04 de abril, de 2023 | 14:00
Opinião: Desvarios de outono...
Nena de Castro *
U-la-lá, março se foi sem grandes tormentas a não ser as lembranças cruas de um tempo de medo. Sempre há uma recordação ruim atravessando as noites e dias, a gente tenta pensar em outras coisas, sufocar a voz do horror que se viveu, do tempo cinza e chumbo que nos oprimiu...Ainda há tolos, ainda há cabeças que tentam desenterrar o ovo da serpente augurando males e maldades das quais sequer a Sibila escapa. Cumpre exorcizar os fantasmas e lutar pela vida, como uma casa cujas janelas e portas ficam abertas no afã de receber os raios do sol e o perfume das rosas silvestres...Março se foi sem fechar o verão, não houve chuvas aqui, no entanto ontem, nesse entrar de abril, as gotas benfazejas penetraram o solo...
As coisas andam estranhas nesse velho mundo sem porteira com adolescentes sem sonhos quebrando o ciclo da vida, sem tempo para ver os raios de sol sobre as encostas, o cheiro da terra, as plantas deixando o verão ir embora e se acomodando no outono, preparando-se para os tempos do inverno, quando há um dormir, um recolhimento, uma certa madorna de preparo para a explosão irreversível de sons, beleza, murmúrio das águas e tudo o mais que faz parte da Primavera.
A vida e seus mistérios, a vida e suas loucuras, a vida e as dores, a vida e sua beleza, a vida... No risco do voo dos pássaros, pensamentos pegam carona, desejos cruzam os ares e tudo deságua no mar infinito.
Ínfimos somos ante a grandeza da carruagem dourada do Tempo, nela gostaríamos de embarcar e quiçá detê-la ante o mais lindo amanhecer, com nuvens de algodão sendo transformadas em linha, a linha do Destino com a qual brincaríamos, desfazendo os nós da nossa sina.
As uvas esperam se tornar vinho, a semente espera se tornar um embrião que rompa o ventre da terra e se mostre bela ao sol.
Os sonhos vão subir ao céu e voltar como chuva serôdia, haverá abundância de grãos e jamais se ouvirá a palavra fome pois os campos transbordarão de grãos que serão de todos, fraternalmente distribuídos. E sem fome, não haverá guerra, todos estarão pensando no outro e o egoísmo será varrido da face da Terra. Então a serpente não botará seus ovos malignos, sumirá, e o firmamento será radioso sobre o solo fecundo e um canto será ouvido em todas as partes do mundo, falando em irmandade, alegria e paz!
Ah, a chegança do Outono me enche de esperança e ouso pensar em coisas boas, em que pese o medo dos idos de março”, dos homens maus e ambiciosos e das bruxas más que querem reviver o ódio. Que haja progresso e bonança. E nada mais digo, a não ser que Raoni e Yara, netos de Marta Godoi me inspiraram essa crônica. Certas velhinhas caducas ainda se permitem sonhar...
* Escritora e encantadora de histórias
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Tião Aranha
05 de abril, 2023 | 12:58Mesmo sendo Deus, como pássaro ferido, momento a momento, Cristo sempre optou por viver no chão caminhando ao lado dos homens. Em tom de igualdade agradeço ao especialmente meu amigo Gildazio pelos elogios. Nossa ideologia é bem diferente da dos Partidos, resumida nas três palavras: Solidariedade, despojamento e compaixão. O recente massacre de crianças indefesas agora de manhã em Blumenau é prova que nossa gente está sujeita a novas campanhas de vigilância e a novas ondas abertas de perseguição. A luz da esperança no horizonte só tremula, mas devemos sempre orientá-la, alimenta-la e protege-la. Na certeza que essas circunstâncias são todas passageiras. Conforto às famílias enlutadas.”
Gildázio Garcia Vitor
04 de abril, 2023 | 22:49Sr. Tião Aranha, o seu belíssimo comentário me trouxe à lembrança, outro poema de Thiago de Mello:
"Sei que é preciso sonhar.
Campo sem orvalho, seca
a fronte de quem não sonha.
Quem não sonha o azul do voo
perde seu poder de pássaro.
[ ... ]
É sonhar, mas cavalgando
o sonho e inventando o chão
para o sonho florescer".”
Tão Aranha
04 de abril, 2023 | 21:42Bom texto, é verdade que o referido poeta citado acima quando escolheu a morada definitiva da Floresta amazônica ele já tinha a larga convivência do ser humano na vida em Sociedade - própria das pessoas dignas quando faz jus ao optarem pelo ofício de cuidar da Saúde da mesma sem visar lucro algum . Mas, é preciso sonhar, tomando como base o exemplo da Paz oferecida de graça pela Natureza. De Cecília Meireles a Rubem Alves o quê se vê mesmo é só poesia. Risos.”
Gildázio Garcia Vitor
04 de abril, 2023 | 17:08? Bugra velha, mais uma vez, me encantaste com a sua estória. Me trouxe à lembrança o Grande Thiago de Mello e uma dos seus lindos poemas: "Para repartir com todos".
Parabéns! Obrigado!”