18 de maio, de 2023 | 06:51
No mês das bodas de prata, dois ícones do Ipatinga FC relembram momentos e contam sua trajetória
O ex-zagueiro William Machado e o ex-goleiro Rodrigo Posso marcaram época com a camisa do Tigre e foram líderes da campanha da maior glória da história do clube
Reprodução Instagram
William Machado iria abandonar o futebol em 2005, mas o triunfo do Ipatinga o encaminhou ao sucesso no Grêmio e Corinthians e à realização financeira

Na semana em que o Ipatinga Futebol Clube completa 25 anos de fundação (21 de maio de 1998), o Diário do Aço relembra um pouco dos seus grandes momentos por meio de depoimentos de dois dos seus principais jogadores, o ex-zagueiro William Machado e o ex-goleiro Rodrigo Posso. Os personagens falam dos momentos marcantes e do que representou o clube em suas carreiras, cada um vivendo uma realidade diferente no cotidiano atual.
William tornou-se empresário especializado em finanças que cuida da carreira de desportistas e Rodrigo Posso fixou residência na cidade, onde cuida de uma bem-sucedida escola de futebol.
A gratidão do eterno capitão”
Novamente residindo em Belo Horizonte (é natural da capital mineira), após morar em São Paulo por vários anos, William Machado é sócio da Messem, escritório vinculado à XP Investimentos, que tem como projeto principal ensinar as pessoas a cuidar do seu dinheiro. Boa parte dos clientes são atletas e ex-atletas preocupados com as finanças, especialmente no período pós-carreira. Depois do Ipatinga, atuou no Grêmio e no Corinthians, nos quais brilhou, fez dinheiro e despertou para o segmento das finanças.
Aos 46 anos, William, que é formado em Ciências Contábeis (estudou desde os tempos de jogador do Ipatinga), conta que ao vir para o Tigre pela segunda vez, em 2005, já com 28 anos, esperava encerrar a carreira ao fim daquele Campeonato Mineiro, pelas diversas incertezas ao longo de uma carreira iniciada na base do América e com passagens meteóricas por diversos clubes, boa parte delas com baixos salários e poucos meses de trabalho no ano.
O título estadual mudou seu destino, veio a oportunidade no Grêmio, com equilíbrio e projeto de vida sólido deslanchou de vez quase aos 30 anos, ganhou fama nacional, condição de capitão do clube gaúcho e do Corinthians, incluindo levantamento de taças.
Para ele, a conquista do título de 2005 (já havia passado pelo clube entre 1999, 2000, 2001 e 2002) foi uma sensação indescritível”. Disse, ainda, que não passava pela cabeça o título mineiro: Não tínhamos expectativa de vencer e sim um sonho. Lembro que perdemos duas partidas ao longo do campeonato e o Cruzeiro, nosso adversário na final, chegou invicto. Fomos para o Mineirão com aquele sonho na cabeça, quando veio o apito veio um misto de alegria e de incredulidade, até a ficha cair”.
Sabíamos, conforme conversei com o Rodrigo Posso no início do ano, que teríamos muita dificuldade, pois a maioria era inexperiente, incluindo a comissão técnica, mas à medida que a campanha foi evoluindo, vimos que poderíamos sonhar com algo a mais, principalmente a partir dos 4 a 0 sobre a URT na semifinal”, afirmou.
O eterno capitão ressalta que o jogo inesquecível na passagem pelo Tigre foi mesmo a decisão contra o Cruzeiro, na vitória de 2 a 1, incluindo gol dele que ajudou na conquista (o outro foi de Leo Medeiros, atualmente residindo em Recreio, sua terra natal, onde é o atual vice-prefeito).
William Machado ressalta a gratidão pela oportunidade dada pelo treinador Wantuil Rodrigues, que o trouxe para o Ipatinga na primeira oportunidade, em 1999, após um litígio com o América, quando chegou a pensar, pela primeira vez, em deixar o futebol. Outro treinador ressaltado como apoiador e grande amigo é Ricardo Drubsky.
Antes de pensar em se despedir do futebol”, no fim de 2004, veio assistir à final da Taça MG do Tigre contra o Uberlândia, comemorou com os companheiros, foi relembrado” pelo presidente Itair Machado, que lhe ofereceu novamente o contrato para disputas da Copa do Brasil e Mineiro de 2005, abrindo literalmente uma espécie de porta da esperança” e de solidificação da sua carreira.
William ressalta que a atividade atual o impede de retornar à cidade, a ponto de estar longe há mais de dez anos. Sinto falta, sinto saudades dos amigos. Com meus ex-companheiros tenho contato por um grupo de WhatsApp, mas percebo que tenho que voltar e assim o farei o mais breve que puder”, enfatiza. Ressalta, ainda, a amizade que persiste com Rodrigo Posso (uma pessoa diferenciada, do bem e grande credibilidade”), assim como o fisioterapeuta Geraldo Testa (figura humana excelente, um lutador, que agora formou-se e dará sequência a uma carreira brilhante”), dentre outros, ao lado de ex-colegas de Grêmio e de Corinthians. Além do destemor e do trabalho de construção do projeto de Itair Machado, ele ressalta o apoio da Usiminas e de empresários na ascensão do Ipatinga ao longo de vários anos.
Sobre o momento atual e o futuro do clube, ele só deseja sorte, lamentando os problemas dos últimos anos, porém sabendo que já passou e é hora de um recomeço. Ressalta que o projeto da SAF para os clubes de futebol, de uma maneira geral, não salva uma má gestão, pois os clubes brasileiros chegaram neste ponto exatamente pela má gestão; ela, entretanto, pode melhorar a possibilidade de uma boa gestão, pelo fato de o clube passar a ter um dono, e este dono não vai roubar dele mesmo. É muito diferente do modelo atual de associação. A SAF de um clube grande, entretanto, será bem mais forte do que de um clube pequeno, pela razão óbvia do maior investimento”, ressalta o ex-jogador, que também fez 161 jogos com a camisa do Corinthians e atuou alguns anos como comentarista do Sportv.
Paulo Sérgio/Divulgação
Recordista de jogos pelo Ipatinga, Rodrigo Posso fixou residência na cidade e comanda a sua escola de futebol, com centenas de alunos
A muralha” Rodrigo Posso 
A outra referência da história do Ipatinga é o goleiro Rodrigo Posso Moreno, com 47 anos recém-completados. O paranaense da pequena Moreira Sales é recordista de atuações com a camisa do Tigre (217 partidas em oito temporadas), se identificou tanto com o clube e a cidade que acabou fixando residência aqui, onde constituiu família (casado com Lucilene Torres, tem os filhos Letícia e Rafael). Depois de deixar os gramados, chegou a ser dirigente do Tigre por pouco tempo, foi treinador do Trio FC (hoje Boston City) igualmente por breve período, mas se encontrou mesmo na condição de proprietário e comandante da sua escola de futebol RPS, renomada na região, em Minas Gerais e noutros estados.
Posso recorda que foi campeão da Taça Minas Gerais em 2004, campeão mineiro do interior em 2000, 2001 e 2006, campeão do Módulo A em 2005, vice estadual em 2006 e terceiro colocado na Copa do Brasil neste mesmo ano, titular no acesso à Série B em 2007 e campeão do Módulo B em 2009. Para ele, não há como negar que o jogo da vida” foi a final do Mineiro de 2005, com título no Mineirão, contra o até então invicto Cruzeiro, com mais de 50 mil torcedores.
O goleiro, porém, ressalta outras atuações inesquecíveis quando fez, segundo ele mesmo diz, defesas que até Deus duvida”. Como diante do Brasil, em Pelotas-RS, contra o Criciúma, em Santa Catarina e um jogo de acesso de divisão contra o Marília, no Ipatingão, todos pelas competições nacionais.
Há também uma defesa de pênalti, pela Copa do Brasil de 2006, no Ipatingão, cobrado pelo centroavante Kléber, do Santos, então treinado por Vanderlei Luxemburgo, que representou a eliminação do clube paulista daquela competição. E completa: Uma defesa magistral, no jogo de ida da final de 2006, no Ipatingão, em lance do atacante Elber, do Cruzeiro, lance registrado em fotografia do saudoso Sérgio Roberto de Oliveira, que guardo com muito carinho para sempre”.
Sobre os 25 anos do Ipatinga, Rodrigo Posso realça: Temos uma história bonita junto com o clube. O Ipatinga representou uma nova oportunidade, depois de surgir no Cruzeiro; foi um tempo de construção, do clube e de minha carreira. Creio que ajudei a criar uma marca para cidade que é o Ipatinga Futebol Clube, reconhecido e conhecido em qualquer lugar que a gente vai no Brasil”, pontua.
Rodrigo Posso fala também que foi muito bacana este tempo, esses anos de muito trabalho no Ipatinga; tive muito reconhecimento, sou grato a todos por isso. Tive a oportunidade de ser o melhor goleiro do estado em duas temporadas, concorrendo com os melhores do país, como Fábio, Velloso e Diego Alves, dentre outros”.
E concluiu afirmando: sigo torcendo para que o Ipatinga prossiga em sua história bonita, a realização do sonho e as portas abertas para muitos garotos e profissionais já com a carreira em andamento. Esse meu sonho foi realizado, agradeço a Deus, a todos que me apoiaram e à cidade que me recebeu e me acolhe sempre de braços abertos, um projeto que dei sequência em minha escola de futebol RPS”, concluiu o ex-goleiro, que também em muitas oportunidades foi o capitão do time.
Uma história de sucesso e de revelação de talentos
Arquivo DA
Ney Franco, que mais tarde treinou Flamengo, São Paulo, Botafogo e seleção brasileira Sub-20, decolou sua carreira com o título mineiro de 2005

O Ipatinga FC foi fundado por Itair Machado de Souza (presidiu a agremiação até 2012), um filho da cidade, de origem humilde e criado no bairro Veneza II (foi engraxate até os 12 anos), que tentou ser jogador atuando na base do Atlético, porém aos 20 anos já dedicou-se à vida empresarial.
Sonhou em criar um clube profissional em Ipatinga e assim o fez, com apoio de desportistas como Gercy Matias, então presidente do Novo Cruzeiro Esporte Clube, de Cosme Matos e Ademar Teodoro (ex-dirigentes do mesmo Novo Cruzeiro), do ex-presidente da Usiminas Rinaldo Campos Soares, de diversos empresários da cidade e do então prefeito Chico Ferramenta (PT). O projeto logo ganhou corpo e apoio da população, a ponto de o Tigre ser um dos maiores símbolos da cidade, dentro ou fora de Minas Gerais.
O Ipatinga já jogou todas as divisões de acesso e a divisão principal do Campeonato Mineiro. Foi campeão da Segunda Divisão em 2009, da Terceira Divisão em 2017, campeão da Primeira Divisão em 2005 (sua maior glória), vice-campeão da Primeira Divisão em 2002, 2006 e 2010, campeão da Taça Minas Gerais em 2004 e 2011, Campeão Mineiro do Interior em 2000, 2005, 2006 e 2010, terceiro colocado na Copa do Brasil em 2006, disputou a Série A do Brasileirão em 2008 depois do vice-campeonato da Série B no ano anterior. Tem mais de 250 jogos em competições nacionais, outras centenas nos certames de Minas Gerais.
O Ipatinga já teve mais de 40 treinadores no seu comando, com a marca de ter revelado ao mundo Ney Franco, bem como Ney da Matta e dirigentes como Amarildo Ribeiro e Carlos Oliveira. Por diversas vezes lotou todos os lugares do Ipatingão em seus jogos e continua como um dos orgulhos da cidade, ainda que na última década houvesse uma decadência técnica, com recomeço ano passado com a ascensão novamente ao Módulo A do Estadual, onde permanece após a disputa da edição 2023.
No histórico jogo final do Campeonato Mineiro, dia 17 de abril de 2005, no Mineirão, vencido por 2 a 1 (gols de William e Leo Mineiro, contra um de Fred), o Ipatinga do técnico Ney Franco alinhou: Rodrigo Posso, Luizinho (Leo Silva), Irineu, William e Beto; Fael (Mancuso), Paulinho, Leandro Salino e Leo Medeiros; Kanu e Walter Minhoca.
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Christiano Trabach (tico)
23 de maio, 2023 | 08:06Excelente reportagem. Tempos bons que podem voltar.”