08 de julho, de 2023 | 14:00

Opinião: Terceiro setor: um mercado com investimentos de R$ 18 bilhões

Tomáz de Aquino Rezende *

Quando se pensa em economia de mercado, é provável que a primeira imagem que lhe venha à cabeça seja a mais óbvia: relações de consumo, de troca, de transações monetárias. Desde que o mundo é mundo, esse tipo de relação existe. Mas hoje, a lei de oferta e demanda não é mais regida apenas pelo encontro entre quem quer vender e quem quer comprar. O consumidor passou a exigir que as marcas tenham mais do que bons produtos. Elas devem ter também boas práticas, o que inclui um olhar mais solidário para as causas sociais.

Isso ajuda a explicar em parte os motivos pelos quais as empresas estão cada vez mais engajadas em ações de apoio a ONGs e entidades filantrópicas. O resultado é que o volume de investimentos no terceiro setor cresce em proporções bastante vultosas. Em 2021, esse montante alcançou a casa de R$ 18,7 bilhões, 60% a mais em comparação com o ano anterior, quando o investimento em causas sociais foi de R$ 11,5 bi. Os números são do Relatório de Investimentos de Impacto no Brasil de 2021, divulgado pela Aspen Network of Development Enterpreneurs (Ande), e patrocinado pelo Grupo Boticário, Fundo Vale e Potencia Ventures.

“O consumidor passou a exigir que as
marcas tenham mais do que bons produtos”


Torna-se evidente que o cenário foi impulsionado pela pandemia de covid-19, mas este detalhe só corrobora com a reflexão em torno dos papéis das corporações no mundo além das cifras. A reputação, como ativo intangível para as marcas, ganhou aportes volumosos, que se converteram em apoio a entidades não-governamentais. No contexto da pandemia, foi uma espécie de contrapartida necessária num momento em que o consumo havia definhado diante do aumento do desemprego e da reclusão.

O levantamento da Ande debruça, portanto, sobre um momento peculiar da história. Mas isso não me parece suficiente para cravar que os investimentos no terceiro setor durante a pandemia tenham sido só uma marola, e que a retomada do consumo vai representar o recuo das empresas à atenção social. A pandemia, como bem se sabe, antecipou em anos muitos avanços, e a vigilância em torno das empresas acabou deixando a fiscalização e as exigências dos consumidores ainda maiores, de modo que o cuidado para além das receitas é capaz de gerar novos leads.

Essa conscientização coletiva dos empreendedores parece ter muito mais a ver com uma tendência de fortalecimento, que pode fazer emergir novas iniciativas nos próximos anos, oferecendo transformações sociais ainda mais robustas. As adesões têm capacidade de ser bastante impactantes e, convenhamos, também são bastante bem-vindas, sobretudo porque que o terceiro setor já comprovou dar um retorno consistente para a sociedade.

* Advogado, especializado no terceiro setor e intersetorialidade - [email protected]

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