18 de junho, de 2023 | 06:00
Felipão no Galo
Fernando Rocha
A semana que passou foi de data Fifa”, algo que acontece de tempos em tempos para que as seleções joguem pelo mundo afora - inclusive a nossa, que ontem na Espanha enfrentou a fortíssima” Guiné Bissau -, em amistosos caça-níqueis que só servem para a dona Fifa fazer a política da boa vizinhança e rechear os cofres das federações.Apesar disso, aqui nos nossos grotões, os bastidores dos nossos principais clubes estiveram bastante agitados, sobretudo, no Atlético, com a saída inesperada do treinador Eduardo Coudet, após o empate de 1 x 1 com o Bragantino, no Mineirão, pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Mais surpreendente ainda foi a contratação do substituto, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, 74 anos de idade, após dois nãos” dos portugueses Bruno Lage e Carlos Carvalhal.
Felipão deixou o cargo de diretor-técnico do Athletico-PR, seduzido pela proposta alvinegra para voltar a dirigir um time à beira do gramado, ganhou contrato até o final de 2024, uma nova e moderna Arena MRV que será inaugurada dentro de alguns meses, além do elenco muito qualificado que terá nas mãos, um dos cinco melhores do continente.
O que impressiona é a falta de coerência ou convicção da diretoria do Galo, que troca de técnicos em média duas vezes ao ano, sem seguir um modelo tático comum de atuação para a equipe como agora, o que não invalida a contratação de Felipão pelo momento atual que passa o time.
Campeoníssimo, muito bom de vestiário, agregador de grupos, o torcedor do Galo não precisa esperar grandes novidades na parte tática com Felipão no comando, mas, como ele mesmo promete - em vídeo gravado após a sua confirmação no cargo -, verá certamente um time vibrante em campo, com disposição, alma de vencedor, muita coragem, o que se encaixa com o gosto e o estilo da torcida, que pode dar liga se for capitalizado junto à qualidade individual dos jogadores e, quem sabe, conquistar títulos.
Sem casa
O Cruzeiro vive um contraste no Campeonato Brasileiro: visitante indigesto e amigão dos adversários quando é mandante.
O problema começou no início da temporada, quando a SAF/Cruzeiro decidiu peitar a administradora do Mineirão, dizendo que não jogaria mais no Gigante da Pampulha”, enquanto não tivesse a garantia de lucros maiores na utilização do estádio.
A Minas Arena, administradora do Mineirão, para preencher as datas que ficaram vazias sem os jogos do Cruzeiro, escandalizou de vez e, sem nenhum critério, agendou shows artísticos até o fim do ano com a utilização do gramado, que foi praticamente destruído.
Quando a SAF/Cruzeiro recuou e decidiu voltar ao Mineirão encontrou a casa arrasada, mas, nesse meio tempo, virou um time cigano” e se deu mal em estádios de Brasília, Cariacica-ES, Sete Lagoas, Uberlândia, além do Independência, onde fica sujeito aos caprichos da diretoria do América.
A consequência disso foi levantada pelo Departamento de Matemática da UFMG, que coloca o time celeste como o sexto pior mandante nas dez primeiras rodadas do Brasileiro, contrastando com o quarto melhor aproveitamento, 53,3%, na condição de visitante, atrás apenas de Atlético, Cuiabá e Palmeiras.
FIM DE PAPO
A chance de melhorar a sua situação como mandante vem a partir desta semana, quando fará dois jogos seguidos em Belo Horizonte. Primeiro enfrenta o Fortaleza, na quarta-feira, às 19h, no Mineirão. Mas, no próximo sábado, às 21h, vai ter que voltar ao Independência para pegar o São Paulo, pois o Mineirão estará ocupado por um show gospel chamado "Ore Comigo Music Festival". Só Jesus na causa!
Visando à Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil, o governo estadual da época firmou uma PPP - parceria público privada - com um consórcio de empreiteiras denominado Minas Arena, que efetuou a reforma do Mineirão. Foram gastos dezenas de milhões de reais, que estão sendo pagos até hoje com dinheiro de nossos impostos, para que o Mineirão se tornasse um dos mais modernos estádios do continente e atendesse, prioritariamente, o futebol. Hoje, o Gigante da Pampulha” se transformou numa grande casa de shows e deixou o futebol, a sua finalidade principal, em segundo plano. O atual governo estadual, verdadeiro e legítimo dono do Mineirão, assiste a tudo de braços cruzados como se não tivesse nada com isso. Faz o papel do cavalo em desfile de Sete de Setembro.
São estarrecedores os números divulgados esta semana pelo CEO/Atlético, Bruno Muzzi, em depoimento na CPI do abuso de poder” da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que investiga fatos ocorridos na gestão do ex-prefeito e ex-presidente do Galo, Alexandre Kalil, que teria dificultado ao máximo a construção da Arena MRV, estipulando contrapartidas absurdas que significaram a metade do custo total do estádio hoje estimado em R$ 750 milhões. O estranho nisso tudo é que Kalil, até o momento, não abriu a boca para contestar nada do que está sendo falado, e quem cala consente. A emissora de rádio da capital que pertence a um de seus opositores na política interna do clube tem divulgado, amplamente, esses fatos e explorado cada detalhe contrário a Kalil, mas não cita ao menos que o tenha procurado para se manifestar sobre as acusações, como manda o bom jornalismo.
O América reagiu ao conseguir um empate improvável, de 2 x 2, com o Internacional e ficou mais próximo de deixar a zona de rebaixamento na próxima rodada do Brasileiro. A sua diretoria continua pisando na bola e dando maus exemplos, ao tentar contratar agora o atacante Pedrinho, 23 anos, que pertence ao Lokomotiv/Moscou e estava emprestado ao São Paulo, que o demitiu por justa causa após denúncias comprovadas de ameaças de morte feitas à sua namorada. O Coelho já tem no elenco o lateral Marcinho, condenado a três anos e seis meses de prisão em regime aberto - o que já é um absurdo - por dirigir embriagado, atropelar e matar um casal de professores no Rio de Janeiro, quando atuava pelo Botafogo, com o agravante de ter fugido do local e não ter prestado socorro às vítimas. Se continuar nessa toada, daqui há pouco, vamos ver o zagueiro Eduardo Bauerman de volta ou quem sabe até a diretoria americana promova um apoteótico retorno do goleiro Bruno para encerrar a carreira no clube. Assim, eles aproveitam que a torcida do Coelho é pequena e fazem o que querem e mancham a tradição centenária alviverde. (Fecha o pano!)
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