09 de julho, de 2023 | 09:30

Apesar da modernização nos bancos, ferramentas mais acessíveis para idosos são necessárias

O segundo volume da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2023 (ano-base 2022) revela que as transações bancárias digitais crescem cada vez mais no Brasil, enquanto o número de operações realizadas nas agências diminui proporcionalmente. No total, os brasileiros fizeram, no ano passado, 163,3 bilhões de transações digitais nos vários canais de atendimento disponibilizados pelos bancos, representando um significativo aumento de 30% em comparação com 2021.

O levantamento também revelou recuo nas transações feitas pelos brasileiros nas agências bancárias: caíram de 3,3 bilhões para 3,2 bilhões. As operações feitas em caixas eletrônicos também reduziram (passando de 7,4 bilhões para 5,4 bilhões), assim como as realizadas em central de atendimentos e correspondentes (de 5,5 bilhões para 5,2 bilhões). Diante disso, em algumas agências bancárias, o número de caixas eletrônicos tem sido até reduzido.

Sem exclusão

Conforme o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa de Ipatinga (CMDPII), Vasco Lagares, apesar dessa modernização, é importante os bancos não deixarem de lado as ferramentas tradicionais que facilitem as operações bancárias para os idosos, uma vez que muitas pessoas da terceira idade têm dificuldade para lidar com equipamentos tecnológicos. “Sabemos que o atendimento bancário por meio digital é algo que tende a ser ampliado. No entanto, isto não pode ser impedimento para que as pessoas idosas sejam incluídas neste processo ou sejam vítimas de golpes nesta área”, afirmou.

A dificuldade dos idosos apontada por Vasco pode ser facilmente percebida por qualquer pessoa. No círculo familiar é comum encontrar pessoas com idade mais avançada, que não conseguem acessar os aplicativos bancários ou fazer operações digitais sem auxílio.

Exemplo disso é Zenedes Gomes de Oliveira, de 69 anos, que conversou com a reportagem do jornal Diário do Aço na manhã deste sábado (8), em um banco localizado no Centro de Ipatinga. “Não tenho facilidade de mexer nos serviços digitais, acho bem complicado, não tenho experiência sobre isso. Já aconteceu de eu não conseguir fazer uma operação por meio digital muitas vezes. Prefiro ir ao banco e mexer no caixa eletrônico, porque na internet não sei como fazer. Quando tenho que fazer alguma operação digital preciso pedir ajuda a um parente”, detalhou.

Ferramentas acessíveis

Vasco Lagares ressaltou que o Estatuto da Pessoa Idosa, Lei 10.741/2023, trata como crime contra a pessoa idosa impedir ou dificultar o seu acesso às operações bancárias. “Neste sentido, é importante que as instituições financeiras adotem ferramentas mais acessíveis, atendimento diferenciado nas agências e tenham uma política institucional voltada para a inclusão e o respeito à pessoa idosa. Principalmente, respeitando as particularidades quanto ao tempo que é utilizado para as operações e a validação destas operações que garanta a segurança de suas informações”, destacou.

Golpes

O presidente do CMDPII salientou a necessidade do reforço de medidas de segurança nos bancos para evitar que idosos possam ser vítimas de golpes, já que tendem a ser um alvo mais atraente dos criminosos. “Outro aspecto que as instituições precisam ficar atentas é quanto aos golpes financeiros aos quais a pessoa idosa está sujeita e são vítimas preferenciais”, disse.

Crime

O Estatuto do Idoso, instituído em outubro de 2003, caracteriza como crime em seu artigo 96 a discriminação da pessoa idosa impedindo ou dificultando seu acesso a operações financeiras. “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena de reclusão de seis meses a um ano e multa”.

Iniciativa de cada instituição

A reportagem do Diário do Aço abordou a Federação Brasileira de Bancos (Febraba) sobre quais medidas têm sido adotadas pelos bancos para facilitar o acesso dos idosos às operações bancárias, que respondeu que não cabe a ela essa inciativa. “A Febraban não tem estas iniciativas e soluções catalogadas, porque isso cabe a cada instituição financeira, no âmbito de sua política de negócios”, afirmou.