20 de junho, de 2023 | 14:00
Opinião: Ixe!
Nena de Castro *
Contam que nos tempos de antanho, um moleiro, preocupado com sua linda filha ainda solteira, resolveu casá-la com o primeiro homem apropriado que aparecesse e pedisse sua mão. Então apareceu um pretendente que parecia ser muito abastado que nem político em Brasília e como não havia google ou facebook para pesquisar possíveis problemas do futuro genro, noivou a filha com o rapaz. No entanto, a garota não foi com a fuça do sujeito e não confiava nele, sentindo verdadeira aflição ao imaginar-se casada com o dito cujo.Naquele tempo as filhas obedeciam ao pai, e o casamento se aproximava. Um dia, o noivo lembrou à moça que ela lhe devia uma visita. A moça respondeu que não sabia onde ele morava e foi logo informada que não era em Pindamonhagaba, Tróia ou Pasárgada, mas sim na Floresta Negra e que no próximo domingo ela devia aparecer em sua casa. Já havia convidado amigos para esse dia, e marcaria ao caminho com cinza para que ela achasse a morada.
A moça, com um mau pressentimento, encheu os bolsos com ervilhas e lentilhas e foi marcando o caminho. Caminhou o dia todo, até chegar à parte mais escura e sombria da floresta. (E eu com vontade de dar uma sova no moleiro, vê se filha minha ia entrar pela floresta sozinha, ieu, hein?). Bão, a moça foi andando e de repente viu uma fogueira e curtindo o fogo e tomando quentão, estavam a Cuca e o Saci Pererê, conversando sobre a política brasileira, destacando que aos presidentes da Câmara e do Senado adequava-se muito bem uma obra do escritor português Camilo Castelo Branco, no século XIX, que criticando a velha guarda da academia portuguesa de letras, escreveu Vaidades Irritadas e Irritantes”.
Nisso apareceu a Ger, minha sabiá cantante e falante que aconselhou aos dois sartarem de banda, pois estavam na história errada. Ger ainda apareceu para a moça e falou: Foge, foge, jovem donzela de trato fino. Não te demores aqui, no covil desse assassino”. E voou para Paris, mesmo porque ninguém a tinha chamado pra entrar na narrativa, ara!
A moça percorreu todos os cômodos vazios da casa e, no porão, encontrou uma velha senhora que não parava de balançar a cabeça e lhe disse pra sartar de banda, pois o pretenso noivo e seus pares eram canibais, que raptavam as donzelas, partiam-nas em pedaços, cozinhavam e comiam. (Sei que o feijão tá caro, mas também, não exagerem, rapazes!) Aí os malfeitores chegaram com uma vítima, fizeram todo o ritual macabro e quando partiam a pobre moça, a mão caiu no canto onde nossa heroína se escondia e ela percebeu que havia um anel valioso no dedo. Ela pegou o anel, fugiu, levou pra Polícia Federal, que quis logo saber se ele fazia parte do lote de joias que vieram das arábias, o colar e os brincos daquela confusão. A moça declarou que nada sabia dessa história, já tinha problemas demais e voltou pro pai, onde armou uma casa de caboco pro noivo e ele foi preso.
A moça preferiu ficar solteira e fundou uma associação para lutar pelas donzelas indefesas e professoras estaduais e municipais que não recebem seus reajustes, e eu já me mandei porque os Irmãos Grimm querem me acertar, por ter avacalhado uma de suas instigantes histórias, cujo título é A Noiva e o Ladrão”! E juro pelos ovos que urubu botou, que não tomo tóxicos de jeito nenhum, e a minha alucinação é suportar o dia a dia”, como disse Belchior. E nada mais ouso dizer! Rs...
* Escritora e encantadora de histórias
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Gildázio Garcia Vitor
20 de junho, 2023 | 18:39Uma "viagem" dessas, maravilhosa, por sinal, nem tomando chá de Santo Daime consigo fazer. Talvez, de trombetas.”
Tião Aranha
20 de junho, 2023 | 17:56Bom texto. Realismo mágico ou fantástico, criando uma história de ficção para justificar outra. Naquele tempo as filhas obedeciam os pais, e se o noivo fosse um prof de escola da rede pública, aí é que não tinha chance mesmo! (Até hoje ainda é assim). Mas o homem é um animal belo que mesmo em si nunca deixará de ser belo ( Artigo XI, Thiago de Melo). Segundo o niilismo, ele haverá sempre de procurar fazer-se em si ( sempre melhorando como faz Deus). Tem que sonhar e acreditar. Risos.”