
30 de maio, de 2023 | 15:41
Participação coletiva será marca da construção do Estatuto da Igualdade Racial em Minas
Solenidade de lançamento na ALMG contou com a presença de parlamentares, autoridades e cidadãos
(Assembleia legislativa de Minas Gerais)Clarissa Barçante
Durante lançamento, a secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Elizabeth Jucá, propôs a elaboração de um Plano de Igualdade Racial para Minas Gerais

Foi lançada nesta terça-feira (30/5/23), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a agenda de diálogos para a construção do Estatuto da Igualdade Racial no Estado. A iniciativa é da 1ª vice-presidenta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputada Leninha (PT), e das deputadas Ana Paula Siqueira (Rede), Andréia de Jesus (PT) e Macaé Evaristo (PT).
A solenidade, realizada no Auditório José Alencar, contou com a participação de autoridades, representantes de associações e entidades e cidadãos, entre outros, que estão unidos em prol da elaboração de um estatuto que contribua para a implementação de políticas de igualdade racial e de combate ao racismo.
Conforme as parlamentares, a construção da agenda por um estatuto em Minas Gerais deve durar, aproximadamente, nove meses e a proposta é a realização de um amplo debate com o objetivo de coletar sugestões para o documento. Para isso, serão realizadas, por exemplo, audiências públicas e visitas técnicas.
O objetivo da agenda é mapear os marcos normativos antirracistas presentes na legislação estadual; e ampliar o debate público sobre a temática racial e políticas públicas de combate ao racismo.
Durante a abertura da solenidade, a 1ª-vice-presidente do Parlamento mineiro, deputada Leninha (PT), destacou a importância da presença de mulheres negras em espaços de poder, discussão e tomada de decisão, como a Mesa e as Comissões. Representando o presidente, deputado Tadeu Martins Leite (MDB), ela afirmou que a agenda guiará os trabalhos para a construção de um estatuto com a participação de vários segmentos da sociedade.
A parlamentar lembrou o caso de racismo sofrido pelo jogador brasileiro Vini Jr., que atua no futebol espanhol, para salientar que condutas como essas não devem ter espaço nas sociedades. O racismo fere suas vítimas mais diretas, mas ele prejudica a todos”, afirmou. Leninha citou iniciativas já desenvolvidas pelo Legislativo mineiro, como a aprovação da Lei 18.251, de 2009, que criou o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, e defendeu a destinação de mais recursos para a concretização das políticas públicas existentes.
O senador Paulo Paim (PT-RS), que criou o Estatuto da Igualdade Racial, participou da solenidade por meio de um vídeo gravado. Ele lembrou que a norma completará treze anos em 2023 e se trata do instrumento mais completo para a promoção da igualdade racial no país. O senador valorizou a criação de estatutos pelos Estados para que as ações sejam realmente implementadas.
Construção coletiva para a garantia de direitos e liberdades
Clarissa Barçante
Previsão é que o processo de construção do Estatuto da Igualdade Racial dure cerca de nove meses

Para a presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, deputada Ana Paula Siqueira, o estatuto significa mais do que fazer política, mas fazer história e melhorar a perspectiva futura da nossa sociedade”. Ela disse, ainda, que é necessário extrapolar o 13 de Maio e o 20 de Novembro para levar o debate sobre as causas e os direitos da população negra para o dia a dia.
Já a presidenta da Comissão de Direitos Humanos, deputada Andréia de Jesus, lembrou que a sociedade não se cala mais diante do racismo e que a Assembleia está atenta e disposta a verificar porque as políticas para a população afrodescendente não têm sido efetivadas. Nós queremos um Estado que cresça, mas ele não vai crescer sem nós”, destacou.
A líder da Bancada Feminina da Assembleia, deputada Macaé Evaristo, chamou a atenção para os desafios enfrentados, como as contradições do Estado brasileiro em relação ao racismo e à necessidade de desconstrução de privilégios. Ela informou que as deputadas protocolaram uma proposta preliminar de estatuto, que será modificada a partir das colaborações feitas durante o desenvolvimento da agenda.
A coordenadora do Centro Nacional de Africanidades (Cenarab), Makota Celinha, afirmou que a elaboração de um estatuto contribui para a construção da equidade entre os cidadãos.
Falar do Estatuto no Estado é reconhecer que Minas Gerais nunca garantiu liberdade para suas negras e seus negros. Ainda há uma hegemonia racista de pessoas que não conseguem conviver com a diversidade e a pluralidade.”
Makota Celinha
Coordenadora do Centro Nacional de Africanidades
A secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Elizabeth Jucá e Mello Jacometi, parabenizou a Casa pela iniciativa e considerou que uma política transversal para a igualdade racial deve priorizar a construção em rede para obter um resultado efetivo. Ela propôs, paralelamente ou após a construção do estatuto, a elaboração de um Plano de Igualdade Racial para o estado de Minas Gerais.
O promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Allender Barreto Lima da Silva, destacou o papel da Assembleia para a visibilidade de pautas antes pouco tematizadas, como a defesa dos direitos dos povos negros e indígenas e das mulheres.
Expositores defendem que demandas específicas devem ser atendidas
O lançamento da agenda contou, ainda, com duas exposições orais. Uma foi da deputada federal Dandara (PT-MG), que destacou que nunca houve, de fato, uma política pública para reparação aos danos causados à população negra no País desde o período da escravidão.
Ela lembrou da luta histórica do movimento negro para a garantia de direitos, como o acesso à educação superior pública por meio da Lei Federal 12.711, de 2012, conhecida como Lei de Cotas. Para Dandara, essa política conta com fragilidades que devem ser enfrentadas, como a falta de condições para que os estudantes se mantenham nos cursos.
A outra exposição foi a do analista de políticas públicas do Centro de Referência da Juventude da Prefeitura de Belo Horizonte, Marcos Cardoso. Ele considerou que ainda existe uma subalternidade muito violenta nas relações sociais e que é necessário que ela seja levada em consideração para a mudança da realidade.
Ele sugeriu que o estatuto recomende, por exemplo, ações que valorizem a memória e o saber da população negra em Minas Gerais; dialoguem com setores da economia para tratar das desigualdades de oportunidades; e tratem do acesso à terra.
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