungunya. Colocou um chapéu para proteger o cocuruto, e cavou, cavou e cavou.
Eva saiu do dentista com a boca dolorida e voltou pro ponto de ônibus ali na Praça Primeiro de Maio. Tomou o busu e seguiu sentindo dor. Ia tomar um comprimido quando chegasse em casa.
Nisso, no ponto ali do Contingente, embarcou uma fiandeira que fiava, fiava e ao mesmo tempo falava, falava e ninguém nada entendia. Dos fios da fiandeira surgiram um poeta, um monstro e uma fada. O poeta recitava versos lindíssimos, o monstro atrapalhava e a fada comia brigadeiros.
Eva queria um docinho da fada, mas a boca doía e ela achou melhor furtar um e guardar para mais tarde. Zangada, a fada a transformou numa anta até que chegasse em casa.
O monstro começou a rir da pobre Eva e disse que ela parecia um aforismo. Eva se zangou e estapeou o atrevido, dizendo que aforismo era a mãe dele, ara!
Em casa, Ivo terminou o serviço e foi buscar a enorme muda do pé de cajá. Na volta, tropeçou e caiu, indo direto para o buraco. Xingou alguns palavrões, plantou a pequena árvore, regou e foi tomar banho. Uma ratazana passou correndo, gritando por Alice, seguida por uns zói de gato e um coelho doido que pitava marijuana.
Eva chegou em casa, voltou a ser gente, passou água de sal e vinagre na boca, tomou o remédio e foi atirar o pau no gato.
Ivo saiu pela porta da frente, pegou sua galinha de estimação e foi pra tonga da mironga, onde o monarca ouvia as histórias de Sherezade.
Eva, por sua vez, tocou fogo no mundo, felizmente apagado pelos bombeiros, um dos quais se apaixonou por ela. Ele disse que tinha um segredo e resolveu mostrar para a moça, afim de evitar futuras complicações. Então exibiu-lhe o rabo fino, enorme, que enrolava ao redor do cintura e explicou que tal e qual Gabriela, nascera assim e era mesmo assim, era pegar ou largar. A moça riu e disse que também tinha um probleminha, deu-lhe óculos especiais e tirou a peruca. Exibiu seu cabelo, ou melhor as víboras vivinhas da silva, vez que era Medusa, aquela moça estuprada por Poseidon dentro do templo de Atena que ainda foi castigada pela deusa, com os cabelos de cobra. E a Bugra quer saber qual foi o castigo do estuprador, que negócio é esse da vítima levar ferro em todos os sentidos e o macho sair incólume? Afee! Até tu, Atena? Bem, as outras moças do templo fizeram uma passeata contra o machismo, a polícia foi chamada e o pau comeu solto, sendo todas conduzidas para a delegacia.
Ivo, encantado pela narrativa de Sherezade, que entendia como ninguém o segredo do ritmo, da entonação e da pausa para enfeitiçar os ouvidos cansados” pelo ruído do tráfego de São Paulo (e do gritaria dos torcedores em dia de FLA X FLU) que aborreciam o soberano assassino, ficou observando e ouvindo por trás da cortina, até que a galinha cacarejou e deu um cafuçu danado; acabou fugindo com a irmã de Sherezade e a galinha foi pra panela de sopa do rei.
Então o rei começou a cantar Quando a lua estiver na sétima casa/ e Júpiter alinhar-se com Marte/ então a paz regerá os planetas/ e o amor regerá as estrelas/ era de Aquário/ harmonia e compreensão/ simpatia e confiança/ sonhos, confiança brilhantes visões/ e a verdadeira libertação da mente/ na era de Aquário!”
Posé, a gente cantava esse hino (Aquarius) na década de 70 quando os hippies escandalizavam o mundo com o musical Hair”, sua filosofia natureba, drogas, antagonismo ao sistema e o lema faça, amor, não faça a guerra”! Ivo não os viu, Eva não os conheceu, mas sabem que o mundo vai de mal a pior com os putins querendo tacar fogo em tudo, e a gente pagando o pato, Infelizmente. E nada mais digo, a não ser que não tomo mais o xarope pra tosse, rs!
* Historiadora e encantadora de histórias
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Tião Aranha
11 de julho, 2023 | 21:17Boas anedotas. Sempre há os que levam muito, e tb, os que não deixam nada. (Levam tudo). O pobre vive sempre enganado cavando seu próprio buraco e muitas das vezes nem dá pra plantar nada! Pior do que a guerra do Putin, é saber que a turma do Dirceu tá de volta. Nada acontece por acaso. Risos.”