23 de maio, de 2023 | 06:00

Vergonha mundial

Fernando Rocha

Ao abrir a entrevista coletiva pós-jogo, o técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, perguntado por uma repórter sobre a atuação do time, respondeu:

"E tem como falar de futebol? Faz sentido assistir a um campeonato conivente com o racismo? O que as empresas apoiadoras da La Liga têm a dizer sobre os gritos de macacos contra Vinicius Júnior? O Santander entende ser ok ver sua marca associada a cânticos abertamente racistas? Fará algo além de hastags de marketing ou repostas de relações públicas? Isso vale no mundo todo. La Liga é o segundo campeonato nacional do mundo do futebol em arrecadação com direitos internacionais. Será que todo mundo continuará a pagar regiamente Tebas por atacar vítimas de racismo?"

Ancelotti foi o único representante do time madrilenho a ficar ao lado de Vini Jr., chamado de “mono” (macaco, em espanhol) por quase a totalidade dos torcedores valencianos presentes ao estádio.

Infelizmente, os atos de racismo acontecem todos os dias, pelos quatro cantos do mundo, inclusive aqui no Brasil, mas com todo o desplante, a frequência dos atos praticados pelos espanhóis se transformou em algo extraordinário.

Se a vítima, Vinicius Jr., é simplesmente o melhor jogador de La Liga e para muitos o melhor do mundo, imaginemos o que acontece naquele país com outros anônimos, só pelo fato de ser negro.

Conivência cruel
Fez bem o presidente Lula de se manifestar em defesa de Vini Jr., afinal de contas, trata-se de agressão a um cidadão brasileiro fora do nosso país.

A La Liga, responsável pelo campeonato espanhol, os órgãos de controle por lá, nada têm feito de relevante para combater o rotineiro racismo de uma parcela significativa da população espanhola que escolheu ser algoz de Vinicius Jr., a sua vítima favorita.

Pior, ainda, é que uma boa parte da mídia espanhola minimiza os acontecimentos, que se repetem com uma frequência assustadora em todos os jogos por todo o país, quando não os justifica da forma mais absurda possível.

O Real Madrid, que tem na sua história a mancha de suas ligações com o ditador Francisco Franco, que governou a Espanha de 1939 até 1975, perseguindo e matando opositores, também, quase nada faz nada na defesa de sua estrela principal.

FIM DE PAPO

Vinicius Jr. foi herói e decidiu encarar os agressores. Acabou expulso de campo e o jogador do Valência, que o agrediu, nada sofreu. Puniram a vítima. Na sua entrevista, Vini Jr. foi direto. "Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal em La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito”.

A Espanha é um país de lugares lindos e tem um povo em sua maioria acolhedor. Mas tem uma parcela da população intragável, racista e xenofóbica ao extremo. Quem já passou pela imigração no Aeroporto de Barajas, em Madrid, principalmente rumo a Portugal, sabe muito bem disso. Quando percebe que somos de um país pobre, principalmente sul-americano, o funcionário espanhol da imigração abusa com palavras discriminatórias, nojentas, aumentando o tom das ofensas se a pessoa for negra. Costumam mandar o cidadão de volta, mesmo com toda a documentação em dia, só pelo fato de ser negro ou oriundo de país sul-americano.

Só vejo uma maneira de fazer com que La Liga e as autoridades espanholas tomem de fato medidas duras para acabar com essa barbárie. Seria boicotar as empresas patrocinadoras, pois, a meu juízo, não faz sentido assistir a jogos de um campeonato conivente com o racismo. Certamente, as empresas apoiadoras da La Liga, como, por exemplo, o banco Santander, não querem seus nomes associados a cânticos abertamente racistas e, por isso, acho que uma campanha de boicote em nível mundial poderia fazer com que La Liga se sentisse pressionada e agisse com o rigor necessário para coibir esses absurdos.

Hoje tem um jogo decisivo para o Galo na fase de grupos da Libertadores. Precisa vencer de qualquer maneira o Athletico-PR, no Mineirão, para continuar vivo na maior competição continental. Mas, como disse o Ancelotti, não dá para ficar calado depois de tudo o que aconteceu, mais uma vez, com o Vini Jr. na Espanha. (Fecha o pano!)
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