12 de maio, de 2023 | 13:00

Opinião: Sobre liberdades, vaidades e ladrões

Neto Medeiros *


Gostaria de saber das coisas. Como as pessoas estão cheias de achismos, como não há curso de escutatória e só oratória, como o Google e as mídias sociais transformaram o tio do WhatsApp em pós doutor em geopolítica, virologias e afins. Mesmo assim, tenho consciência de minha ignorância. Sou quase um terraplanista.

Ainda assim, será que era tão difícil prever as recentes denúncias sobre jogadores corrompidos pelas jogatinas? De acordo com matéria do site Sambafoot, 12 times da série A têm o patrocínio máster dedicado a casas de apostas virtuais. Outros quatro são patrocinados em outros espaços. A série B é batizada com o mesmo patrocinador master do Galo...

Em 2005 houve anulação de jogos por causa da mesma coisa. Ninguém foi preso. Nem no incêndio no Ninho do Urubu. Pipocam lances bizarros e suspeitas pelas mídias sociais. Até o futebol a galera conseguiu destruir, ainda que tenha jogos todos os dias da semana. Por que será?

Diante de minha ignorância, aqui reafirmada, será que é tão difícil perceber que a ganância sempre vai resultar em mer**a? Jogadores que ganham bem, profissionais bem remunerados, que se vendem da forma mais vil. É o exemplo cristalino de alguém que não respeita o ofício. Avacalham o jogo em detrimento de mais dinheiro.

É assim também em nossa profissão. Muitos de nossos colegas, que já ganham bem e conseguem influenciar milhões de pessoas, se vendem e alteram os fatos. Não tentam. Fazem “na tora”, a tática da comunicação nazifascista de repetir mentiras para torná-las verdade.

O debate em torno da regulamentação da mídia, seja ela qual for, é tão óbvio que fica difícil ficar repetindo. Por que não avançamos?. Até as plataformas agora cismaram também em falar que é censura. Insistimos em ficar discutindo o sexo dos anjos, num looping interminável de falácias, anedotas, postagens e repetições, como as convocações do Flávio Dino, que sempre volta pra falar as mesmas coisas. Como as perguntas pros jogadores quando saem dos jogos, como o dia que sucede a noite, como os acidentes de trânsito, como o genocídio do povo preto, como as agressões e extermínio da população LGBTQIAP+, como tantas e outras coisas...

“É o exemplo cristalino de alguém que não respeita o
ofício. Avacalham o jogo em detrimento de mais dinheiro”


Será que é difícil perceber que a elitização e a supermonetização no futebol iria acabar com a essência da peleja? Não se trata de ser comunista, mas apenas enxergar o óbvio. O dinheiro tem que ser mesmo a maior mola propulsora das pessoas? Das sociedades?

Por isso que muita gente não consegue entender o modo de vida em Cuba ou em alguma tribo indígena que ainda não foi exterminada nesse país. O que foi feito aqui na pandemia e com o povo Yanomami era para ter colocado muita gente atrás das grades. Mas nada disso aconteceu. Em vez disso, discute-se o superficial e muda uma ou outra coisa pra continuar tudo do mesmo jeito.

Mesmo do alto de minha oligofrênica forma de viver, ainda assim, me causa estafo as coisas que estão diante dos meus olhos. Queria ser ainda mais alienado, bitolado, anticiência e adorador das cifras. Dá angústia ver tanta injustiça, desigualdade social e maiores burrices que as minhas...

Pra terminar, as utopias existem como um alvo, porque a liberdade não existe, por motivos também óbvios. E aí discutir filosoficamente sobre isso é impossível nessa coluna. Talvez num livro. Por isso passa da hora de regulamentar a desinformação.

Notícia do G1, publicada no dia nove de maio relata que “Osil Vicente Guedes, de 49 anos, morreu após ser brutalmente agredido e vítima de notícias falsas sobre ter roubado uma moto em Guarujá, no litoral de São Paulo. O homem era dono de uma empresa de reciclagem na cidade e tinha um filho de nove anos”. O dono da moto confirmou pra polícia que havia emprestado a moto pro Osil, que segundo ele, era uma pessoa “trabalhadora” e que “não se metia em confusão”.

Ou seja, além da ganância, a ignorância também causa danos irreversíveis. As pessoas ainda não se deram conta de que os devaneios publicados no grupo da família, podem causar muita desgraça.

Tão óbvio. E barato. Aliás, pratico uma coisa trivial. Talvez por ser jornalista também. O mínimo né!? Sempre que me deparo com uma manchete meio sem nexo, vou atrás de checar. Simples. Mas o afã é de compartilhar. Porque a parada mexe com as emoções. Racionalizar é difícil. Mesmo diante de nossa passionalidade, boçalidade e melindres, ainda assim, é mais que preciso. Pra ontem.

* Jornalista, Ilustrador e mestre em comunicação

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Mak Solutions Mak 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Tião Aranha

12 de maio, 2023 | 22:49

“Bom texto, que sempre se destaca pela liberdade de expressão de qualquer escritor que busca sua independência através da informação-, num país que nem sempre todos podem falar o que querem e que precisa ser falado, /indiferente de de ter ou não ter qualquer ponto de vista. O importante é a lucidez com que colabora com a cultura, sendo ou não "terraplanista". Enquanto isso, a esquerda que muitos pensavam que já estava morta, sepultada, não estava, simplesmente trabalhava silenciosa como as formigas o fazem nas galerias subterrâneas do poder; ou mesmo igualmente as abelhas seguindo toda uma teia 'da hierarquia e da organização partidária'. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

12 de maio, 2023 | 13:36

“Artigo excelente! Parabéns!”

Envie seu Comentário