20 de junho, de 2023 | 13:00
Opinião: Por que os carros estão mais baratos que em 1993?
William Passos *
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou, dia 14/6, a lista das montadoras que aderiram ao programa de carros mais baratos, lançado pelo governo federal em 5 de junho. Nove montadoras baixaram os preços, colocando à disposição 233 versões de 31 modelos de carros populares”. Com isso, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que os créditos tributários do Ministério da Fazenda devem colocar no mercado brasileiro até 110 mil novos automóveis, contando apenas os carros de passeio.Como era de se esperar, a Medida Provisória (MP) n° 1175/2023 gerou reações, seja pelos efeitos limitados do programa, que deve durar cerca de um mês e atingir somente uma fração da classe média, seja por aqueles que defendem maior atenção ao transporte público. Fato é que, desde JK, o Brasil mergulhou num desenvolvimentismo bossa nova” em matéria de mobilidade urbana, com a opção do primado do automóvel sobre qualquer outra forma de deslocamento, tendo como referência o modelo dos EUA, um país integrado por rodovias de norte a sul e de leste a oeste.
Símbolo de pertencimento à classe média, assim como a aquisição da casa própria e da cobertura de um plano de saúde, o desenvolvimentismo bossa nova” articula uma cadeia socioeconômica de diferenciação, que impulsiona as vendas do parque industrial automobilístico, a geração de empregos formais com salários acima da média do mercado de trabalho brasileiro e, naturalmente, mais trânsito, congestionamento, acidentes, vítimas fatais, atendimentos em emergências hospitalares, necessidade de criação e conservação de asfaltos e calçamentos e poluição ambiental.
Em 1993, o então presidente Itamar Franco lançou um programa de incentivo à indústria automobilística, com o claro objetivo de popularizar o automóvel no Brasil. Se atualizado pela inflação oficial, pelos cálculos da Anfavea, o carro mais barato de 1993, que não tinha sequer retrovisor do lado direito, custaria hoje algo em torno de R$ 80 mil.
Transporte público de qualidade é o melhor
para todos, inclusive a classe média
interessada no carro popular versão 2023”
Exatos 30 anos depois, no site da Renault, o Kwid 1.0 Zen 0 km, o mais barato do país neste 2023, está sendo vendido a R$ 58.990, já incluídos os R$ 8 mil de desconto do governo federal e o bônus de R$ 2 mil oferecido pela montadora. Direção elétrica, ar-condicionado, travas e vidros elétricos, sistema Stop & Start, monitoramento da pressão dos pneus, indicador de temperatura externa e airbags são algumas das tecnologias de conforto e segurança do flex mais econômico do país quando o assunto é consumo de combustível.
De qualquer maneira, a iniciativa, mais carregada de simbolismo político que de efeito prático, ajuda a conferir centralidade ao debate sobre transporte e mobilidade urbana. Ao privilegiar exatamente o tipo de veículo utilizado por uma fatia da classe média, a partir da concessão de um subsídio governamental, a discussão sobre a precariedade do transporte público, que padece de um problema crônico de subfinanciamento e atende exatamente a camada mais pobre da população (até 2 salários mínimos), ganha espaço.
Salvo nas regiões metropolitanas consorciadas, o transporte público municipal fica a cargo das prefeituras, enquanto o intermunicipal é competência dos estados, nos casos de municípios pertencentes ao mesmo estado. Com o abandono do projeto de integração territorial pelo trem, desde JK, o rodoviarismo forçou a hegemonia dos ônibus nos deslocamentos coletivos das cidades brasileiras. Os estudos apontam que em cidades com ônibus de qualidade, donos de carros preferem deixar o veículo na garagem. E menos carros nas ruas significa maior fluidez no trânsito, deslocamentos mais rápidos e menor poluição ambiental.
Por isso, é muito importante que a questão do transporte público e da mobilidade urbana, que envolve também, por exemplo, o uso da bicicleta e a mobilidade à pé, entre no debate público dos municípios e na agenda dos prefeitáveis de 2024. Transporte público de qualidade é o melhor para todos, inclusive a classe média interessada no carro popular versão 2023.
* Geógrafo, coordenador estatístico e de pesquisa do Observatório das Metropolizações Vale do Aço IFMG Ipatinga e colaborador do Diário do Aço. Email: [email protected]
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]


















Tião Aranha
20 de junho, 2023 | 19:25O preço do carro popular é o mesmo praticado antes da pandemia. O que diminuiu foi o poder de compra do trabalhador. O mundo todo está em recessão econômica, até a China. O quão estão diminuindo a produção e a exportação. Se esse país não aumentar a sua geração de riqueza essa classe média que já está pobre vai ficar paupérrima. A Chauí tb gosta muito de discriminar a classe média. Mas é Ela que sustenta a Economia duma nação. Deveriam incentivar mais o agronegócio, tal qual fez o presidente anterior. Risos.”
Gildázio Garcia Vitor
20 de junho, 2023 | 13:20Excelentes ponderações! Tanto no referente ao subsídio oferecido à classe média, e aos poucos que conseguirão, quanto ao transporte coletivo, que precisam melhorar, e muito, inclusive em cidades médias, como Ipatinga e Coronel Fabriciano.”