16 de abril, de 2023 | 09:00

Duas pessoas do Vale do Aço são vítimas do golpe do empréstimo consignado via “kit fraude” e aguardam por justiça

Tiago Araújo - Repórter do Diário do aço
Divulgação/USP
O golpe do empréstimo consignado pode causar sérios prejuízos financeiros às vítimas O golpe do empréstimo consignado pode causar sérios prejuízos financeiros às vítimas

Uma forma de golpe de empréstimo consignado, que ocorre por meio da obtenção ilegal de dados pessoais de aposentados e pensionistas, tem se tornado cada vez mais frequente. Nessas últimas semanas, foram divulgados na mídia diversos casos desse tipo de crime no país, em que os estelionatários compram um conjunto de informações pessoais na internet, chamado de “kit fraude”, para aplicar o golpe.

No empréstimo consignado, o valor das parcelas é descontado diretamente na folha de pagamento ou do benefício pago pela previdência. Com isso, as taxas de juros costumam ser menores.

Em entrevista ao Diário do Aço, a advogada ipatinguense Lívia Louzada, que atua na área de Direito Trabalhista e Previdenciário, contou que trabalha em dois casos de pessoas da região que foram vítimas do golpe de empréstimo consignado via “kit fraude” e batalham na Justiça pela devolução dos valores e por outros direitos. Na estimativa dela, há muito mais pessoas do Vale do Aço que devem ter sido vítimas desse golpe do empréstimo.

Vítima
Segundo a advogado Lívia Louzada, uma das vítimas do golpe é um homem aposentado de 75 anos, morador do bairro Veneza, em Ipatinga. Foram feitos empréstimos consignados de mais de R$ 60 mil em nome dele, sem a vítima saber, em várias instituições financeiras. “Os descontos em seu benefício tiveram início em 2007, mas só foram descobertos, por acaso, em outubro de 2022, quando eu estava olhando os extratos dele por causa de outro caso e percebi os descontos frequentes em sua conta. A partir daí, em novembro de 2022 conseguimos uma tutela de urgência antecipada na Justiça e os descontos foram suspensos, mas ainda estamos batalhando pela devolução dos valores e pela indenização”, contou.

Acamado
A advogada também ressaltou que nos contratos de empréstimo consignado do homem de 75 anos constavam que ele havia assinado. “No entanto, ele é acamado há mais de dez anos. Não tinha condições de ir ao banco assinar os documentos. Mas as instituições financeiras tinham todos os dados pessoais dele”, afirmou.

Outro caso
A outra vítima citada pela advogada é uma mulher de 52 anos, também aposentada, moradora do bairro Petrópolis, em Timóteo. Em novembro de 2022, foi feito um empréstimo consignado no nome dela em uma instituição financeira, sem seu conhecimento, no valor de R$ 2.432,84, para ser descontado em 84 parcelas de seu benefício. “Em janeiro deste ano ela descobriu o empréstimo consignado. Os estelionatários tiveram acesso a vários dados pessoais dela, como fotos do rosto e documentos para fazer o empréstimo. Agora ela recorre à Justiça para resolver esse problema o quanto antes, de modo que consiga reverter o prejuízo financeiro”, contou.

Demora
Lívia Louzada também destacou que é comum nesses casos que a vítima demore a descobrir o empréstimo consignado feito em seu nome. “Como só é possível ter acesso ao extrato do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) indo à unidade ou acessando pelo site ou aplicativo, pouquíssimos aposentados fazem isso, então é descontado sem eles saberem, ainda mais que a parcela do empréstimo consignado é baixa”, explicou.

Como funciona
De acordo com a advogada, o golpe do empréstimo consignado por meio do “kit fraude” ocorre quando os criminosos utilizam informações falsas e/ou verdadeiras, obtidas ilegalmente, por meio do vazamento de banco de dados, que podem conter dados pessoais, documentos originais e até mesmo selfies das vítimas com documento de identificação ou uma biometria facial, que serve como assinatura eletrônica para contratos de crédito. “Se for vítima, é importante agir rapidamente para minimizar os danos e evitar que a situação piore ainda mais”, salientou.

Medidas
Segundo a advogada, as medidas que podem ser tomadas pela vítima são: “entre em contato com a instituição financeira, informando imediatamente que não solicitou o empréstimo e solicite o cancelamento. Registre um boletim de ocorrência e guarde uma cópia do BO, pois ele será necessário para outras ações. Alerte os órgãos de proteção ao crédito, como Serasa e SPC (Serviço de proteção ao crédito), que foi vítima de fraude e que não reconhece o empréstimo. Caso necessário, consulte um advogado para saber como proceder em relação ao empréstimo e para avaliar se há possibilidade de recuperar o dinheiro ou buscar indenização pelos danos causados”.

Cuidados
Em relação às dicas para evitar a fraude no benefício, a advogada apontou as seguintes: “atualizar o aplicativo MEU INSS, solicitando o bloqueio das solicitações de empréstimos consignados; Não aceitar cartões oferecidos via SMS; Conferir sempre o extrato bancário; Não compartilhar informações com desconhecidos; Não fornecer informações pessoais por WhatsApp ou SMS; Nunca assinar um documento sem ler; Evitar ir a agências bancárias sozinho, sempre que possível levar alguém como acompanhante”.

Conforme Lívia, sempre houve casos de fraudes envolvendo empréstimos consignados, porém, com o avanço da tecnologia, as fraudes vêm se intensificando cada vez mais. "Vejo isso pelo grande número de reclamações que estão chegando até mim. Portanto, se você é aposentado ou se conhece algum, oriente a estarem sempre consultando o extrato de seus pagamentos", finalizou.
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